Acabou que o dia amanheceu um pouquinho mais firme do que o dia anterior e o sol até estava se atrevendo a lançar alguns raios de luz sobre o céu.
- Você quer apostar quanto que dentro de cinco minutos, Joshua vai querer entrar no lago? - Tonya lançou, me olhando por cima de seus óculos de sol super estilosos que ela insistia em usar mesmo não havendo motivo o suficiente para aquilo.
- Ele vai congelar se fizer isso. - o clima estava úmido. Não parecia lá muito propício para um mergulho.
- Você que pensa. - ela disse e continuou encarando a vista com aquela pose de quem sabia muito bem das coisas.
Mesmo quando não queria, Tonya sempre tinha aquele timbre de alguém que já tivera inúmeras experiências porque já passara por inúmeras situações. Ela se mostrava muito mais madura pela sua idade. E eu gostava disso nela; me sentia segura perto dela. Ela dava um conforto e estabilidade, porque eu sabia que sempre que eu precisasse de um conselho sobre uma situação muito mirabolante, ela o teria.
Quando eu menos esperava, ouvi a voz de Joshua vibrando:
- EI NORMAN, VAMOS DAR UM MERGULHO? - Norman estava acabando de sair da casa enquanto comia um sanduíche
Ele olhou para o lago, olhou para Joshua tirando a camisa e depois tornou a olhar para o lago:
- Você é doido?
- Ele faz isso toda vez. - Tonya complementou e eu fiquei boquiaberta quando o irmão dela mergulhou.
E foi um mergulho muito bonito. Eu diria que até artistico.
- Ele não sente frio? - Norman perguntou, se juntando a nós duas.
- Pior que sente. Ele vai sair de lá todo roxo. Nunca dura muito a euforia dele, mas ele insiste em fazer isso toda vez. - justificou.
Norman deu uma breve risada.
Olhei para o irmão dela que parecia um patinho feliz no lago.
Sorri. Foi imprescindível.
Eu estava feliz. Verdadeiramente feliz.
E eu sabia disso porque já faziam dias que aquela sensação boa sondava o meu peito.
Não era como uma euforia exarcebada; era mais como uma contida chuva que titubeia no telhado enquanto você ainda está pegando no sono.
Você escuta, sabe que está lá e relaxa, porque é agradável.
Agradeci a Deus mentalmente. Aquilo era tudo de que eu precisava.
Eu achei que só poderia ficar mais feliz se a minha mãe estivesse ali.
Eu nunca imaginei lá atrás que eu estaria tendo um momento tão gostoso como aquele.
- O que vamos ter de jantar hoje? - Tonya cortou minha belíssima linha de raciocínios para aquilo.
- Não faço a minima ideia. - respondi.
- Eu não sei sobre a janta, mas Olivia faz um bolo de chocolate intensamente bom. - primeiramente, Tonya explodiu numa risada - muda - e depois seu rosto de emoldurou de novo:
- Como assim eu não sabia disso? Como você sabia disso? - acho que ela sentiu um leve ciúmes de Norman por comer meu bolo de chocolate primeiro do que ela. Ainda mais porque, ela era intensamente apaixonada por chocolate.
- Por que você riu? - perguntei de alegre.
- Os elogios de Norman para você são muitos fofos.
- Daí você ri? - eu não entendi.
- Aquela foi a minha risada fofa, Olívia! - eu assenti, fingindo ter entedido alguma coisa para ela não se irritar tão cedo.
- Eu descobri o bolo da Forbes num dia que ela fez um para o Ian. É absurdo de tão bom. - Tonya fechou os olhos por um segundo mais longo, provavelmente imaginando o gosto.
- Você vai fazer né, Olivia? Por favor! - juro que ela começou a sacudir a manga da minha blusa como uma criança mimada em um supermercado - e nem precisava de tanto .
- Tem cacau em pó? - ela assentiu.
- Então eu faço. - o sorriso dela se assemelhou muito com o do gato de Alice.
- Agora, posso fazer uma pergunta indiscreta?
- Claro, Senhor Educadinho. - ela debochou.
Norman só sorriu:
- Vocês pagaram muito caro nessa casa?
Tonya olhou em volta, como que para se lembrar do fato:
- Na verdade não faço a mínima ideia do quanto tenha sido. - ela considerou. - Minha mãe comseguiu do meu pai no divórcio. Foi a parte dela.
- Você também não tem um pai legal? - Norman ficou impressionado.
- Acho que a única sortuda aqui é a Olivia. - Tonya disse, mas não havia nada de presunção em sua voz. - Mas por que a pergunta?
- Eu achei esse lugar o máximo. - ele olhou em volta, todo sonhador. - Um dia terei uma casa igual a essa.
Minha melhor amiga sorriu:
- Joshua diz que moraria aqui sozinho. Levando uma vida "isolada da sociedade porque ela é má". - ela revirou os olhos. - Eu não devia ter levado ele para ver Coringa, gente. Acabei com os planos do menino de cursar recursos humanos.
Nós rimos:
- Falando nisso, daqui a pouco ele morre lá dentro. Congelado. - relembrei.
- É mais fácil eu morrer num verão de trinta e cinco graus.
Como se ouvisse os nossos comentários, ele saiu correndo do lago em direção ao pequeno banheiro que havia do lado de fora da casa.
- Pronto. Agora ele vai querer fazer uma fogueira.Os meninos estavam jogando video game, enquanto eu tentava me achar na cozinha.
- Hello, sunshine! - Tonya apareceu. - Vim ver se precisa de ajuda com alguma coisa. Coisa básica tá, porque quem cozinha aqui é o Joshua. Eu no máximo sou uma ajudante de cozinha. - eu sorri.
- Graças a Deus você apareceu. Estou toda perdida. Pode me ajudar a organizar o Mise en Place?
- Falou, Jacquan. - eu ri. De novo. - Vai falando do que precisa e eu pego.
O que eu estava patinando para fazer há dez minutos, ela fez em no máximo dois:
- Pronto? - eu assenti e ela se sentou.
- Obrigada. - comecei a mistura.
De repente algo me veio na cabeça:
- Tonya, preciso te perguntar algo. - fui até as portas da cozinha e as fechei porque os meninos estavam ma sala e apesar de estarem muito concentrados, poderiam acabar ouvindo.
- E lá vamos nós. - eu me voltei à bancada, onde preparava a massa do bolo. - O que foi?
- Você já namorou, né?
- Sim. Algumas vezes. Por quê? - a sobrancelha dela se ergueu levemente; era um gesto que eu julgava acontecer sem que ela percebesse, mas que ocorria quando ela estava levemente curiosa.
- Eu queria te perguntar algo sobre isso.
- Ok, acho que entendi. Você está fazendo tanto rodeio que está na cara o assunto.
- Ah, mas como você já entendeu? Eu nem te expliquei ainda.
- É sobre primeira vez, né?
- NÃO! -fiquei instataneamente vermelha. Podia sentir minhas bochecas queimarem e me lembrei na época que aquilo acontecia por causa de Norman. - Não. - controlei o tom porque percebi que quase havia gritado. - Não tem nada a ver com isso.
- Então por que tanto rodeio?
Nem eu sabia ao certo o porquê.
- É que, eu não me sentia nenhum pouco parecida com como estou me sentindo agora quando eu namorava o Will. - Tonya assentiu, prestando atenção. - Você já namorou alguém que achasse que valia muito a pena, tipo a ponto de começar a pensar no futuro com essa pessoa?
O rosto de Tonya foi ficando mais sério, como se ela tomasse um grau de responsabilidade pela conversa.
- Acho que quando você namora, sempre passa pela sua cabeça alguma consideração sobre o futuro, a diferença é o quão sólido isso é. Eu só namorei idiotas. Como diz a minha mãe, tenho dedo podre. - ela deu um sorriso muito infeliz.
- Eu não pensava nessas coisas quando eu estava com o Will. E ele também não alimentava nenhuma expectativa nesse sentido.
- Que coisas? Que sentido?
- De nós termos um futuro juntos, sabe?
- Olivia, o que o Norman te disse? - ela se empolgou daquele seu jeitinho característico.
- Ele dá alguns sinais de que pretende estar comigo daqui a bons anos.
- Eu super acho que vocês vão se casar, ter dois filhos, três cachorros diferentes e morar numa daquelas casas lindas com um jardim bonito de morrer. - eu sorri, porque consegui visualizar tudo aquilo. - Vocês são a minha expectativa de casal e isso me lasca, porque vocês são um padrão muito alto para a maioria dos casais, sabe?
- Obrigada? - aquilo era um elogio?
- Mas por que você está assim receosa, Ollie?
- Nós não temos nem seis meses de namoro e eu estou me sentindo de um jeito muito particular quando é sobre ele. Tenho medo de estar antecipando demais as coisas. De estar acelerando processos, sabe?
Tonya deu uma gargalhada digna de um prêmio Nobel de tão boa que foi.
- Olivia, demorou quatrocentos anos para vocês ficarem juntos. Foi tanta enrolação que se vocês tivessem casado no dia seguinte ao dia que iniciaram o namoro, seria completamente justificável. - o sorriso ainda estava por lá.
- É tão intenso que ás vezes me assusto. Não sei o quão saudável é isso. - continuei.
- É saudável sim. E a intensidade é a correta. Eu diria que isso se trata de algo muito mais sério do que uma paixão. - ela me deu a dica. - Até porque euforia não sustenta nada; a relação de vocês dois foi construída bloco por bloco, Ollie. Ela não poderia ser mais sólida.
- Às veses eu penso que... Norman viu o pior de mim. - dei aquele mesmo sorriso infeliz, porque eu não me orgulhava nenhum pouco daquilo. - E isso é um bom sinal.
- É um ótimo sinal. Saiba que você tem ao seu lado uma pessoa muito verdadeira; não é todo mundo que estaria disposto, sabe? - eu assenti:
- Sim, eu sei. - em seguida, me lembrei de Will. - Obrigada. De verdade. - fui a abraçar.
Tonya me deu um abraço gostoso como sempre, mas em seguida, me comentou:
- Agora pare de choramingar por nada e trabalhe que eu quero bolo. - eu ri, a soltando. - E a panela de brigadeiro é minha.
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EAT ME
DiversosComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...