69 - Como é Estar Apavorado Sobre o Amor?

4 0 0
                                    

     Dizer que o bolo fez sucesso não descrevia um décimo da realidade.
     Eu não comi o bolo. Não estava pronta para farinha, mais gordura, etc. Mas eu admitia que ficou muito atratativo.
    Joshua comeu um pedaço e Norman outro. O resto do bolo, eu sinceramente preciso dizer o que aconteceu?
    Nós estávamos preparando o café da manhã e os meninos tinham ido buscar lenha.
    Iríamos retornar logo após o almoço.
    Confesso que eu sentiria saudades e que assim que tivesse outra oportunidade, eu iria sem nem pensar duas vezes.
    Os meninos chegaram e eu caminhei até a sala:
     - Gente, o café tá pronto... Cadê o Norman? - estranhei porque Joshua estava sozinho.
     - Ele subiu correndo para tomar banho. Já adianto que o bicho está doido. - Tonya riu e eu não entendi nada:
     - Ele tá bem?
     - Tá. Só teve um momento de eureca, sabe? - ele colocou a lenha na lareira e começou a acender o fogo.
     Eu achei aquilo tudo muito estranho e resolvi ir checar com o próprio Norman.
     Subi até o andar que ficava os quartos e o banheiro e bati na porta.
     - Norman?
     - Oi amor? - ouvi sua voz, mas a porta ainda estava fechada.
     - Tá tudo bem?
     - Está sim. Eu só preciso fazer algo. - ele destrancou a porta. - Quero te mostrar uma coisa.
     - Ok. - eu assenti, um tanto perdida, mas aceitei.
     Norman me deu um sorriso que valia por umas mil constelações inteiras, pegou minha mão e me guiou junto com ele.
      Ele saiu me guiando escadas abaixo, numa agitação que estava se transformando em mútua, porque eu estava tão animada quanto ele para sei lá o quê.
      - Você não vai tomar café? - eu apontei a mesa com girassóis que acreditem ou não, Tonya fizera questão de montar. Eu nem sabia que ela tinha esse lado tão humano. E fofo.
      - Tomem quando chegarem lá. - disse o irmão de Tonya, se privilegiando das panquecas.
      Tonya entregou uma cesta na mão de Norman e eu a olhei estranho. O que era aquilo? Um complô?
     - Gente, eu não estou entendendo.
     - Mas você vai. - ela disse enigmaticamente e ficou sorrindo.
     Em seguida, arrancamos para fora e a partir daí, eu literalmente passei a me guiar por Norman, porque eu não fazia ideia da onde estávamos indo. Ainda mais porque ele estava me levando pelo meio do campo que acompanhava a casa do lago.
     - Amor, não querendo ser chata, mas eu estou perdidinha aqui.
     Ele parou por um momento, me olhou e sorriu franzindo o cenho por conta do sol. Me lembrei na hora daquela exposição de fotos que vimos. Eu queria ter uma camêra só para capturar aquele sorriso maravilhoso.
     - Mais cedo quando vimos pegar lenha, nós encontramos um lugar incrível. Na hora eu soube que você ia gostar e você precisa ver aquilo.
     Agora que eu tinha um contexto, as coisas ficavam melhores ainda. Continuei caminhando do seu lado por mais alguns minutinhos.
     O céu estava azul bem claro naquela manhã e o sol tentava interagir, mas ele não se sobressaia muito. Apesar disso, a temperatura estava amena.
     O campo tinha estágios. Partes dele continha uma grama alta que batia na minha cintura, mas a maior parte tinha um capim que batia na minha canela e não era nenhum pouco difícil de caminhar.
     - Juro que não estou perdido. - eu ri. Ele acabara de se entregar absolutamente do nada.
     - Eu até que estava comprando. Mas você se entregou. - comentei.
     - Na verdade, eu te enganei direitinho. - um sorriso logo veio me saudar novamente.
     - Ah é? Por quê? - parei na frente dele e o encarei.
     - Porque nós estamos quase chegando. - os olhos dele baixaram para a minha boca e ele me deu um selinho rápido e em seguida, me puxou para continuar a rota.
     Nós andamos mais uns dois minutos e nos deparamos com um tipo de revelo na paisagem:
     - Ok, nessa parte, temos que tomar bastante cuidado, porque é um pouco escorregadio e... - eu pulei.
     Deu certo e Norman me encarou de boca aberta:
     - Minha namorada é o homem aranha. - disse, sendo mais cuidadoso que eu durante a descida.
     Eu ri e acarinhei seu rosto:
     - Deixa de ser bobo! - nós demos as mãos de novo e continuamos caminhando. Logo entendi o porquê daquela caminhada toda.
     Ao longe no horizonte, eu já podia ver uma pontinha lilás se destacando da vegetação intrinsecamente verde.
     - É ali, não é? - eu apontei.
     - Sim. É exatamente ali. - apressei o passo, porque minha curiosidade só foi realçada.
     Assim que chegamos ao ponto tão esperado, eu suspirei, porque realmente era de tirar o fôlego.
     Era um ipê de folhagem lavanda. Ele era gigantesco e a sombra que ele produzia era tão grande quanto.
     Tive uma breve sensação de que Norman sempre me levaria aos lugares mais incríveis da minha vida.
     - Eu não sei nem o que dizer. - ele sorriu e eu refleti seu gesto.
     - Eu sabia que você ia gostar.
     - Acertou em cheio. - dei uma risada.
     - Quer fazer um piquenique aqui? - eu assenti e logo fomos nos organizando com a cesta e as outras coisas.
     O terreno era um pouco mais firme naquela região e o mato bem mais baixo, então foi fácil de estender a toalha e arrumar as coisas.
     Eu ainda estava deslumbrada com aquele ipê e estava olhando em volta, quando percebi que estávamos cercados de margaridas. Não era como se o campo estivesse exatente cheio delas, mas havia até que uma certa população espalhada por ali e aqui.
     Só achei aquilo mais incrível ainda.
     - Eu achei que essas árvores só existissem em filmes. - ele sorriu novamemte com o meu comentário.
     - É muito bonito como seus olhos brilham quando você fala. - e a pergunta era: por que mesmo depois de tanto tempo, ele ainda me fazia corar?
     Norman, começou a comer um dos sanduíches preparados por Joshua. Eu não queria ingerir carboidratos, então olhei em volta e achei algo que fosse ser mais tranquilo. Achei barrinhas de cereal.
     Depois de alguns segundos, tive uma sacada:
     - Ok. Posso saber o real motivo?
     - Real motivo? Do quê?
     - Você é um homem de propósitos, Norman. Eu sei que tem algo além dessa paisagem deslumbrante. - eu disse mordendo a barrinha.
     - Eu não consigo enganar você, não é? - eu neguei com a cabeça enquanto ainda sorria. - Eu estou com essa ideia já faz alguns dias, mas eu estava me questionando se era de fato correto falar sobre isso com você.
     Minha respiração acelerou do nada. Senti que eu estava tendo um daqueles picos de ansiedade dos quais Tatiana me falara. Mas dentre todos os outros, esse era o mais calmo de todos.
     - Eu falei com Deus. Ele me confirmou. - um sorrisinho tímido. - Não vou negar que estou apavorado, - uma risada daquelas tão espontâneas que te faz perceber o quão genuinamente apaixonado você está. - mas os planos dEle não se frustram, Forbes.
     Eu só assenti. Não confiava na firmeza da minha voz.
     - Eu sinto como se nós já tivéssemos passado por uma vida inteira juntos. - era recíproco; não poderia ser descrito de outra forma. - E eu sei que nós só temos alguns meses, mas sabe quando você tem certeza de certas coisas? - assenti novamente. - Então, eu me sinto assim.
     "As coisas até aqui não foram as mais simples ou as mais fáceis. Eu já te vi muito triste e eu já fiquei muito triste e toda essa experiência complicada que tivemos, me fez amadurecer em níveis que eu nem sabia que existiam.
     "Eu gostei de você desde o primeiro momento que te vi, Olivia. Não ache que isso foi uma daquelas coisas de filmes clichês e extremamente sensacionalistas. O que eu senti, foi um tipo de carinho com o qual eu nunca me deparei antes e eu não sabia de onde isso vinha, afinal eu nem te conhecia.
     "Só sei que quanto mais eu falva com você, mais isso evoluia e outros sentimentos iam aparecendo: respeito, admiração, interesse, atração, curiosidade, felicidade. Acabou que você formou um bolo no meu peito que era um compilado das melhores emoções e sentimentos que alguém poderia sentir e das melhores vontades que alguém poderia ter.
     "Fiquei apavorado na época, porque eu não sei lidar muito bem com mudanças e aquilo era totalmente novo para mim, mas sinceramente depois que tudo foi acontecendo, entendi que era um propósito de Deus.
     "Eu ia aprender a lidar com mudanças. E você literalmente me revirou de cabeça para baixo, Ollie. Eu mudei minhas concepções, meus hábitos. E graças a Deus por isso.
     "E lembra aquele bolo que começou com uma simples conversa sobre crianças e hábitos ruins? - eu sorri nesse ponto e já estava com as bochechas completamente varridas, e vermelhas - eu entendi o que ele era."
     - E o que ele é? - tive a coragem de perguntar.
     - Olivia Forbes, do primeiro instante até agora, o que foi construído não foi uma coisa fabulosamente eufórica. Não é só paixão. Assim como a nossa história, não é nenhum pouco simples. Tenho certeza que o que sinto por você é o mais puro amor. Eu amo você, Olivia.
     Minha boca foi de um 'O' de total surpresa para um sorriso que eu achei nunca ter dado na minha vida. Não pelo formato, mas pelo que ele trazia.
     Eu já sabia daquilo. Porque eu também me sentia assim. E ele já havia me dito aquilo há dias atrás, com o cinza de seus olhos; mas ouvir as palavras, me fez sentir tantos níveis de felicidade, que eu poderia inventar uma cor diferente para cada um deles e formar um arco-íris inusitado.
     - Norman, eu... Eu amo você. - no fim minha boca ficou aberta e só ar circulava, porque a intensidade daquilo era praticamente paranormal. Eu não sabia como lidar. - E eu já sabia disso há muito tempo, porque você é a melhor experiência que eu já tive. Eu tenho certeza que você foi um plano de Deus para mim, porque caramba! - eu gargalhei de nervoso. - Por mais que eu fugisse, todas as coisas sempre me levavam de volta para você; de alguma forma, sempre parava perto de você e por mais que eu tentasse evitar, eu sabia que amaria você muito antes de a gente ficar junto.
     "Eu estava morrendo de medo. Por conta das minhas últimas experiencias amorosas, porque era novo e por minha causa. Eu sempre acho que vai ser muita barra para você, mas Norman... - eu suspirei. - Você dá sempre um jeito de me fazer esquecer das minhas suspeitas e focar em todo esse carnaval veneziano que você causa".
     Ele sorriu e esse sorriso se transformou em uma risada que finalizou em um abraço aconhegante:
     - Você deveria ser escritora. Você fala coisas incríveis.
     - Eu só falo coisas incríveis sobre você, sobre o resto, eu nem tenho dicção. - ele riu.
       

     Aquele dia foi incrível. Eu me senti de uma forma diferente da qual estava acostumada. Era muito intenso, porque toda vez que eu achava que já estava acostumada com o que Norman tinha para mim, o panorama mudava e eu me sentia de uma forma nova.
     Nós fizemos nosso piquenique e depois nos deitamos e ficamos brincando de formar coisas com as nuvens.
     Nada planejado. Nada complexo. Mas era tudo o que eu precisava.

   
    
    
   
   
    
     
    
     
   
    

EAT MEOnde histórias criam vida. Descubra agora