- Você só pode estar de brincadeira!
- Você tem que se decidir, Tonya. Quando eu recusei o convite, você disse que eu não podia estar falando sério e agora que eu aceito, só posso estar de brincadeira. - ela gargalhou do outro lado da linha:
- Você não sabe o quão feliz eu fico com isso. - eu sorri. - Que horas ele vem te buscar?
- Como você sabe que ele vem me buscar? Eu não te contei essa parte.
- Mas é óbvio que ele vai. Não precisa nem dizer. Norman tem cara de cavalheiro. - ela rebateu, com todo o orgulho que tinha.
- Você não pode julgar as pessoas pela cara delas. Sabe disso, não sabe?
- Quando são julgamentos bons, posso sim. - era um caso perdido. Não dava para discutir com ela. - Então, que horas ele vem te buscar?
- Às sete e meia.
- Vou para aí às cinco e meia. - fiquei confusa.
- Por quê?
- Pra gente se arrumar.
- Ah, mas eu não sou aquelas meninas indecisas com roupa e nem nada. Já tenho tudo pronto...
- Olivia, isso é um baile. Um baile merece produção.
- Ok, então. - eu não discutiria.
- Até mais tarde.
- Até. - eu desliguei o celular e me levantei da cama, indo em direçao à porta. Quando eu abri, Ian quase caiu no chão: - Você estava escutando a minha conversa? - falei com um tom (falso) de indignação.
- Desculpa, Liv. Eu não fiz por mal, mas você parecia tão contente nessa manhã que eu queria saber o porquê. - ele disse com aquele seu tom de bom garoto.
- Eu vou ao baile hoje a noite. Com meus supostos amigos. - Ian abriu um sorrisão de uma ponta a outra e saiu pulando pelas escadas:
- Pai! Pai! Pai! A Liv vai ao baile com os amigos dela!
Papai recebeu Ian com uma expressão confusa no rosto:
- Quais amigos?
- Supostos amigos. - eu corrigi, descendo as escadas logo em seguida e os encarando. - O senhor não os conhece. São novos na escola.
- São meninos? - ele ergueu a sobrancelha e eu fui remetida àquela nostalgia onde papai sempre implicava com os meninos que eu tinha contato e mamãe sempre colocava mais lenha na fogueira enquanto ria.
- É uma menina e um menino. - ele apenas balançou a cabeça. - Tonya vai vir aqui para nós nos arrumarmos.
- O menino também vai vir? Eu posso brincar com ele? - Ian perguntou, extremamente animado.
Encarei papai que cruzou os braços e me deu um sorriso, esperando pela minha resposta:
- Ele vai vir, mas só para me buscar.- Ian ficou cabisbaixo.
- Hum. - foi tudo o que eu obtive de papai.
- Fique tranquilo. Não é nada demais. - afirmei, o dando um beijo na bochecha.Exatamente no horário combinado, minha campainha tocou e antes que eu pudesse alcançar o primeiro piso, Ian já havia atendido a porta e Tonya já estava entrando em casa:
- Olá! - ela disse animada, (não tanto quanto Ian, mas ainda assim, animada).
- Oi. - eu dei um sorriso. - Vejo que já conheceu o meu pequeno. - nesse momento Ian correu e me abraçou.
- Ah sim, ele é um amorzinho. Tudo bem, Ian? - ela fez um toquinho que ele respondeu com outro:
- Tudo bem e com você?
- Estou ótima. - Tonya sorriu para ele. - Eu trouxe as minhas coisas e acho que você pode usar algumas delas se quiser também. - ela tinha trazido literalmente uma mala daquelas de rodinhas. Aquelas que você compra quando vai viajar, sabe?
- Será que você está carregando um corpo ai dentro?
- Deixe de ser besta, Olivia. - ela desconsiderou completamente. - Onde vamos nos arrumar?
- No meu quarto. Que é lá em cima. Não faço ideia como você vai subir esse trambolho até lá. - encarei a mala mais uma vez.
- Acho que posso ajudar. - papai apareceu com um pano de prato no ombro.
- O senhor deve ser o pai de Olivia, o senhor Forbes? - Tonya tentou.
- Não seja tão formal. Me chamo Robert. - ele estendeu a mão para ela que a apertou:
- Sou Tonya Evergreen.
- É um prazer. - ele sorriu como sempre fazia de cortesia. - Deixa eu ajudar vocês. - papai levantou a bolsa e arregalou os olhos para Tonya: - Meu Deus, o que você está trazendo aqui?
- É que sou meia indecisa. - ela se justificou enquanto nós subíamos as escadas.
Depois de alguns segundos, papai depositou a mala no chão do meu quarto e automaticamente depois disso, deu uma alongada.
- Prontinho.
- Eu posso ficar aqui? - Ian perguntou, todo tímido.
- Filho, elas vão se arrumar e fazer todas essas coisas ritualísticas para bailes. - papai pousou a mão sobre o ombro do meu irmão. - Vamos lá embaixo preparar o jantar. Acredito que Tonya se juntará a nós...
Antes que ela pudesse abrir a boca, eu intervi:
- Na verdade papai, não vamos esperar a janta.
- Pior que é verdade. - ela concordou comigo a muito contragosto. - E eu só vou me arrumar e voltar pra casa.
- Achei que vocês fossem juntas.
- Ah, é que eu também tenho um irmão. E minha mãe restringe para eu não deixar o pirralho só. - eu a dei uma olhadinha discreta, porque eu não sabia daquela informação.
- É uma pena. Mas creio que não faltarão oportunidades. - meu pai deu de novo aquele seu sorriso cortês e dirigiu Ian para fora do quarto.
- Sua família é uma graça. - disse Tonya abrindo a mala e revelando muito mais coisas do que eu havia imaginado.
- Obrigada. - me juntei a ela, contemplando todas as coisas. - Você não tinha me dito que tinha um irmão.
- E ele terá que ir no baile. - Tonya disse como se aquilo não fosse nem minimamente relevante. - Minha mãe me obrigou.
- Calma, vamos aos poucos. - eu disse, tentando fazê-la recapitular.
- Joshua é mais velho que eu. Joshua está deprimido porque levou um pé da ex dele, líder de torcida. - ela me deu uma encarada, só fortalecendo seu ódio. - Minha mãe quer animá-lo.
- Líderes de torcida, hum?
- Vamos deixar essa história pra lá antes que eu me estresse mais ainda. Ao invés disso, vamos ver o que você tem guardado aqui. - sem aviso prévio, ela abriu meu armário e começou a bisbilhotar minhas roupas. - Caraca, você tem vestidos lindíssimos, Olivia.
- Esses foram a minha mãe que me deu. - eu disse, lembrando do quanto gostava deles.
- O que você separou para usar?
Fui até a cama e a passei a peça que eu usaria. Um conjunto de blusa e saia abaixo do joelho. Ambos eram de cor creme e a saia continha umas rendas na barrinha:
- Você não vai vestir isso, Olivia. - ela disse, assim que bateu os olhos na peça.
- Por quê?
- Porque isso é algo que minha vó usaria. Minha vó tem oitenta e dois anos. - ela analisou melhor a peça. - Na verdade, eu acho que nem ela usaria isso.
- O que tem de errado? É por que é abaixo do joelho?
- Não. Não tem nada a ver com cumprimento. Eu também não gosto de sair por aí mostrando minhas pernas. Se trata de não ter nada a ver com um baile de escola e nem com a primavera. - ela ressaltou e se voltou ao meu armário, enquanto passava as araras quase que aleatoriamente. Quase.
- Eu não tenho nada ideal para um baile...
- Sua mentirosa! - ela quase gritou, enquanto tirava um vestido meu bem antigo do armário.
Eu o achava o mais bonito dos que eu tinha. Ele era de um rosinha bebê bem suave e espalhado por todo o seu comprimento, haviam raminhos de flores variando nos mais agradáveis tons de rosa e vermelho com seus galinhos verdes. Ele ia até abaixo do joelho, com uma saia que era praticamente godê. Suas mangas eram longas e ele tinha um leve corte arrendodado no busto, porém não chegava a ser decotado; ainda havia uma linha que atravessava essa abertura, o fechando próximo ao pescoço. Mas ela era bem fina.
- Esse vestido é perfeito! - ela disse pulando enquanto o olhava. - Você tem que colocar ele.
- Faz muito tempo que não o uso. - eu disse, o encarando também.
- Eu não sei porquê.
- Não me sinto bem nele...
- Mas ele nem é curto.
- Não é por isso; é que eu não acho que o meu corpo fique legal nele. - eu disse, me sentando na cama.
Uma risada estalou, preenchendo todos os cantos do meu quarto:
- Um vestido como esse não vai ficar bem em mim, mas em você? Tenho certeza que vai ficar perfeito. - quando percebeu que não estava me convencendo, ela se ajoelhou na minha frente e juntou as duas mãos: - Por favor, por favor. Só prove. Se ficar feio, eu juro que falo. Sou a pessoa mais sincera que você vai conhecer na vida.
- Ok. - peguei o vestido e parti para o banheiro.
Se eu vestisse logo e ela visse o quão esquisito ele ficava em mim agora, ela desistiria.
Encarei meu rosto no espelho enquanto eu me trocava e por incrível que parecesse, não tive dificuldade com o zíper dessa vez.
Saí do banheiro e Tonya estava de costas para mim:
- Pronto.
Ela se virou e eu achei que talvez seus olhos estivessem brilhado.
- Você vai usar esse vestido e eu não quero ouvir mais nenhum comentário. - ela apontou meu espelho e eu neguei com a cabeça. - Você já viu como está linda?
- Vi, no banheiro. Até que não está tão ruim. - dei um sorriso.
- Obrigada por deixar de ser teimosa. - ela disse como se eu a estivesse dando canseira. - Vamos escolher as outras coisas agora.
E como eu não tinha escolha, deixei ela me guiar.
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EAT ME
RandomComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...