Achei ter passado cerca de umas duas horas saindo de um exame e entrando no outro. Não foi uma experiência nada agradável.
Eles ainda estavam inserindo nutrientes em mim através de IV. E graças a Deus, ninguém tinha falado de comida ainda.
Comida.
Era realmente estranho o fluxo de pensamentos que me vinham agora quando eu pensava sobre isso.
Ouvi batidas na porta e logo papai colocou a cabeça para dentro, como costumava fazer quando eu estava no quarto em casa.
- Você tem visita. - ele abriu a porta e em seguida, Ian entrou correndo e se lançou na cama junto comigo.
- Oi, meu ursinho! - o abracei, numa felicidade desenfreada. - Que saudade de você!
- Oi, Liv! - ele tentou me apertar mais do que eu estava o apertando, mas não conseguiu.
Eu estava muito feliz de o ver. Eu passara a noite toda pensando sobre como era estranho passar um dia inteiro sem falar com ele. Acho que aquilo nunca havia acontecido. Nós sempre estávamos juntos.
Comecei a me sentir extremamente emocional:
- Como você está? Como foi a escola?
- Ah, tá tudo bem. Foi legal. Eu e a Maya tiramos dez na atividade de matemática. - eu abri um sorriso tendencioso.
- Você e a Maya, hum?
- Para de me olhar assim. - meu sorriso só se abriu mais ainda. - Pai, fala para ela parar.
- Quem é a Maya?
- A futura namorada do seu filho. - respondi tranquilamente.
- Liv! - os olhos dele imediatamente arregalaram e logo ele foi ficando vermelho. Foi uma cena muito fofa de se assistir.
- Toda a novidade que você tem é que você tirou dez? Isso não é surpresa. - observei.
- Ah, eu achei um sanduíche que quase supera o seu de salame. Mas só quase mesmo, porque o seu é muito bom.
- Ah, é? E quem é que fez ele para você? - cruzei os braços, indignada pelo fato de o meu titulo ter sido ameaçado.
- O Norman. - meu sorriso se desfez num susto.
Norman.
Mais uma vez, ele.
Era sempre ele.
Os assuntos sempre acabavan voltando nele.
- Ele fez um sanduíche com cenoura, queijo e mais uma coisas ontem; ele ia fazer um misto, mas...
- Como vocês se viram?
- Ele cuidou de mim para o papai ficar aqui. - eu dei uma olhada para o meu pai, me perguntando porque ele havia omitido aquela informação de mim.
- E vocês se divertiram? - me voltei ao Ian.
- Demais. Ele jogou Goat Simulator comigo, Liv!
- Impressionante. Conseguimos achar um cristão que tenha paciência pra jogar aquilo. - era realmente impressionante.
- Ele gostou, Liv! - esqueci que eu não podia falar mal daquele joguinho besta.
- Ok. - levantei as mãos em sinal de rendição.
- E quando você vai pra casa? - encarei meu pai, o perguntando a mesma coisa.
- Não sabemos ainda, querido. - papai tocou o ombro dele, com um gesto acolhedor. - Parece que ela vai precisar ficar uns dias em observação.
- Mas gente, o que aconteceu? De verdade? - ele revezou o olhar entre mim e papai para descobrir.
- Filho, depois conversamos disso. - Ian podia ser uma criança muito insistete quando queria, mas naquele dia, ele foi um bom garoto e apenas assentiu ao comentário de papai.
Eu sabia o quanto tinha sido dificil para ele fazer aquilo; ele era muito curioso. Mas ele entendia que o assunto tinha um certo grau de seriedade.
- Liv, eu trouxe umas coisas. - ele se sentou na cadeira do meu lado e colocou sua mochila da escola no colo, a abrindo. - Caso tivesse que ficar mais tempo no hospital.
A primeira coisa que ele tirou da mochila foi um surter rosa meu florido, que eu amava usar em invernos bem frios:
- Caso você sinta muito frio. - peguei a peça da mão dele e sorri. - Esse aqui é para vc se sentir um pouco mais em casa. - ele trouxe a manta que deixávamos sempre em cima do sofá. - E esse aqui é pra você dormir melhor. E sinceramente, não sei como você dormiu sem isso. - ele me entregou o ursinho ao qual eu sempre dormia abraçada; eu soltei uma risada.
- Muito obrigada, meu amor. - eu abracei o ursinho e fiz um carinho no cabelo dele.
- Vamos Ian, tem mais gente para vir a ver, depois você volta. - ele assentiu, obediente como o bom garoto que era; me deixou um beijo na bochecha e foi de encontro ao papai.
Me perguntei quem seria a pessoa a me visitar. Seria Tonya? Will? Tatiana? Eu devia ter perguntado, mas a verdade é que o suspense não durou muito, pois logo a porta se abriu e entrou mais uma pessoa.
Era Lynda, a mãe de Norman.
Ela entrou, carrgando algo consigo.
Era um balão? Não, não era um só um balão. Parecia mais com uma pichorra.
Era em sua maioria azul e tinham uns desenhos bem coloridos.
- Olá, bonitona! - Lynda foi a primeira a falar, com um sorriso estonteante.
- Lynda! - aproveitei que ela estava perto e a envolvi em um abraço carinhoso.
Foi a primeira vez que nos abraçamos, mas foi com uma bagagem emocional muito grande.
- Como você está? - ela disse, pousando a pichorra ao meu lado.
- Me acostumando. - eu assenti para fazer a minha própria frase entrar na minha cabeça.
Pousei meus olhos no balão colorido e ela sorriu:
- Trouxe para te animar. Acho hospitais tão tristes. A verdade é que não gosto deles, passei muito tempo em um quando tive o Normie.
- E falando nele, como ele está? - me ajeitei na cama.
- Posso te contar um segredo? - eu apenas assenti. - Ele veio te ver.
Meu rosto foi mudando aos poucos e eu de repente estava muito animada. Eu diria que talvez eu estivesse até feliz. Genuinamente.
Um sorriso de canto se formou aos poucos nos lábios dela e ela acariciou minha cabeça:
- Provavelmente você sabe que pode contar com o meu menino. - eu assenti novamente. - Mas eu só queria que você soubesse que também pode contar comigo para o que precisar. - e voltamos ao pico emocional nesse momento. - Normie me explicou por cima e sei que não vai ser fácil, mas acredito que com apoio, você vai conseguir passar por isso com maestria.
Eu a puxei para outro abraço.
Lynda era uma pessoa extremamente gostosa de abraçar. Sabe quando você não quer largar porque sente que ali é um lugar muito comôdo? Então eu me sentia assim.
Achei ser de família.
- Ok. Agora deixa eu ir embora, porque sei que você está super ansiosa para o ver. - dei uma risada nervosa, mas que acabou servindo de confirmação.
- Tchau, Lynda.
- Até mais. - eu encarei minha pichorra quando ela se foi.
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EAT ME
De TodoComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...