71 - O Último Chefão do Jogo

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  Norman

     - Boa tarde, Robert. O que aconteceu? - ele disse, assim que o pai dela abriu a porta.
     - Ela disse que voltaria da terapia com você e aí chegou em casa sozinha e com uma cara péssima.
     - Eu achei estranho; ela não me ligou, não me respondeu. Eu já ia ligar para saber dela.
     - Gente, por que a Liv está chorando? - Ian descia as escadas com um rostinho triste.
     - Precisamos falar com ela. - Robert disse e Norman só assentiu.
     Os três subiram as escadas apressados e Robert bateu na porta dela:
     - Liv?
     - Oi, pai. - eles ouviram e a voz de fato estava embargada.
     - Posso entrar?
     - Sim. - ele abriu e os três entraram.
     Os olhos dela estavam inchados e avermelhados. Eles tiveram alguma reação ao ver Norman, mas se mantiveram tortuosos logo após.
     - O que aconteceu, Forbes? - Norman foi o primeiro a perguntar. -  Foi a Clarisse? - ela negou com a cabeça e Ian se sentou ao seu lado na cama, enquanto fazia carinho no seu cabelo longo.
     - Eu não quero ter que falar de novo sobre isso. Dói muito. - ela soluçou. - E eu tive que falar demais.
     Um silêncio estranho se seguiu. Robert abaixou a cabeça como se houvesse entendido, Ian encarou Norman por um segundo e o suspense permaneceu ali.
     Ele não soube muito bem o que fazer. Pareciam ter encostado em um fio desencapado e de alta voltagem e agora era perigoso chegar perto dele; Olivia estava sendo eletrocutada.
     - Liv, - quando percebeu, o irmão dela estava sentado em borboleta na sua frente. O garoto jogou uma mecha por trás de sua orelha e a fez o encarar. - Isso é sobre a mamãe, não é? - ela assentiu e seu rosto voltou a se contorcer novamente por conta do choro. - Você acha que mamãe ia gostar do que está vendo?
     Ela soluçou:
     - Ela provavelmente te daria uma surra por estar sendo tão tola. - parece que ele finalmente havia chamado sua atenção. - Mamãe, nunca culpou você por isso, Liv.
     - Ela era gentil demais para isso...
     - Não, Liv.  Ela era justa demais para isso. - Robert o corrigiu. - Ian está certo. - Robert se sentou na cama. - Você não tem controle sobre o universo. Você não escolheu vir ao mundo; nós resolvemos conceber você e Deus abençoou.
     "Você foi planejada em cada centímetro seu. Você foi querida por mim e pela sua mãe mesmo nas quatro tentativas anteriores.
     "Ruby não se frustrou em nenhuma das vezes e quando ela descobriu que conseguimos, ela basicamente soltou um rojão".
      Norman sorriu. Sua sogra deveria ter sido uma pessoa incrível e super divertida.
      - Se fosse culpa de alguém, seria nossa: mas advinha, não tem como ser nossa culpa também, porque nós não estávamos fazendo isso para que ela adoecesse. Não era a intenção.
     "E se não foi culpa nossa, que éramos seres humanos já existentes, como é que isso poderia ser culpa sua que passou a existir de uma hora para outra e nem consciência tinha?"
     Ela ficou o encarando por um tempo que pareceu longo demais.
     - Poderia ter acontecido de qualquer outra forma. - o irmão dela ressaltou. - Papai disse que já haviam casos na família
     Olivia apenas abaixou a cabeça.
     Norman não entendia muito bem qual era a questão, mas parecia que ela se sentia culpada por algo.
     Ele nunca a vira daquele jeito. Não era como as outras reações negativas que ele a vira ter. Dessa vez era uma intensidade diferente; ela parecia sofrer de uma agonia que não podia ser sarada. Algo que estava guardado tão profundamente que acabara enraizando.
     Ele não sabia o que dizer para ajudar; queria entender o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo não queria que ela dissesse mais uma palavra sobre aquilo, porque a machucava muito.
     Norman podia não saber o que dizer, mas pensou que talvez um gesto pudesse ajudar.
     Ele caminhou, completamente em silêncio, até a cama, se sentou de frente para ela - porque Ian voltara a ficar do lado da irmã - e a encarou. Olivia parecia frágil como uma bonequinha de porcelana e não era a primeira vez que ele tinha essa impressão.
     Ele a abraçou. Com força o suficiente para tentar espantar a dor que estava ali.
     Ele sentiu os dedos dela agarrarem seu ombro e se estabelecerem ali. Logo após isso, veio os saculejos do choro e alguns gemidos.
     Era assim que a pessoa ficava quando passava por um processo de luto?
     Sempre o disseram que era devastador. Que a pessoa que perde alguém fica desolada. Bom, naquele momento pareceu que ela estava sofrendo pela primeira vez a perda de Ruby.
     Norman fechou os olhos e começou a orar em pensamento, a dando todo o tempo do mundo para que ela colocasse para fora as lágrimas.

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