Eu estava ajudando Ian a estudar para a prova de matemática que ele teria na segunda-feira.
- Ok, tá preparado para o próximo problema? - ele assentiu. - Esse vai ser difícil, hein!
Mas nós fomos interrompidos por batidas no batente da porta. Era papai; ele estava de braços cruzados, encostado no batente:
- Acho que você tem visita.
- Ué! Eu não estou esperando ninguém. - papai fez uma cara de pura surpresa.
- Vai lá; deixa que eu sigo com o Ian. - eu levantei e entreguei o caderninho com os meus rascunhos a ele.
- Agora é a cinco. - mostrei para ele, que leu rapidamente a questão e deu um sorriso maroto:
- Essa é boa.
- Ai meu Deus do céu! - Ian estava em polvorosa.
Peguei as escadas e assim que cheguei no térreo, avistei Norman, todo galante, de terno me esperando na cozinha:
- Meu Deus do céu! Mas quanta elegância aqui na minha cozinha!
- Disse a senhorita mais bonita do universo. - ele investiu e seus olhos se iluminaram.
- Você nunca perde essas deixas, né? - eu disse me aproximando dele e pousando meus braços em seus ombros. - Na verdade, eu acho que você as cria, não é?
- Vale a pena fazer isso por você, amor. - eu o beijei, porque a voz dele era boa; o cheiro dele era ótimo e sentir ele, era melhor ainda.
Beijar Norman era como um anestésico para abafar tudo o que havia no mundo. A diferença é que eu o utilizava para tudo; para quando eu estava ansiosa, para quando eu estava feliz, para quando eu estava até sem saber como eu estava. Se eu estivesse ansiosa, eu me acalmava, só que se eu estivesse feliz, esse sentimento só era amplificado, como se todas as luzes da cidade fossem ligadas por uma única tomada no sentido mais brilhante que elas poderiam ter.
Quando fomos nos distanciando, os meus olhos se abriram junto com um sorriso:
- E então, ao que devo a honra da sua ilustre presença?
- Eu parei para pensar que estamos namorando. - eu assenti, como se estivesse sinalizando que aquilo era óbvio. - Nós não tivemos um primeiro encontro ainda.
- Mas e o baile? - me lembrei daquela
Noite com um certo carinho.
- Apesar de eu já estar perdidamente apaixonado por você naquela época, nós não estávamos juntos ainda.
Mantive meus braços leves em seus ombros.
- Então vai me levar onde?
- Numa exposição. - o encarei de forma divertida:
- Uma exposição? Do quê?
- Fotos. - achei inusitado. - Você é uma garota peculiar demais para receber um encontro ordinário. Então, tentei achar algo que estivesse à sua altura.
- Nossa! - eu sorri. - Confesso que isso nunca me passou pela cabeça. Estou curiosa. - ele refletiu meu sorriso. - Você me espera trocar de roupa?
Ele apenas assentiu e adotou um lugar no sofá.- Eu estou feliz. - ele disse de repente, quando descemos do ônibus.
- Por qual motivo exatamente?
- Você está muito melhor. E só fazem algumas semanas que saiu do hospital. É inacreditável como você está lidando bem com tudo.
Eu sinceramente não achava estar lidando bem com tudo.
Lembrei do meu deslize com Clarisse e tremi internamente.
Eu não estava nem perto de estar estável, mas pelo menos eu não estava parada de braços cruzados. Achei que aquilo de fato já era alguma coisa.
- É muito longe daqui? - mudei de assunto porque não queria prorrogar aquilo.
Não que eu estivesse evitando o assunto ou que Norman não fosse um doce, mas ultimamente aquilo estava ficando um tanto saturado para mim e eu realmente precisava fazer algo diferente Que fosse me distrair.
- Acabamos de chegar. - ele anunciou e eu me atentei para o que estava à minha frente.
Era lindíssimo.
Se parecia com um museu. O estabelecimento tinha cada detalhe que me lembrava arte greco-romana. Me remetia a algo clássico.
Ao redor da porta de entrada, haviam pequenas lâmpadas que iluminavam com uma luzinha amarelada, cintilante. E haviam mais dessas luzes atrás dos arbustos.
- Se eu soubesse que seria tão chique assim, teria me arrumado melhor. - Norman sorriu.
Eu estava usando um vestido de mangas longas azul bebê e um tênis branco.
- Você está lindíssima. Eu diria que o lugar que não está bonito o suficiente para você.
- Bobo. - o dei um tapinha leve no ombro.
- E então, a exposição é sobre o quê?
- Não tem um tema em especifico. É sobre o que você quiser que seja. - eu o olhei, curiosa:
- Ué, como assim?
- A fotografa fez uma exposição bem atípica. Por isso ela está no museu inteiro. - eu fiquei impressionada.
Eu não entendia muito de arte e dessas coisas no geral, mas acho que se alguma coisa tomava o espaço inteiro de um museu, queria dizer que era deslumbante. E no mínimo complexa.
- Nós teremos tempo de ver tudo? - eu disse consultando o horário no celular. Eram seis e meia.
- Não. Mas essa é exatamente a ideia. - ele sorriu, me deixando ainda mais intrigada.
- Amor, não estou entendendo nada.
Nós entramos e Norman pegou dois panfletos um para mim e um para ele:
- Funciona assim: Susane Wilowiski é uma fotógrafa com algumas tendências próprias e esse ano ela fez um lançamento que está sendo um estouro.
"Ela faz um compilado de exposições. De diferentes temas, de diferentes épocas e lugares e apresenta exatamente tudo ao mesmo tempo.
"Cada foto narra um pedaço de uma história retratada na exposição e fica à escolha de cada pessoas, que histórias ver".
Aquilo era fantástico. Eu nunca tinha visto uma ideia tão fabulosa e criativa em toda minha vida.
Minhas expectativas estavam altíssimas para ver algo cativante.
- Isso deve ser muito legal! - comecei a vistoriar o folheto, enquanto ficava mais e mais empolgada. - Como você descobriu isso?
- Na internet. Achei de fato bem inusitado.
- E a fotografa está aí?
- Não. Ela não gosta de aparecer nas exposições que ela está inaugurando. - estranhei e já comecei a sentir um sentindo de juiz dentro de mim:
- E por que não?
- Ela não gosta da atenção das pessoas. Susane é autista. - meu queixo caiu e eu me senti envergonhada. - As vezes ela vai em uma ou outra exposição, mas bem depois que ela já foi lançada. Para evitar aglomerações.
- Não creio!
- Acho que ela tem a síndrome de Asperger. Mas ela interage com pessoas, só não tanto.
Achei aquilo impressionante.
Para mim, nada além do que eu visse ali, seria mais impressionante do que o que eu havia acabado de ouvir.
- Então, qual história você quer, Forbes?
- Eu posso escolher? - ele assentiu. - Vamos nessa: 'Por que eu gosto de chuva?'
- Misterioso. Gostei. - eu ri e nós nos direcionamos às escadas para chegar à exposição.
Assim que subimos as escadas, percebemos que tinha um longo caminho a ser percorrido.
Não era um, nem dois e nem três lances. Eram uns dez (ou mais).
Quando estávamos no quarto lance, eu parei para tomar um fôlego:
- Eu traria uma garrafinha de água se soubesse.
- Eu acho que acabamos de encontrar nosso primeiro vestígio de história. - Norman apontou uma foto emoldurada na parede que circundava a escada.
Era uma foto escura, mas eu não podia negar que era bonita.
Parecia alguém sentado á janela. Pelo coque no cabelo, eu julgava ser uma mulher.
Não haviam muitos detalhes na forografia. Só havia a silhueta dessa suposta moça sentada, olhando pela janela.
Me aproximei mais e notei que a pose dela refletia um certo cansaço.
Não havia título para a foto, apenas o número um abaixo dela, escrito na própria parede e parecia ter sido feito de canetão.
- O que você acha? - Norman me tirou do meu devaneio interno.
- Acho que é uma moça. E acho que ela está cansada.
- Para mim, ela parece triste. - ele me instigou novamente.
- Por que você acha isso? - perguntei. - Não dá pra ver o rosto.
- Mais olha a pose dela. - ele gesticulou em direção ao quadro.
- Hum. - aquilo não me convencera muito.
- Vamos continuar? - ele estendeu sua mão para mim e eu a segurei:
- Vamos.
Dessa vez, fui subindo os degraus atenta a qualquer sinal de fotografia, visto como aquela estava discreta naquela parede.
Era quase como um caça ao tesouro.
Por incrível que pareça, eu não senti mais cansaço; eu estava eufórica, queria saber o que havia com aquela mulher e o que havia com aquele título. Qual era a relação?
Chegamos finalmente. Era uma sala e ela era toda branca, na parede de frente para a porta, havia um quadro.
Não havia absolutamente ninguém no caminho e nem ali. Será que isso era proposital? Mas uma exposição não deveria ser cheia de pessoas?
Será que a fotografa montara tudo aquilo na intenção de cada exposição ser particular, mesmo?
Nos aproximamos da fotografia, que era descrita com o número dois embaixo de si, com o mesmo padrão da fotografia anterior.
Acho que era a mesma moça.
Essa foto estava de frente.
Eu podia ver o rosto dela e ela não usava absolutamente nenhuma maquiagem. Mas era bonita. Muito bonita.
A foto parecia ter sido tirada por fora da casa. Dava para ver seu rosto por trás do vidro da janela e apesar de ele estar um pouquinho sujo, ainda assim dava para ver a beleza estonteante da moça.
- Parece que tem alguma coisa chamando a atenção dela. - eu comentei, vendo o rosto surpreso estampado na foto.
- Será que ela está assustada ou feliz?
- Queria saber o que ela está vendo. - eu disse, quase me mordendo de curiosidade.
- Acho que talvez na próxima foto? - sugeriu.
- Espero. - nós demos as mãos de novo e seguimos as seta que dizia que era para seguir para a parede lateral.
Mas não havia porta lá e sim uma janela:
- Ué. E agora? O que que a gente faz? Será que erraram? - eu olhei pela janela e ela refletia a noite lá fora.
- Não, faz parte da coisa toda. - Norman tentou abrir a janela.
- Norman, o que você está fazendo? - eu olhei em volta, temendo que algum guarda aparecesse e o prendesse por dano ao patrimônio.
- Susane cria coisas incomuns, então eu não me surpreenderia com essa interatividade. Na descrição dessa exposição, ela foi cuidadosa pra não mencionar detalhes, então acho que vamos ter que descobrir.
Ele abriu a janela e meteu a cabeça para fora.
Quando ele voltou, ele sorriu.
- Confia em mim. - ele me ofereceu a mão e eu a peguei.
Norman passou pela janela e eu fui junto com ele.
Nós estávamos numa espécie de varanda. Uma bem pitoresca; com grades de ferro pintadas de preto, estilo aquelas que você vê ne Irlanda.
A varanda era bem grande e haviam algumas setas no chão indicando o camimho. As seguimos.
Chegamos à uma das colunas grecoromanas do museu. Também toda branca.
Essa era a fotografia número três.
Havia um jardim. Mas ele era totalmente cinza.
Dava para ver que tinham folhas de outono no chão a julgar pelo estado das árvores. As folhas provavelemnte deveriam ser laranjas, mas não dava para ter certeza.
Parecia sem graça, a não ser por algo no canto da imagem, quase passando despercebido. Uma flor, em meio aos arbustos cinzas, uma florzinha amarela.
Ela era tão pequena, mas no meio daquele cinza todo, parecia ser a única coisa viva.
Aquilo me deu um pouco de melancolia.
Depois que você via, não tinha mais como não a perceber.
- Era isso que ela estava vendo? - dirigi a pergunta a Norman.
- Acho que sim. É a sequência. - ele apontou para o número abaixo da imagem.
- Alguma ideia do que isso queira dizer? - continuei com os questionamentos.
- Talvez ela tivesse triste pela quantidade de cinza? - tentou, mas eu não achava um bom palpite:
- Acho que está ligado a algo mais metafórico. Estou com essa impressão. - ele só assentiu. - E a próxima direção... - me virei para a seta na parede. - Uma cortina?
- Não deve ser só uma cortina. - ele abriu a cortina e havia uma porta atrás dela.
Eu já deveria ter começado a sacar essas pegadinhas.
Nós abrimos a porta e seguimos. Era um corredor.
Sinceramente, o engenheiro que havia desenvolvido a planta daquele lugar não se perdia?
Era um corredor muito escuro; tinham lamparinas brancas muito bem espaçadas. E o corredor era longo demais para não parecer um filme de terror.
Eu me aconcheguei mais perto de Norman, olhando em volta para ver se eu reconhecia algo como uma foto.
- Está com medo, amor? - ele perguntou, me envolvendo com seu braço.
- Talvez um pouco. - fiz com os dedos. - Norman sorriu.
No fim do corredor havia um monte daquelas lamparinas pequenas. Elas eram a própria moldura da foto número quatro.
Era o jardim de novo. Mas dessa vez, ele estava diferente. As cores estavam lá, além da flor amarela e agora, na verdade, estava difícil achar a flor.
Havia algo ao longe na noite. Parecia alguém com capa de chuva amarela. Mas era muito distante.
Procurei, procurei, mas não achei de jeito nenhum a flor amarela.
- Ela sumiu? - finalmente perguntei.
- O quê?
- A flor amarela.
- Nossa, é verdade! - ele só se dera conta agora. - Tem outra pessoa na história.
- Mas quem será? - eu estava ficando angustiada.
- Não faço a mínima ideia. - ele continuava encarando a foto; acho que Norman estava na mesma intenção que eu: que algo novo - e esclarecedor, surgisse.
Depois de mais meio minuto, decidimos continuar.
- E agora? - olhei em volta e só achei uma seta. Ela apontava para a fotografia que estavamos em frente.
- Será que tem uma porta aqui? - ele começou a tatear a parede e eu o ajudei.
Achamos o que parecia ser um vão. E não é que tinha uma passagem mesmo?
Essa sala era o completo oposto da outra. Era branca, totalmente. Do piso ao teto.
Não percebemos a fotografia de cara, mas depois de adentrarmos mais a sala e nos virarmos para a parede pela qual havíamos entrado, conseguimos ver uma pequena fotografia.
Era aquela moça de novo.
A expressão dela me transmitia um milhão se coisas, mas o mais intenso de tudo era que ela parecia estar desapontada com alguma coisa.
- Acho que não era o que ela estava esperando. - Norman comentou inquieto.
- É uma pena. - eu estava começando a me sentir tão angustiada quanto a mulher da foto.
Norman, como o bom cavalheiro que era, ofereceu o braço para que eu enganchasse o meu. Eu o fiz e nós seguimos as setas para a foto de número seis.
Era a próxima sala, sem muitas surpresas.
Mostrava a mesma moça de costas para nós, mas de frente para a tal pessoa na capa de chuva amarela.
Agora eu compreendia o porque era decepcionante para ela; porque foi tão decepcionante quanto, descobrir que a pessoa da capa de chuva era na verdade ninguém. Era apenas uma capa de chuva num pedaço de pau.
- Ela estava esperando por alguém. - cintilei.
- E esse alguém não veio. - Norman refletiu meus pensamentos.
- Entendi porque ela está triste. - Norman apenas assentiu. - Só não entendi a parte do 'Por que eu gosto de chuva?' - entoeei.
- Vamos lá.
As próximas setas apontavam para escada. Mais escadas.
Dei um suspiro e acompanhei Norman.
Foram só mais dois lances e eles acabavam numa porta de emergência. Nao havia foto nenhuma ali.
Norman atravessou a porta e demos de cara com o terraço.
Identificamos ali uma sequência de fotos.
A foto número sete estava cuidadosamente colocada à disposição da grade que ladeava o terraço.
Era o céu.
Nada mais do que um céu sem graça e sem estrelas:
- Essa não parece nada interessante.
- Sério? Porque acho que isso começa a responder sua última pergunta. - Norman rebateu. - Olhe direitinho.
Me esforcei, mas não havia nada. Só o céu:
- Ainda não entendi, amor.
- O que tem no céu?
Olhei melhor:
- Nuvens? - ele assentiu.
- E quando você tem um céu carregado de nuvens, o que geralmente vem depois?
- Chuva! - matei a charada.
Me anime instataneamente e o puxei em direção à proxima foto que estava colada em uma das colunas de sustentação exposta.
Era a moça. O seu rosto encoberto pela sombra da noite, suas mãos caídas de qualquer forma ao lado do corpo, o vestido rosa bebê abarrotado, devido a posição anterior dela.
Era uma foto tirada se uma certa distância, então dava pra ver seu corpo todo.
Ela era magra. Não esquelética. Só magra mesmo.
Pensei que talvez ela se parecesse com o que as pessoas diziam que eu era; entretanto não deixei esse pensamento me prender por nenhum segundo.
Tinha alguma coisa acontecendo na cena.
Tinham umas partes da fotografia que estavam meio 'interrompidas', como se a imagem tivesse sido manchada em alguns pontos. Não dava para entender.
Mas aquilo não me enganava. A essa altura do campeonato, eu sabia que nada era por acaso naquela exposição.
Susane deixara aquilo ali.
- O que são essas coisas? - Norman apontou para os pontos em que os meus olhos estavam presos.
- Acho que vamos descobrir na próxima imagem. - o puxei para a foto que estava na parte detrás da coluna.
Nona.
Era basicamente a mesma foto, a diferença era que a moça estava molhada.
Aqueles borrões eram gotas de chuva!
E a chuva havia aumentado. Estava forte agora.
A próxima foto era um compilado de várias fotografias pequenas que colocadas em sequência do jeito que estavam, formavam quase um video.
A expressão da moça estava se alterando de pouco em pouco.
Primeiro, nao dizia nada. Estava estática. Depois, representava uma confusão e em seguida, eu só via cabelos.
- Acho que ela meio que se virou, sabe? - Norman me acendeu a luz após ver minha cara.
- Ah. - fazia sentido.
As mini fotografias continuavam e a próxima retratava um estranhamento. A chuva parecia pesada. Seu coque estava por um fio.
A última miniatura, era a da moça com uma cara de surpresa; mas uma surpresa muito forte. Sua boca estava quase perfeitamente em 'O'.
A partir daí, eu já não me importava mais com o número das fotos.
A penúltima foto trazia aquela moça sorrindo. Mas era um sorriso que se diferenciava muito dos sorrisos comuns.
Ele não era o mais branco, ou o mais reto; ela nem estava usando batom.
Mas foi o sorriso mais autêntico que vi na minha vida. Ela estava linda. Tinha bochechas grandes.
E ela estava tão feliz que foi impossível não sorrir junto.
- Nossa! - eu disse ao fim do sorriso.
- Aquela é a última, amor. - ele apontou para a foto que estava mais distante.
A foto estava colocada numa posição estranha.
Sabe aqueles instrumentos que as pessoas usam para iluminar quando precisam gravar um vídeo ou fazer uma tatuagem?
Então havia um desses instrumentos e a foto estava colada nele. Virada para baixo.
- E agora?
- Acho que temos que deitar no chão. - Norman deu de ombros e eu sorri com a espontaneidade dele.
Nos deitamos embaixo da foto e assim que deitei, suspirei.
Era a foto mais linda da exposição inteira.
Eu entendi o título e a minha escolha em ver aquela exposição havia valido muito a pena naquele momento.
Eu soube que nenhuma outra, me agradaria tanto quanto aquela. Só por aquela foto. Era de tirar o fôlego.
A moça estava beijando um rapaz. Com a bendita capa de chuva amarela. Senti uma vontade quase incontrolável de rir.
Ele tinha a surpreendido. Ela estava o esperando. E pelo visto, há muito tempo.
Eles estavam no meio do jardim. Com a chuva caindo e com as flores bem ao seu redor.
Era uma foto simples; não tinham muitos elementos colocados, mas o jeito que ela estava na ponta do pé para o beijar, o jeito que o céu parecia mais limpo, o jeito que ele a segurava tão perto...
Acho que aquilo me remeteu ao meu primeiro beijo com Norman.
Talvez por aquilo, aquela foto fosse tão linda para mim.
No fim, ainda notei mais uma coisa: a foto havia sido colocada ali, pois a olhando debaixo, você ia ter a sensação de que o céu complementava a imagem, dando profundidade aos pombinhos.
Foi de tirar o fôlego.
VOCÊ ESTÁ LENDO
EAT ME
DiversosComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...