26 - Psicologa?

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     Eu não vira Norman naquela manhã ainda. E não era como se eu o estivesse evitando; eu não estava. Mas eu também não podia dizer que estava cotidiana á tudo que havia acontecido, porque... Eu não estava.
     O que aconteceu entre a gente havia sido sinceramente a melhor experiência que eu havia tido em um bom tempo. O toque, a sensibilidade, o cuidado que eu senti. Eu me atrevia a dizer que fora o melhor beijo que eu já recebera.
     Eu não esperava aquilo acontecer, mas eu principalmente, não esperava todas aquelas palavras que ele derramou sobre mim como uma chuva de primavera que servia pra regar o jardim.
     Eu vi cada coisa que ele dizia vibrar em seus olhos, como uma garantia de genuinidade. E o mais impressionante foi como tudo termimou. Norman entendeu as coisas de uma forma que eu nem estava julgando ser uma possibilidade. Mais uma vez, a gentileza era um traço tão marcante em sua personalidade, que aquilo simplesmente me desarmara por completo e eu nem soube como reagir.
     Graças a Norman, as coisas não haviam ficado pesadas e interrompidas, porém elas também não estavam como sempre estiveram, porque o cenário todo teve uma mudança enorme. Eu não podia e nem queria ignorar aquilo, porque era esplêndido e bonito demais para se ignorar.
     Norman gostava de mim.
     Por algum motivo inimaginável, alguém tão incrível como ele, gostava de alguém tão mediana como eu. Eu simplesmente não me sentia apta a receber mais doses daquela chuva maravilhosa. Era como se ele visse girassóis lindos e vivos onde eu só haviam ervas daninhas morrendo.
     - Olivia, acorda. - Tonya estralava os dedos na frente do meu rosto. - No que você está viajando?
     - Em nada. - eu me recompus e tomei em minhas mãos novamente o livro de geografia que estávamos analisando para o trabalho.
     - U-hum. Sei. - ela disse, sem nenhuma sutileza.
     - Por que esse tom todo condescedente? - quase soou como irritação.
     - Porque você está viajando na palavra de seis letras. De novo. - como ela sabia? Como ela sempre conseguia saber de tudo e apresentar tudo com umas tacadas tão óbvias?
     - Você está cismada comigo. Só pode ser isso. - comentei, sem intenção alguma de me prolongar naquele assunto.
     - Ok, cansei de geografia. - ela pegou o livro das minhas mãos e o tacou longe. - E cansei de bancar a boazinha também. O que está rolando entre você e o Norman?
     Me senti presa num interrogatório.
     - Como assim, o que...
     - Olivia, não tente fingir que não tem nada, porque tem. Eu sei que tem. Consigo sentir a quilômetros de distância. - os olhos dela pontuaram os meus. - Se você não se sentir bem de falar sobre isso, ok. Mas acho que você devia colocar um pouco pra fora, porque você guarda muitas coisas aí dentro. Parece uma caixinha fechada.
     A encarei.
     Se tudo bem eu não querer falar, por que ela estava me pressionando?
     De novo, eu quase me irritei, mas aí eu percebi uma coisa: aquela era ela. Tonya era assim. Ela se importava. Mesmo com toda aquela pose durona, ela se importava demais. E aquele era o jeito dela se oferecer para ajudar.
     E ela era minha amiga.
     Será que era correto mesmo deixar um amigo assim de fora da sua vida?
     - Antes de vocês nos pegarem no sábado, Norman me beijou. Bem embaixo daquela marquise - conforme eu ia falando, o rosto dela foi progredindo em efeitos que pareciam de emogi. - No fim da noite, quando ele me levou em casa, ele me disse o quanto gostava de mim. - Tonya soltou um sorriso largo e fez alguns movimentos agitados com as mãos.
     - Jesus Cristo, obrigada! Obrigada por essa graça! - ela levantou as mãos e a cabeça e declamou. - Você estão juntos! Finalmente!
     - Nós não estamos, Tonya. - eu quase me senti mal ao ver a cara dela. Sua felicidade esmureceu de uma hora para a outra e seu rosto se tornou um cinzeiro de cigarros, completamente cinza e completamente apagado.
     - Mas por que não? - nesse momento, eu tive muito a impressão que ela estava se controlando para não me atacar.
     - Não é o momento. - sobre aquilo, eu de fato não queria falar muito, pois eu tinha total e definitiva certeza de que ela não entenderia, e eu sabia daquilo porque muitas das vezes, nem eu mesma entendia.
     - Mas criatura, você não gosta dele? - eu a encarei nos olhos no exato momento que ela concluiu a pergunta.
     A sirene do colégio tocou e eu fui roubada da minha linha de raciocínio.
     Não era intervalo, então porque estava tocando? Provavelmente era algum aviso. Tínhamos que nos reunir no pátio nessas ocasiões.
     Quase que no automático, nos levantamos e seguimos em direção ao pátio.
     A pergunta dela ecoou dentro da minha cabeça, como se batesse de um lado para o outro num ritmo cada vez mais frenético: eu gostava de Norman?
     - Bom dia, alunos! - o diretor proclamou em auto e bom som, tentando fazer a voz dele se prorrogar por todo o ambiente.
     Ouviu-se logo em seguida um coro dos alunos respondendo.
     Enquanto o diretor iniciava um discurso qualquer, eu olhava em volta, procurando pelo ator principal da pergunta que sondava minha mente.
     Não demorou muito, mas quando eu o encontrei, pareceu que eu tinha levado um choque. Quando os olhos dele cruzaram com os meus, a sua reação foi a de sorrir, da forma mais amigável possível e eu instataneamente corei. Eu corei e senti minhas bochechas pegarem fogo.
     Coloquei os dedos no rosto para evitar que Tonya visse aquilo.
     - Olá, Forbes. - o tom dele estava ameno, comum como sempre.
     Era claro que ele viria até nós. Por que eu continuava me surpreendendo? Mesmo depois de tudo aquilo?
     - Oi. - foi baixo, quase indescritível, quase inaudível, mas ele manteve seu sorriso tão companheiro mesmo assim.
     Resolvi focar no que o diretor edtava dizendo:
     - ... Por esse motivo gostaria que saudassem a psicóloga Tatiana Zaynfield com uma salva de palmas. - como solicitado, as palmas explodiram e eu vi una mulher vestida em tons pastéis subir ao pequeno palco que tínhamos ali.
     - Psicóloga? - eu encarei Tonya, na esperança de ela me esclarecer se aquilo seria uma palestra.
     - Sim, ela será a psicóloga do colégio. Oferecerá atendimento exclusivo aos alunos. - mas foi Norman quem sanou minha dúvida.
     - Uau. - foi tudo que eu pude considerar por ora. 
     - Bom dia a todos - a mulher chamada Tatiana iniciou. - Gostaria de dizer que será um prazer muito grande para mim ter em mãos um trabalho tão complexo e tão delicado ao mesmo tempo que é cuidar de vocês.
     "Não só dos que sabem que necessitam e buscam por ajuda, mas também daqueles que não fazem a mínima ideia de que precisam.
     "O meu propósito aqui é principalmente achar aqueles de vocês que ainda não entende, mas que estão passando por algum processo e precisam de orientação.
     "Fiquem à vontade para comparecer na minha sala, bater um papo. Eu adoro conversar. - ela sorriu nessa parte. - Mas adoro mais ainda ouvir e é pra isso que estou aqui".
     Ela terminou o curto discurso, correndo os olhos pela plateia e no fim de sua jornada, Tatiana parou os olhos em cima de mim e eu sustentei o olhar ao contrário do que eu imaginei que aconteceria. Quando alguém me encarava por mais de dois segundos, eu naturalmente desviava; ou será que isso só acontecia com Norman?
     Mais uma vez, eu voltava a isso.
     Olhei para o meu lado e ele estava totalmente concentrado no aviso.
     Dava pra ver como ele estava focado, pois seus olhos estavam exclusivos.
     Eu gostava dele?
     Como eu de fato me sentia sobre Norman?
     Eu tinha bastante preocupação de o magoar de novo como eu fizera no dia do shopping, entretanto, mesmo quando eu não agia de acordo com o que ele estava esperando, ele demonstrava a maior gentileza e compreensão do mundo. Eu de fato, não conseguia entender como ele conseguia lidar tão bem com essas coisas. Ser tão empático, tão compassivo.
     Acho que a verdade, era que eu não sabia como me sentia sobre ele, porque eu sentia um milhão de coisas, todas intensamente misturadas.

   
    
    
     

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