62 - Caráter e Doença

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- O Norman não te impediu de fazer essa burrada, não?
- Ele queria. Mas não deu. - eu disse, tomando água enquanto ela me encarava.
- Como você sabe que era real, Ollie? - Tonya perguntou com os olhos comuns.
- A doença?
- Escuta, eu odeio ser maldosa a ponto de pensar isso. - ela disse, terminando de dobrar umas roupas. - Mas estamos falando de alguém muito cruel; e se ela estivesse pregando uma peça em relação à sua anorexia?
Não gostei daquilo. Não da colocação de Tonya, mas da "sua anorexia". Tudo bem que eu estava doente e precisava me tratar; agora eu entendia isso perfeitamente, mas eu não queria tomar posse daquilo. Não queria que as pessoas lembrassem de mim por 'ter anorexia'.
- Acho que se ela estivese pregando uma peça, ela teria chamado as comparsas dela para rir de mim. - ela estava bem séria e prestando atençãono que eu dizia. - Não foi como das outras vezes; havia algo nos seus olhos.
- Desculpa, mas tudo que consigo enxergar nela é veneno. Estando doente ou não. Acho que se ela realmente for bulímica, ela ainda assim vai sofrer um grande problema de caráter, que poderia ter sido resolvido facilmente com uns bons tapas na cara, dados pela mãe dela.
- Mas se ela estiver doente...
- Sei que você vai dizer que estar doente influe no seu psicólogico. E eu entendo que tenha certa influência; concordo com você. Mas caráter é algo que está lá, independente de doença ou cura. - foi um grande dar de ombros. - Você nunca foi uma pessoa ruim; desde que eu te conheci, sempre gostei de você.
"Mesmo que você tenha câncer, se você for uma péssima pessoa, isso não vai te absolver de tudo. A não ser que você mude de verdade. Isso sinceramente não me importa e não me comove nenhum pouco".
- É basicamente aquela coisa de passar uma vida detestando alguém e chorar no funeral dele só porque ele morreu. - Tonya assentiu com veemência.
- Exatamente; drástico, porém real.
- terminamos com as roupas e fechamos meu guarda roupa.
Tonya havai ido lá pra casa para me ajudar a tomar conta de Ian e Maya. Mas enquanto Maya não chegava, estava me ajudando a organizar algumas coisas.
- Tá tudo bem com o Joshua? - perguntei enquanto descíamos as escadas. - Achei ele meio esquisito ontem.
Ela sorriu e eu sabia que estava preparando uma piadinha maquiavélica em sua cabeça:
- Joshua é pelo menos um pouco esquisito, sempre. - eu sorri. - Mas ele de fato não estava lá muito ok.
- Por quê?
- A ex dele veio o procurar. - ela revirou oa olhos. Eu estava secretamente criando uma teoria de que quando Tonya fazia aquilo, estava querendo secretamente matar alguém. Naquele caso, era com certeza a ex do seu irmão. - Ela veio tentar encher a cabeça dele de abobrinha.
- O que ela quer?
- Diz que quer voltar. Convenhamos, Joshua é um homão. O bicho pode até não ser o mais gato, mas é um homem de verdade. O jeito que ele tratava ela, era de cair o queixo. - me atentei ao que ela dizia:
- Então você acha que ela realmente quer voltar?
- Acho que sim. Mas sei que não vai acontecer. - ela deu um sorriso de quem estava aprontando. - Meu irmão é uma ótima pessoa, mas ele tem um defeito que se destaca dentre os demais: ele é rancoroso.
- Isso faz mal, Tonya.
- Calma, não é rancoroso no sentido de fazer um boneco de vodoo da pessoa. É no sentido de abstrair a existência dela. - ela percebeu pela minha cara que eu estava bem confusa. - Se você faz algo que o machuca, ele vai te desprezar até o inferno. E foi o que aconteceu. Ele a atendeu na porta de casa, disse "Fala", aí ela falou por quase uns dez minutos seguidos o blá blá blá do arrependimento dela e aí ele só entrou e fechou a porta sem dizer nada. Na cara dela!
- Ele te contou isso?
- Não, eu e minha mãe espiamos da cozinha. - eu neguei com a cabeça enquanto sorria. - Nós conversamos depois e eu fiz um voto com ele.
- Qual?
- O de que não vou namorar ninguém enquanto ele não achar alguém legal. E isso vai demorar, porque as pessoas são sempre cruéis com o meu menino.
- Tonya, mas isso é...
- Daí ele disse "Como se tivessem muitos caras por aí a fim de você". Daí eu bati nele. - não pude deixar de rir. - Ele disse que se eu fizesse isso, ele quebraria minhas duas pernas.
- Vocês são tão fofinhos. - ironizei. - Acho que Sebastian deveria ver mais Norman. Ia ser bom se os dois se bicassem mais.
- Mais do que agora, só se Joshua passar a morar na casa Norman. - eu ri. - É engraçado quando Norman vai lá em casa, porque ele sempre começa a falar de você e aí eu passo e faço sons de vômito.
- Você é um amor.
- Eu sei. - ela sorriu.



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