- Ai, tá doendo! - ela gritou de novo e eu respirei fundo, de novo.
- Se você ficar se mexendo toda hora, só vai demorar mais ainda. - eu argumentei e tentei mover o cotonete até sua sobrancelha novamente. - Norman, pode pegar mais algodão, por favor? Tem no armarinho do banheiro.
- Pode deixar. - ele saiu.
- Que ideia brilhante a sua de se atracar com a princesinha do colégio. - continuei o meu sermão da monte.
- Não foi uma ideia, Olivia. Não foi algo premeditado. - ela fez cara de dor, mas dessa vez não falou nada. - Foi instinto. Quando vi que aquela bruaca ia ficar me insultando e te insultando, eu não aguentei.
- Você devia deixar isso pra lá. Adiantou o quê?
- Adiantou que eu arrebentei o lindo rosto dela. - ela retrucou com o tom ainda irritado.
- Você sabe que ela vai ficar pairando sobre você agora, né? - Norman voltava com o algodão.
- Exatamente. - concordei. Era extamanete aquilo que me preocupava.
- Do que vocês estão falando?
- Ela vai infernizar sua vida, Tonya. - simplifiquei, terminando mais um curativo.
- Deixa ela. Eu quebro ela todinha. De novo. - eu neguei com a cabeça. - A cara dela ficou pior que a minha mesmo.
- Não faça mais isso. Por favor. - eu a encarei e pedi com o meu tom mais educado. - Eu não quero que nada grave aconteça.
- Olivia, relaxa. Foi só uma briga de escola. - ela sorriu, mas seu sorriso se desfez quando ela percebeu que eu não estava brincando. - Vocês nunca brigaram na escola?
- Já. - me surpreeendi com a resposta dele. - E é exatamente por isso que sei que é uma péssima escolha.
Norman estava de braços cruzados.
- Pessoal, tá tudo bem. Não é como se Clarisse fosse uma traficante para quem eu devesse.
- Você está parecendo uma concha de retalhos. - eu lembrei.
- Pelo menos arranquei um tufo daquele cabelo de Barbie. - ela tirou de dentro do bolso do jeans e quando eu vi aquilo, eu senti nojo:
- Por que raios você guardou isso? - Norman fez a mesma pergunta que eu estava prestes a fazer.
- Pra dar pra Joshua. - aquilo não fazia o menor sentido. - A vagabunda da ex namorada dele era líder de torcida. - ela deu de ombros. - Achei que ele se sentiria vingado.
Eu fiquei a encarando com um puro olhar de horror. Que tipo de pensamento psicótico era aquele? Além dela, o irmão dela era tão maquiavélico assim? Fiquei um pouco assustada.
- Olivia? - ouvi o ranger da porta e logo após, a voz de papai.
- Oi, pai. - eu me virei para ele, me preparando para explicar.
- Por que você tá em casa a essa hora? - ele olhou o relógio no seu pulso. - E por que seus amigos estão aqui? - o olhar dele pousou sobre Norman.
- Eu arrebentei a cara daquela escrota da Clarisse, senhor Forbes. - Tonya soltou quando eu estava abrindo a boca. - Daí Olivia chamou Norman para separar a briga e eles me trouxeram aqui pra consertar minha cara.
Papai só encarou a cena, perplexo:
- Pai, a Mariana não tem troco para o gelinho... - Ian parou de falar assim que ele entrou e viu todo mundo: - Oi, gente.
Norman acenou:
- Meu Deus, o que aconteceu com você!? - ele correu até Tonya como eu havia previsto.
- Longa história. - agradeci a Deus por ela não o contar.
- Ian, vá para o quarto. - papai mandou.
- Mas pai, a Mariana...
- Ian, vá para o quarto. - o tom dele estava mais duro.
Meu irmão só pegou a mochila que ele tinha deixado jogada na entrada e subiu as escadas.
Ele não devia estar na escola?
- Por que você bateu nela? - papai veio andando até onde estávamos.
- Ela me insultou e insultou Olivia. Na verdade, ela só chegou perto de nós, pra encher Olivia.
Papai se sentou na mesinha de centro, de frente para ela.
Ele assentiu.
Eu só observei. Não fazia a mínima noção do que ele estava para fazer a seguir.
Papai estava sério. Sério como eu não via fazia um tempo:
- Não vou dizer que me agrado desse tipo de comportamento, porque existem muitas razões pra isso estar errado. - ninguém deu um pio. - Mas entendo porque fez isso e agradeço por defender a minha filha. - ele estendeu a mão para ela e ela a apertou. - Só não faça mais isso.
- Obrigada, senhor.
- Você está bem? Precisa ir para o hospital?
- Não. Norman e Olivia fizeram um ótimo trabalho. - ela sorriu. - Obrigada, pessoal. - Tonya foi se levantando para ir embora.
- Por que vocês não ficam para almoçar?
- Ah, eu tenho que ir mesmo; tenho que falar com Joshua. - Tonya recusou e aquilo me surpreendeu.
- E você garoto? - papai perguntou.
- Eu adoraria.
- Você chega bem em casa? - papai disse para Tonya.
- Com certeza, Senhor. - ela disse já na porta. - Tchau, pessoal.
- Me liga depois. - eu disse antes de abraçá-la. - Tchau.
- Vocês podem me ajudar com o almoço? - papai perguntou e nós assentimos.

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EAT ME
DiversosComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...