24 - Pessoas Tocantes

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Norman

     - Vocês querem uma toalha ou algo assim? - a mãe de Tonya ( que gostava de ser chamada carinhosamente de Sam) gritou para eles, tentando sobrepor a sua voz ao ritmo da música.
     - Eu estou bem. Obrigada. - Olivia disse.
     - Não precisa, obrigado. - ele respondeu.
     Enquanto foram entrando na casa, notaram que tinha bastante gente que eles não conheciam. Provavelmente, pessoas da escola de Joshua.
     - Vem cá. Deixa eu te mostrar algo. - Tonya agarrou a amiga pelo braço e a puxou pela multidão.
     Antes de sumir no amontoado de gente, Olivia o deu um último olhar.
     Ele ainda estava aéreo. Norman ainda estava preso ao que havia acontecido há minutos atrás e sinceramente, ele não se importava de ficar naquele momento pra sempre.
     Ela retribuíra.
     O contato que eles tiveram naquela noite foi algo muito mais íntimo do que só um beijo; eles tiveram o contato de estar vulneráveis um ao outro, cedendo a perspectiva de que mantinha um sentimento em comum. Para ele, aquilo era tudo o que ele precisava para se sentir ainda mais confortável.
     Norman já havia percebido que gostava dela, entretanto, ele não tinha certeza alguma de que ela retribuía isso. Bom, parece que Deus o havia dado a deixa. E foi como se tocar os lábios dela, amplificasse tudo que havia nele; todos os sentimentos que foram irrigados por ações e detalhes dela.
     Ele estava ainda mais apaixonado por ela.
     - Graças a Deus você veio! - Joshua pousou as mãos nos ombros dele. - Não estou mais aguentando isso aqui.
     - Mas é uma festa. Para você. - Norman o lembrou.
     - Exatamente por isso. Sou antisocial. - o rapaz esclareceu.
     - Bom feliz aniversário, de qualquer forma. - ele o passou a sacola que trazia seu presente.
     - Vamos dar um tempo daqui. - Joshua saiu passando pelas pessoas, sem fazer nenhuna questão de não esbarrar em ninguém.
     - Sério que você não vai querer o presente? - questionou Norman.
     - Eu não seria tão otário a ponto de recusar. - ele disse pegando a sacola da mão do outro quando eles alcançaram o jardim na parte de trás da casa.
     - É pra cá que você corre quando quer evitar as pessoas? - Norman andava analisando o perímetro de braços cruzados.
     - Não. É para o meu quarto mesmo. Mas Tonya o trancou. - foi quase um dar de ombros. - Caraca, que coisa linda! - ele disse ao desembrulhar o presente.
     Era uma escultura do titã bestial de shingeki no kyojin. 
     Norman, particularmente, não achava aquilo nenhum pouco bonito. Era basicamente um macaco humanoíde que na sua concepção mais era assustador do que qualquer outra coisa, mas ele ficava feliz que ele havia gostado:
     - Foi Tonya quem deu a dica. - Joshua estava com um sorriso sutil.
     - Obrigado. - eles deram um abraço com direito a tapinha nas costas. - Bom, já que estamos aqui numa relação de estreitamento de laços e tal, posso perguntar uma coisa?
     - Vá em frente. - Norman se sentou no gramado com as pernas estiradas e o outro garoto repetiu o gesto, sentando ao seu lado.
     - Eu não sei se você vai ser totalmente sincero comigo, mas enfim, não vou cobrar que você seja mesmo.
     - Você sempre faz mistério quando vai perguntar algo?
     - Não estou fazendo mistério. - Norman sorriu com aquela constatação única.
     - Ok, então pergunte.
     - Aconteceu algo, não foi? Entre você e a Olivia? - foi como um breve chute na boca do estômago. Um daqueles bem dados que fazem você perder o ar na hora e não conseguir o sugar de novo, de tanto que seu estômago dói.
     - Por que você acha isso?
     - Porque ela parecia um tomate quando vocês chegaram e você a olhou. E porque eu sei que você gosta dela. - Norman estava de boca aberta. Não acreditava que era assim tão transparente; naquele momento, ele se perguntou se o garoto podia ver através de sua pele, suas células e átomos. - Mas por que você está respondendo uma pergunta com outra?
     - Sim, eu gosto dela. Gosto pra caramba, Joshua. - foi a primeira vez que ele se ouviu dizer aquilo e foi extremamente libertador, mas ele sentia como se algo ainda faltasse. Como se só dizer aquilo não bastasse.
     - Isso eu já sei. É óbvio. Você está fugindo da pergunta.
     - Eu a beijei. E ela respondeu. E caramba, foi o melhor beijo da minha vida! - ele disse com os pulmões livres, o ar voltando a correr lá dentro, em pura epifania.
     Um sorriso astuto foi se formando nos lábios de Joshua e Norman traduziu aquilo basicamente como "ah, eu sabia".
     - Você não vai dizer nada? - depois de um tempo, ele perguntou ao outro, que continuava sorrindo da mesma forma.
     - Você formam um casalzinho bonito. - foi sua consideração.
     - Não somos um casal.
     - E você está esperando o que exatamente? - ele quase conseguiu notar uma similaridade de irmãos ali, mas mesmo tentando um tom agressivo, ele ainda era bem mais sutil que Tonya.
     - Eu não sei. Eu... As coisas aconteceram e aí... A Tonya chegou e nós...
     - Você ainda não tiveram tempo de conversar. - ele entendeu e assentiu. - Se você quiser, dou um jeito pra você rapidinho.
     - Não precisa. Você mesmo disse que ela estava vermelha só de eu olhar pra ela. Vou dar um tempo. - Joshua o encarou com uma cara de dúvida:
    - Sério?
    - Sim. Deixa ela descontrair, ficar mais tranquila.
    - Ok. - Joshua voltou a admirar sua miniatura de titã bestial, por mais paradoxo que isso fosse.
     Ele não sentia que devia falar com ela ali, assim logo de cara; ele queria a dar um tempo para processar.
     Ele queria fazer as coisas certas. Queria poder pedir permissão para o pai dela, a levar num encontro, onde ela pudesse rir e se divertir. Queria poder fazer tudo da melhor forma possível, mas antes daquilo, Norman queria a dizer o quanto aquele sentimento significava; ele queria expressar a importância daquilo, não como algo frágil e tolo, mas como algo delicado e extremamente valioso. Ele queria dizer o quanto se importava com o fato de estar ao seu lado, porque no fim das contas, ele se sentia uma versão muito melhor dele quando estava ao lado dela.
     Olivia o fazia discutir sobre coisas aleatórias, coisas que ele nunca imaginara argumentar sobre. Ela o fazia rir com aquelas piadas sem graça e além disso, ela o fazia se sentir tocado em aspsectos que nem ele mesmo sabia descrever; ele se emocionava e encontrava beleza em coisas tão corriqueiras que já até tinha se questionado se andava tudo bem com sua saúde mental. Mas estava tudo bem, muito mais que bem, estava ótimo, porque era como se ele pudesse ver coisas que ficaram por muito tempo encobertas e que agora apareciam visível e resplandecentes aos olhos. Aquilo era um dom? Porque se fosse, ela o possuía
     - Então, você gosta "pra caramba dela"? - Joshua instigou, o trazendo de volta á realidade.
     - Sim. Não é só paixão. Eu sinto, sinto algo... Bem diferente dessa vez.
     - Só não a peça em casamento hoje, tudo bem? - os dois riram, como moleques que brincaram o dia inteiro e agora estavam cansados depois de tanta diversão. - Agradeço a Deus pelas pessoas com quem Tonya cruzou.
     Norman estranhou a mudança de assunto tão de repente, mas não gerou nenhum protesto sobre:
     - O que quer dizer com isso?
     - Eu só topei com gente idiota, cara. Minha ex namorada, os meus 'amigos' do colégio e até esse bando de idiotas que está lá dentro se divertindo na minha sala. - ele apontou para a sala, onde eles podiam ver várias sombras dançando. - Tonya encontrou você e Olivia e vocês são bacanas. - aquilo fez Norman sorrir. - Não me entenda mal, cara. Não estou reclamando. Deus tem um propósito para todas as coisas. Mas vocês, vocês são pessoas tocantes, que faz bem ter por perto.
     Norman pensou no que dizer a respeito daquela consideração profunda que ele não estava prevendo em nenhum momento. Depois de se questionar por um tempo, ele resolveu investir em uma pergunta:
     - Por que deixou a Sam fazer uma festa pra você com essas pessoas, já que não gosta delas?
     - Porque ela e a Tonya acham que estou deprimido e ficam tentando um monte de coisas para me animar.
     - Já tentou as dizer que não está deprimido? - Joshua sorriu, provavelmente admirando o fato do outro garoto ser tão perceptivo.
     - Elas são teimosas igual uma mula. - ele literalmente deu de ombros dessa vez. - Como não adianta dizer nada, eu só as deixo fazer o que quiserem.
     - Entendi. - antes que pudesse considerar qualquer outra coisa, a porta por onde eles haviam saído, se abriu e Tonya colocou a cabeça para fora e os encarou, quase os fulminando:
     - O que você estão fazendo aí, seus patetas?
   
  
    
    

     
    

    

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