41 - A Garotinha do Papai

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  Robert

     Ele chegou ao hospital tão confuso quanto ficou quando Tonya o ligou e pediu para ir até lá.
     Assim que ele chegou na recepção da emergência, avistou a garota de cachinhos curtos e ruivos.
     Ela parecia ter chorado há algum tempo atrás. Aquilo só o deixou num estado piorado de pânico:
     - Cadê? Cadê a Olivia? O que aconteceu com a minha filha?
     - Senhor Forbes, eu sou Tatiana

Zaynfield,

a psicóloga da escola de Olivia...
      - O que aconteceu com ela? - ele repetiu, com um tanto de impaciência.
      - Vou explicar tudo para o senhor, queira se sentar...
     - Eu não quero me sentar; quero ver a minha filha!
     - Robert, - Tonya usou um tom suave que quase nunca utilizava na vida. - Olivia está sendo tratada lá dentro. Ela não está acordada. - os olhos do homem grandalhão e de farda à sua frente se encheram de água. - Você precisa ouvir o que a Tatiana tem a dizer.
       A tentativa da menina com certeza foi para tranquilizar o homem, entretanto aquilo só o deixou mais em choque; como um adolscente conseguia saber a gravidade de algo a ponto de ser tão equilibrado em um momento como aquele? Se aquilo estava acontecendo, era porque Olivia estava muito mal, não era?
      Robert se sentou e esperou pela psicóloga:
      - Você e sua filha sofreram uma perda muito grande recentemente. - ele abaixou a cabeça nesse momento. - Cada pessoa tem uma forma diferente de lidar com isso. Olivia acabou se perdendo nesse processo e entendo que o luto criou outros problemas.
     - Ela te contou isso?
     - Não. Tudo o que estou assumindo é pela minha avaliação quanto profissional. Não tive a oportunidade de conversar com ela de forma franca. - o homem apenas assentiu e a deixou continuar. - O luto pode ter sido um dos motivos que gerou um transtorno alimentar.
     - Transtorno Alimentar? Mas como? Como isso é possível? Ela sempre comeu super bem. Olivia nunca teve frescura alguma para comer. - protestou.
     - Ela nem sempre teve esse problema, de fato, mas a morte da sua esposa pode ter sido um estopim, entende? - tentou simplificar. 
     - Mas que tipo de transtorno, doutora?
     - Pelo que eu pude identificar, anorexia.
     - É impossível! Olivia não passa uma refeição! E ela sempre teve o mesmo peso. Sempre foi magra.
     - Ela nunca pulou uma refeição? Com a desculpa de mal estar ou de que não estava com muita fome? Quando ela de fato fazia as refeições, ela limpava o prato em alguma delas? - o rosto do homem começou a sofrer de espasmos. - Algum dia, você viu ela fazer as três refeições completas?
      Robert ficou em silêncio.
      Ele não conseguia acreditar. Não conseguia nem processar o que aquela mulher estava dizendo.
      As coisas que ela estava falando faziam sentido, mas ele não queria pegar aquilo para ele. Não queria atribuir aquilo á sua linda garotinha. Não queria pensar na possibilidade de ela estar tão doente assim.
     E além disso o doía também o outro tapa que ele estava levando; o fato de ele não ter percebido nada durante esse tempo todo.
     - Como que... Como eu não percebi nada, meu Deus do céu!? - ele apoiou o rosto nas mãos.
     - Você não deve se culpar, senhor Forbes. Pessoas com trastornos alimentares costumam encobrir a situação para que ninguém se incomode e os pertube.
     - Não fale assim dela, como... - ele estava quase chorando, sua voz estava por um fio. - Só não fale assim, por favor. - Tatiana asentiu, compleendendo perfeitamente a situação do homem:
     - Me desculpe.
     - Eu nunca vou me perdoar por ter sido negligente assim. - ele só sabia negar com a cabeça.
     - Ei, Olivia precisa de apoio agora. - Tatiana disse, tentando achar seus olhos. - Você ficar cheio de culpa não vai ajudá-la. Precisa estar lá por ela; você não sabia, mas agora que sabe, pode ajudar e muito. - Tonya tentava emcorajar, assentindo lá atrás com um sorriso caído.
     - Ela está muito mal?
     - O que eu pude detectar é que ela não está em um estágio avançado. Acredito que ela está migrando do estágio inicial para o intermediário. - ele assentiu, tentando enfiar aquilo dentro da cabeça e se conformar com pelo menos uma parte da história.
     - E por que você não teve uma conversa franca com ela sobre isso?
     - Porque ela não admite que há um problema, Robert. - quem tomou a vez nesse momento, foi Norman, dando um passo na direção deles. - Ela fica muito irritada quando tocamos nesse assunto.
     - Tanto que foi Norman que veio me trazer a suspeita e eu confirmei observando os comportamentos dela. - acresceu.
     - Vocês tentaram falar com ela. - parecia mais uma pergunta:
     - Ela não reagiu nada bem. - Tatiana comentou. - Creio que os comportamentos dela se agravaram, por isso estamos aqui.
     - O que vocês acham que aconteceu? - o pai dela perguntou.
     - Acho que ela se manteve sem a ingestão de nenhum alimento por um tempo longo. Talvez água, mas só isso. - Robert passou a mão no rosto, com agonia. - Como ela é magra, não tem muita reserva de gordura, o corpo começa a dar sinais de desnutrição muito rápido. Eu chutaria que o máximo que ela deve ter ficado sem comer pode ter sido dois dias. 
     - Meu Deus do céu! Eu nem sei o que... - ele perdeu o raciocínio no meio da sentença.
     - Ela passou mal na sala. Desmaiou. - Tonya disse como informação adicional.
     - Na verdade, ela já não estava bem de antes. Ela estava muito pálida e parecia estar aérea. - Norman adicionou.
     - Tatiana

Zaynfield?

- uma moça com cabelos extremamente loiros e olhos claros com uma roupas azul claro saiu de dentro da sala por onde Olivia havia entrado. - Você é a responsável por Olivia Forbes, correto?
     - Na verdade, eu só estava esperando o pai dela chegar.
     - Eu sou o responsável, Robert Forbes. - ele ofereceu a mão para a mulher.
     - Eu sou Lauren Bloom. A médica chefe do departamento de nutrição desse hospital. - ela apertou a mão dele.
- Fui chamada para verificar o caso da sua filha.
     - E aí, doutora? Como ela está? Está bem? Ela acordou? - Robert disparou as palavras.
     - Olivia está estável no momento. - evidentes sinais de alegria reverbaram pelo ar. - Ela acordou durante o tratamento e estava agitadíssima. Tivemos que administrar um calmante, poir isso está dormindo. Mas em breve, acredito que em uma hora - ela checou seu relógio de pulso. - Deve estar acordando.
     - Qual tratamento deram à ela? - Tatiana quis saber.
     - Olivia está apresentando sinais de desnutriçao, o que significa que o corpo dela está carecendo de alguns nutrientes primordiais para a manutenção do corpo. Iniciamos um tratamento de reidratação, onde administramos fluídos para auxiliar com esses nutrientes por meio de terapia IV, intravenosa. - ela explicou de forma clara para todos. - Entretanto, isso não é tudo; ela está anêmica.
     - Meu Deus! - Robert continuava passando a mão no rosto de forma agoniada:
     - A anemia está muito avançada,  doutora Lauren?
     - Está em estágio intermediário. - Tatiana assentiu. - Eu não consegui falar com a paciente, mas pelos relatos que me deram, eu a diagnostiquei com anorexia.
     - Era a avaliação que eu havia feito também. - Lauren balançou a cabeça ao comentário da psicóloga.
     - Sabe se o quadro pode ter evoluído para uma bulimia? - a nutricionista continuou.
     - Olivia está em processo de negação, então não consegui colher essa informação. - Lauren anotou alguma coisa em um papel que estava em uma prancheta que ela segurava. 
     - A anorexia dela não parece estar em estágio avançado. Os órgãos estão funcionando corretamete, o coração não foi prejudicado apesar de estar um pouco mais lento que o normal, mas acredito que isso foi devido ao trauma. - todos assentiram. - Ela não apresenta hematomas, as unhas e os cabelos parecem estar bem, só a pele que parece estar um pouco desidratada.
     "Vou pedir uma bateria de exames só para confirmar se está tudo certo realmente e quando a paciente acordar quero falar com ela para descobrir mais algumas coisas".
     - Doutora, você sabe a causa do desmaio?
     - Pai, pelo que conseguimos identificar e a julgar pelo histórico da sua filha, ela pode ter passado um tempo maior ao que estava acostumada sem comer.
     "Pessoas com anorexia podem passar muito tempo sem se alimentar, só ingerindo água. E quando comem, são porções ínfimas que não ajudam muito.
     "Eu acredito que ela ficou muito mais tempo sem comer do que estava acostumada e aí o corpo dela provavelmente deu sinais anteriores ao desmaio. Como eu disse, ela apresenta um quadro de desnutrição".
     O homem só balançou a cabeça mesmo.
     - Essas coisas tem um tratamento, dourota Broom? - foi Norman quem perguntou dessa vez.
     - Antes de indicar o tratamento, preciso falar com a paciente, mas sei que ela precisará fazer acompanhamento com uma equipe multidisciplinar. Isso inclui, um nutricionista, inclui um cardiologista, inclui uma psicóloga, um endocrinologista, um gastro... - relatou. - A parte da terapia é extremamente importante, porque estamos lidando com um transtorno alimentar; é uma patologia que inicia psicológica, mas que resulta em fins físicos.
     - Obrigada, doutora.
     - Pedi para as enfermeiras me avisarem quando ela acordar e eu aviso vocês. Alguma outra dúvida?
     - Não. - Tatiana respondeu por todos.
     - Estarei pelo hospital - a médica se foi.
     Naquele momento, Robert sentiu duas coisas: a primeira, era alívio, em saber que a sua garota iria abrir os olhos de novo. E a segunda era medo, porque ele não sabia como as coisas seriam dali pra frente; não sabia o que teria que fazer para a ajudar.
     Entretanro, mesmo que estivesse apavorado, ele era seu pai e estaria lá para ela; mesmo que não tivesse a miníma noção do que fazer, tentaria.

     
      

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