12 - Luzes Azuis

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     Assim que chegamos, nos surpreendemos com o ambiente. Eu já havia vindo em outros bailes, mas daquela vez, Tanajo havia se inspirado.
     Como previsto, haviam poucas pessoas, mas aquilo só permitia que o clima ficasse ainda mais suave.
      As luzes oscilavam entre um azul calmo e um roxo eletrizante; haviam balões das mesmas cores espelhados por toda a extensão do chão. Havia uma área somente com mesas onde haviam pequenas e delicadas jarras de vidro com flores sortidas. Elas me lembravam a do meu vestido.
     Havia um palco, onde um garoto metido a DJ estava e haviam algumas pessoas ali e aqui.
     - Você veio! - Tanajo veio correndo da outra ponta da quadra até onde nós estávamos. - Tonya me disse que não viria.
     - Isso foi antes. - a garota japonesa abriu um grande sorriso para mim:
     - Bom, sejam bem vindos. Se precisarem de algo, estarei por aí.
     - Ela parece legal. É sua amiga? - Norman perguntou, me dando um olhar sutil.
     - Não chega a ser amiga, mas ela é legal. - ele apenas assentiu.
     - Sua honestidade é uma característica forte em você. - ele observou, puxando uma cadeira e se sentando.
     - Como assim? - puxei uma cadeira do outro lado da mesa e me sentei também.
     - Nós somos amigos? - eu o encarei e fiquei tentando achar um jeito correto de responder aquilo sem soar agressiva.
      Norman só ficou me encarando e quando eu finalmente abri minha boca para tentar algo, ele me cortou:
     - Viu? É disso que estou falando.
     - Desculpe, eu não faço por mal. É que...
      - Relaxe. - seu tom ventou em meu rosto. - Não estou te julgando. - me senti mais confortável - Mas espero que possamos nos tornar amigos um dia. - eu sorri.
     Talvez nós estivéssemos indo no caminho certo.
      - Achei você! - ouvi um tom um pouquinho mais elevado e soube que era Tonya.
      - Oi! - eu sorri e me levantei para cumprimenta-la.
      - Você está muito bonita. Meu Deus do céu! - ela fez questão de frizar. - Hey, Norman, já falou isso pra ela? - ela deu um tapa (não tão suave assim) nele com a bolsa estojo que usava.
      - Eu até tentei, mas ela não aceita. - ele deu de ombros e eu o olhei de esgoela.
      - Vocês estão deixando a garota constrangida. - um garoto bem mais alto que Tonya disse.
      - Ah, esqueci. Gente, esse é Joshua. O meu maninho. - ela precisou inclinar um pouco a cabeça para o encarar.
      - Prazer, sou o Norman. - ele ofereceu a mão para o outro garoto e eles se cumprimentaram.
      - Sou a Olivia. - ofereci minha mão também.
      - Eu sei. Tonya não para de falar de você. - a encarei de forma curiosa e ela deu de ombros. - Onde tem comida nesse lugar?
      - Eu acho que é ali,  cara. - Norman apontou. - Vamos lá dar uma olhada. - Joshua assentiu. - Meninas, vocês querem algo?
     - Todos os salgados que tiver e uma coca. - Tonya pediu e o irmão dela apenas negou com a cabeça:
     - Você vai acabar se matando assim.
     - Cuida da sua vida.
     - Forbes? - Norman me trouxe à tona.
     - Uma água. Estou com sede. - ele assentiu e os dois partiram.
     - Linda a sua relação com seu irmão. - comentei, voltando a me sentar.
     - Ele não está de muito bom humor. Que bom que Norman está fazendo o trabalho voluntário. - ela os observou ao longe.
     - Ele não parece má pessoa.
     - Não é. Ele é só um cara alto, parecido com um gótico durão com aquela franja horrível, mas que na verdade tem um coração de manteiga derretida.
     - Você é meiga. - ela me olhou fazendo uma careta e eu jurei que ela me xingaria. Eu ri.
     - Fique tranquila, dona Olivia. Nós não vamos ficar empatando a noite de vocês.
     - Como assim, "empatando"?
     - Você não é tão bobinha assim. - ela cemicerrou os olhos pra mim. - Você e Norman. Beijinhos e tal.
     - Por que você acha que eu e o Norman nos beijaríamos?
     - Porque ele gosta de você. - eu quase engasguei com a minha própria saliva.
     - Tonya, você não acha que isso é um pouco prematuro?
     - Não sei. Pergunta pra ele.
     - Não. Essa sua suposição? Não faz duas semanas...
     - Olivia, ele olha pra você como se você fosse uma obra de arte.
     - O que você está fazendo que a menina está vermelha de novo? - de repente eles estavam de volta e eu fiquei com medo de Norman ter escutado algo daquela conversa doida.
     - Eu estava dizendo...
     - Nada. - eu a cortei. - Sua irmã é bem rabugenta.
     - Eu sei. - ele pousou os salgados em cima da mesa.
     - Sua água. - Norman pousou uma garrafinha em cima da mesa.
     - Obrigada. - eu sorri, meio desconcertada.
     - Gente, vocês querem salgados? - Tonya ofereceu e eu neguei com a cabeça. - Não tinha nenhum docinho?
     - Na verdade tinham uns muito bonitos. Você quer que eu pegue? - Norman se ofereceu.
     - Eu quero. - e ela obviamente aceitou.
     Ele se levantou e saiu andando.
     Enquanto Tonya contava piadas nada a ver e o irmão dela apenas a encarava com cara de um tédio absoluto, eu vi uma figura entrando pela porta lá no fundo.
     Ele estava vestido com aquele terno branco que usou no nosso primeiro encontro.
     Eu realmente gostaria de saber porque ele escolhera aquele terno especificamente para aquela data:
     - Droga. - eu disse quando ele estava se aproximando.
     - Que foi?
     - Nada. - eu tentei me recompor.
     Eu ainda não havia a contado sobre Will:
     - Oi, gente. Oi, Olie. - e ele chegou na mesa.
     Tonya sussurrou um oi e foi tratando de se levantar e tirar o irmão de lá.
     - Olivia, eu quero me desculpar com você. - eu cruzei os braços e não disse nada. Era minha forma de demonstrar que eu estava ouvindo. - Eu fui um babaca. Eu não tinha a intenção de te chatear. Aliás, de te chatear mais ainda. - ele se corrigiu a tempo. - Podemos ficar de boa? - ele ofereceu a mão para mim.
     - Entendo que você não teve intenção, Will. - eu mantive exatamente o mesmo tom. - E não é a primeira vez que isso acontece. Você nunca tem a intenção e acaba me machucando de alguma forma. Mesmo quando você já não está mais por perto. - eu me levantei. - Eu desculpo você, mas por favor, não continue me procurando. - eu saí andando até onde meus pés quisessem me levar.
     E eles me levaram até a mesa de comidas. Onde Norman estava:
     - Oi?
     - Oi. - eu disse encostada na mesa.
     - Eu estava voltando quando vi vocês dois conversando. - eu assenti. - Está tudo bem ou devo quebrar o nariz dele? - eu sorri com o tom genioso e meticuloso que ele usou.
     Norman não parecia nenhum pouco do tipo que quebrava narizes:
     - Está tudo bem. Eu pedi pra ele não me incomodar mais.
     - Lembra a parte que eu falei que eu queria que você se divertisse?
     - Lembro.
     - Então, - ele estendeu a mão para mim. - Dança comigo, senhorita Forbes? - os olhos dele esbarraram nos meus e se fixaram lá.
     Peguei a mão dele e ele me guiou para a pista de dança. A pista de dança que estava deserta.
     Eu geralmente não gostava de ser o centro das atenções, mas não havia muita atenção sendo dada a nós dois e sendo sincera, naquele momento, eu não senti como se aquilo importasse muito.
     A música não era a mais lenta, mas ainda assim o ritmo de nossos passos combinava com ela:
     - Eu nunca dancei em um baile de escola. - ele disse, num tom baixo.
     - Você está indo muito bem para uma primeira vez. - sua resposta foi um sorriso.
     - Posso fazer uma pergunta sem parecer estranho? - o seu tom ainda estava baixo.
      - Pode.
      - Você gosta dele?
      Meus olhos se fixaram nos dele que pareciam ter ficado ainda mais cinzentos de uma hora para a outra:
     - Eu já fui louca por ele. Will foi o primeiro cara por quem me apaixonei, mas eu não sinto mais nada por ele. - respondi sem nem piscar.
     - Absolutamente nada?
     - Absolutamente nada. - confirmei.
     - Parece que ele não se sente assim. - ele deu uma jogada de olhar para alguma direção e eu vi que Will nos encarava de onde estava sentado. - Ele ainda gosta de você.
     - Felizmente isso não é um problema meu. - o sorriso de canto de Norman só se alongou:
     - Eu decidi que amo sua honestidade. - eu sorri também. - Posso saber o que aconteceu entre você e o senhor olhadinha?
     - Ele foi o primeiro garoto que beijei. O primeiro garoto que eu levei em casa. Meus pais gostaram dele. - Norman sorriu. - Nós namoramos um bom tempo e aí minha mãe morreu. - a música ficou um pouco mais lenta e eu me senti hipnotizada. - Eu fiquei mal, mal mesmo. Will me disse que não podia ser alguém pra mim naquele momento.
     - Ele simplesmente saiu fora?
     - Sim. - eu assenti. - E eu sinceramente prefiro. No final das contas não é que ele não podia ser alguém em um daqueles momentos, mas era exatamente que ele não podia ser alguém para mim naquele momento. Eu não era alguém que valia a pena para ele ser alguém naquele momento. - só saiu de forma calma e quase sem perturbar nenhuma ordem cósmica.
     - Eu acho que isso se resume a ele ser um babaca.
     - Eu fico feliz por ele ter me dito a verdade. - ele acompanhou minha fala. - Não quero ninguém ao meu lado se não for pelos motivos certos.
     - E quais são?
     - Porque elas me amam. Porque elas querem estar por perto. Independente do que aconteça. - Norman assentiu bem devagar.
     - Acho que eu nunca tinha parado para pensar assim.
     De repente pareceu que as palavras dele estavam saindo no ritmo da música. Devagar e melódicas:
     - Nos motivos pelos quais as pessoas ficam por perto.
     - Eu também nunca tinha pensado nisso anteriomente. - admiti.
     Depois disso, nós só seguimos o ritmo da música. Estava agradável e tudo o que se passou na minha cabeça naquele momento foi como aquela música era longa, até que eu me atentei  mais ao que estava saindo das caixas de som. Era outra música e provavelemnte já deviam ter se passado algumas naquele meio tempo.
     - Posso te perguntar mais uma coisa? - ele disse com as mãos respeitosamente pousadas na minha cintura.
     - Se você não for me perguntar sobre Will de novo. - Norman sorriu e eu refleti seu gesto:
     - Será que eu posso te abraçar? - eu o encarei e havia sido o olhar mais profundo que nós havíamos trocado desde então.
     Observando o cinza dos olhos dele, percebi que era como se a tonalidade oscilasse ao mesmo tempo que sua pupila ia dilatando e voltando ao normal. Era quase mágico.
     - Mas é claro. - instataneamente, os braços dele se envolveram ao meu redor e ele me trouxeram para mais perto.
     Quando Norman fez aquilo, eu senti seu cheiro. Aquilo não era sabonete. Não era um perfune específico. Era como sentir o cheiro do infinito, porque parecia um recurso nada escasso e que sempre existiria. Eu senti como se aquele cheiro pudesse colorir o oxigênio que estava dentro dos meus pulmões.
     Fechei meus olhos e aproveitei, porque parecia ainda mais aguçado. Discretamente, respirei um pouco mais fundo.
     - Obrigado mais uma vez, por me deixar a trazer no baile. - eu me afastei só a ponto de o encarar:
     - Eu que agradeço por você insistir. - e voltei a deitar minha cabeça em seu cheiro.

     
     
     

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