46 - Fazendo Crianças Dormirem

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Norman

     - E aí? O meu não vence o da sua irmã? - ele se referia ao sanduíche que havia preparado e o qual Ian tragou de tal forma que não se pôde nem ver.
     - Olha, ficou muito gostoso mesmo. O seu quase chega perto do de Liv. - a criança disse lambendo os dedos. - Eu daria nota dez.
     - Ué, mas o dez não é o de Olivia?
     - Não. O da Liv é onze. - Norman sorriu com o comentário engraçadinho do moleque. - Norman, você vai cuidar de mim?
     - Na verdade, seu pai pediu para eu chamar sua vizinha, porque já tinha combinado com ela. - explicou.
     - Ah, não. Eu quero que você fique, daí nós podemos jogar video game. - ele insistiu.
      - Vou ver com seu pai se tem algum problema. - ele já foi pegando o celular e procurando o contato de Robert.
      Chamou umas duas vezes, antes de o homem atender:
      - Alô?
      - Oi, Robert. É o Norman, tudo bem?
      - Oi, garoto. Tudo bem e por aí? Aconteceu alguma coisa? - Norman percebeu o quão assustado e escaldado o homem estava, mas sinceramente não o julgava, porque tudo o que ele havia descoberto, ainda jogado de uma vez em cima dele, fora coisa demais.
     - Não, não aconteceu nada. Está tudo bem por aqui, é só que Ian pediu para que eu pudesse ficar cuidando dele. Tudo bem para o senhor?
    - Se isso não for atrapalhar você.
    - De forma alguma. Seria um prazer para mim.
    - Então não há problema. Vou ligar para a vizinha e avisar que não preciso mais que ela fique com o Ian. - ele disse com um tom mais calmo. - E obrigado, filho.
     - Imagina, não precisa agradecer. - Norman ainda considerou algo. - Robert, como ela está?
     - Está descansando. Eles decidiram deixar os exames dela para amanhã, porque ela estava exausta e a doutora Bloom recomendou que ela repousasse. - Norman assentiu. - Você vai vir a visitar amanhã?
     - Eu gostaria. O Ian irá comigo se estiver tudo bem.
     - Claro, imagino como ele deve ter ficado agitado. - comentou.
     - Ele vai ficar bem. Não o alarmei.
     - Obrigado.
     - Só não diga nada para Olivia, ok? Quero fazer uma surpresa.
     - Não gosto muito disso, Norman. - o tom do homem se aborreceu um pouco. - Ela ficou triste porque você não veio a ver. Ou porque ela achou que você não veio a ver. - Norman abaixou a cabeça. - Se ela me perguntar, vou falar.
     - Claro, me desculpe.
     - Tenho que ir. - ele se despediu e desligou a chamada.
     - E aí? Ele deixou? - Ian apareceu, saculejando sua mão.
     Ele sorriu antes de o responder:
     - Deixou. - ele viu o garoto sair comemorando alegremente para a sala de estar:
     - Você quer jogar aqui ou no quarto?
     - Pode ser aqui mesmo na sala.
     - Vou buscar o video game. - ele praticamente voou pelas escadas.
     Norman aproveitou a deixa para ligar para sua mãe:
     - Oi, bebê. Onde você está?
     - Oi, mãe. Eu estou na casa da Forbes.
     - Hum, safadinho. Estava fazendo o que aí, ein? - ela usou o tom mais maldoso que tinha para falar aquilo.
     - Mãe, pelo amor de Deus. O caso foi sério.
     - O que aconteceu? - o tom dela mudou drasticamente.
     - Olivia passou mal. A doença agravou e a levamos para o hospital...
     - Ah, meu Jesus amado! E como ela está, Norman?
     - Estável. - ele respirou bem fundo. - Acho que ela finalmente entendeu que está doente.
     - Deve ter sido um choque.
     - Eu não sei. Eu não a vi.
     - Por quê?
     - Ela estava brava comigo e com a Tonya, lembra? - ele respirou fundo de novo. - Fiquei com medo de ela me ver e isso causar algo ruim à ela.
     - Então você não vai ver a menina da sua vida?
     - Parece que ela quer me ver...
     - É óbvio, Norman. Dá pra ver o olhinho dela brilhando quando vê você. - ele sorriu, a dona Lynda Redwater era muito perceptiva; e olha que ela só havia visto a garota uma vez.
     - Vou a ver amanhã.
     - Eu quero ir também.
     - Tudo bem, vamos juntos. - ela confirmou. - Vou passar a noite cuidando do irmão dela, ok? Porque o pai dela precisou ficar no hospital.
     - Claro, querido. Sem problemas. Que horas vamos amanhã?
     - Pensei em irmos ao meio dia, porque vou levar o Ian para a ver também.
     - Beleza. - ele ia desligar, mas antes disso, a voz dela voltou a ser proferida: - Filho, vai dar tudo certo. Deus já está no negócio. - ele assentiu.
     - Amém, mãe. Eu sei que sim. - ela se despediu e ele desligou.
     - Você quer jogar goat simulator? - Ian surgiu atrás dele carregando um xbox one.
     - Você vai ter que me ensinar, porque nunca joguei.

     Já eram quase dez horas quando Norman o colocou na cama:
     - Não conte para sua irmã que você foi dormir tão tarde.
     - Segredo nosso. - ele cruzou os dedos e se virou para apagar o abajur.
     Norman se acomodou no colchão no chão, ao lado da cama do menino.
     - Hey, Norman - ele se virou de volta para o garoto. - Obrigado. Hoje foi muito divertido. Espero que possamos fazer isso mais vezes.
     - Vamos sim, amigão. Você vai ver.
     - Seria mais legal ainda se a Liv tivesse aqui, né? - mesmo no escuro, foi possível ver o menino dar um leve sorriso de canto.
     - Na próxima ela com certeza vai estar e vai brigar com a gente por termos comido tanto doce. - o menino soltou uma gargalhada e Norman sorriu.
     - Provavelmente. Ela sempre é muito rabugenta com doces.
     - Sério?
     - Sim. Eu não entendo porquê. Ela não era assim. Tenho a impressão que foi depois da morte de mamãe.
     - Entendi. - aquilo parecia uma informação importante.
     - Boa noite, Norman.
     - Boa noite amigão. - e ele virou para o lado para dormir.
     
     
      
      
     

    
       

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