48 - Saudade Enrolada em um Amontoado de Felicidade

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     Nos segundos seguintes à saída de Lynda, eu tentei me preparar. Tentei me preparar para o que iria vir, porque eu sabia que seria um turbilhão de coisas. Mas eu não estava esperando por duas coisas: a primeira era que eu não estava esperando que quando eu o visse de novo, as emoções e os sentimentos que já estavam tão vivos, se aflorassem ainda mais. E a segunda coisa era que quando os meus olhos esbarraram com os dele, (antes de se alinharem perfeitamente), eu soube. Eu definitivamente soube.
     Eu não só estava perdidamente apaixonada por Norman. Era algo que ia muito mais além. Não era só animaçao por o ver, ou empolgação para estar perto dele. Eu gostava dele. Eu gostava para um caramba dele.
     E agora tudo estava muito claro e separado na minha cabeça. Eu podia ver tudo escrito em uma única cor. Eu entendia que todos aqueles sentimentos "intensamente misturados" que eu sentia por Norman, eram na verdade estruturas que formavam o quanto eu gostava dele e que aquilo era muito mais intenso do que simplesmente 'estar apaixonado'; era bem mais forte.
     - Norman - minha voz foi fraca e contida, por isso achei que ele não tivesse ouvido, mas assim que ele ergueu os olhos para os meus de novo, eu tive minha confirmação:
     - Oi, Forbes. - ele sorriu e eu me senti abençoada.
     Eu sorri de volta e aproveitei que ele estava perto da cama. Me levantei, (trazendo meu soro junto comigo) e avancei até ele, mas me interrompi antes de qualquer coisa.
     Nós estávamos tão perto e eu só queria parar para o encarar um pouco. O sorriso dele estava lá como sempre esteve: lindo e de ponta a ponta.
     Os olhos dele estavam naquela mesma tonalidade de cinza que eu vi antes de apagar na sala de aula; intensos, ativos e brilhantes.
     Norman estava mil vezes mais bonito que o normal e eu não sabia o que havia de tão especial nele naquela ocasião, mas eu queria descobrir.
     Meus olhos terminaram a vistoria nele e voltaram a acompanhar seus olhos tão suaves. Quando isso aconteceu, o sorriso dele se esbanjou ainda mais e eu amei a sensação; eu também sorri, apesar de tudo. Apesar de eu me sentir horrível por ter sido uma vaca com ele, apesar de eu nem saber como estava conseguindo o encarar de tanto remorso, apesar de eu nem saber como elaborar uma desculpa sincera o suficiente, eu sorri e foi um sorriso de um milhão de watts.
     Era contagiante estar tão perto assim:
     - Será que eu posso... Eu posso... - eu disse tentando formular uma frase, mas de repente eu me senti nervosa como na noite do baile.
     Era como se nós estivéssemos indo no nosso primeiro encontro.
     Norman graças a Deus era rápido nas sacadas e só me abraçou.
     Foi um abraço gostoso. Gostoso demais para me permitir pensar em qualquer coisa ruim que pudesse estar sondando minha cabeça.
     Eu não sabia se eu estava muito embreagada pelo efeito dele, mas abraçar Norman naquela tarde, exatamente naquela ocasião, fez eu me apaixonar ainda mais por ele. Porque ele me dera o que eu precisava.
     Eu não pedira; ele simplesmente chegou e me deu com toda a doçura do mundo.
     Ele me apertou com uma vontade e eu retribuí na força que eu ainda tinha.

     Eu ainda estava sorrindo e senti que ele começou a gargalhar nas minhas costas.
 

   Preciso dizer que era o melhor som do mundo para se ouvir depois de tanta coisa traumática. Era a própria felicidade falando.
     Comecei a gargalhar junto com ele e algo coneçou a se mover no meu peito.
     Que bom que eu estava num hospital, porque eu podia ter um ataque cardíaco a qualquer momento com meu coração batendo daquele jeito.
     Norman me soltou e me encarou. As mãos dele seguraram meu rosto e nós sorrimos um para o outro, como se tivéssemos atingido o capítulo final da história de um livro muito complicado para dar certo.
     Eu via satisfação no fundo daquele cinza todo.
     Ele mergulhou nos meus lábios e eu rodeei seus ombros com os meus braços com uma leveza que nunca havia existido em mim, mas que por algum motivo aparecera agora.
     As mãos dele se fizeram firmes na minha cintura e quando ele fez isso, senti um arrepio diferente na minha espinha. Era diferente de tudo que eu já havia sentido antes, era como se aquilo me ligasse na tomada e agora eu pudesse ver as coisas muito mais claras do que antes; como se tivessem tirado as viseiras de mim e eu pudesse ver as coisas de verdade.
     Eu estava feliz.
     Tinha certeza.
     Nós não havíamos trocado nem cinco palavras direito e eu estava definitivamente feliz.
     A sensação de o tocar, de estar próxima, de me conectar com ele, era extraordinária e eu não queria que parasse. Eu nunca queria parar.
     Em algum lugar do meu subsconsciente, eu sabia. Eu sabia que havia tanta coisa pra falar, pra acertar, pra partilhar, mas eu não queria. O que estava acontecendo ali era mil vezes mais interessante do que quaisquer mil palavras que eu pudesse dizer.
     O que estava acontecendo ali, era incrível e era a primeira vez que eu deixava acontecer sem questionar se eu merecia ou não.
     Eu queria Norman. E eu estava com ele. E isso era tudo que importava. E se nós pudéssemos ficar assim, eu perduraria pelo máximo de tempo que eu conseguisse.
     Uma de suas mãos voltou ao meu rosto e o polegar dele fez carinho na minha bochecha.
     Senti uma vontade incandescente de gargalhar alto.
     Achei estar enlouquecendo, porque tudo fluía de uma forma muito acelerada na minha cabeça, mas eu sabia que na realidade nada passava de segundos.
     Norman com certeza estava me causando efeitos colaterais, mas sinceramente, eram os melhores que podiam ser causados e eu não estava nem aí se eu tomasse doses exageradas.
     Ele foi se afastando aos poucos, mas não muito; ele ainda estava a milímetros de mim.
     Norman sorriu e eu retribuí. Não tinha como:
      - Oi, Forbes. - eu só conseguia notar agora o quanto eu tinha sentido falta de ouvir aquilo:
      - Olá, Redwater.
      - Então eu ganhei um apelido? - o sorriso estava lá, cada vez mais desabrochado:
      - U-hum.
      - Como você está? - ele perguntou, me guiando de volta para a cama.
      - Agora, esplêndida. - eu nem sabia que tom eu estava usando, mas ele estava lá. - Mas eu...
      - Pelo amor de Deus sem desculpas e comentários tristes. - ele me cortou e eu me questionei se ele podia ler pensamentos.
     - Mas eu fui uma vaca! Com todo mundo. Quero me retratar. - protestei.
     - Primeira coisa: acho que Tonya está sendo uma má influência para você. - o meu sorriso foi na lua porque o tom dele continuava exatamente igual. Não mudara, não se distanciara e nem esfriara. Tudo parecia estar tão bem. - E segundo: eu disse que esperaria por você.
     Um choro criptou na minha garganta e eu senti que estava sendo tomada por uma avalanche de sentimentos:
     - Eu disse que estaria aqui por você e que esperaria até que você estivesse pronta.
     Abri minha boca e sorri, porque fiquei tímida de repente.
     Eu de verdade estava com um problema muito sério de não saber nem o que estava acontecendo comigo e de nem conseguir ter controle sobre nada.
     - É, eu acho que estou. - eu não sabia se aquilo era possível, mas o rosto dele parecia ter clareado ainda mais. - Norman, eu não sei se isso está certo e eu quero acreditar que esteja, porque... Porque eu quero muito sentir tudo isso com você - dei um sorriso embaraçado. - Mas eu tenho algumas questões e pode ser bem complicado lidar com elas...
     - Eu não to nem aí para o quão complicado pode ser. - ele gargalhou e eu sorri.
     - A verdade é que eu não quero deixar isso - olhei em volta. - afetar você; não quero te prejudicar. - eu respirei fundo para continuar. - Mas eu quero muito namorar com você e eu não sei muito bem como dizer...
     - Você não vai me prejudicar, Forbes. Só tem que sempre me falar a verdade, sobre como está se sentindo e o resto nós damos um jeito. - eu assenti, sem botar tanta fé naquilo quanto ele. - Então - ele estendeu a mão para mim. - Pronta?
     Encarei a mão dele e me senti nervosa como se estivesse tomando a decisão mais séria da minha vida.
     Peguei a mão dele:
     - Pronta.
     - Vamos fazer as coisas direito, peraí. - ele soltou minha mão e saiu andando.
     - Norman? - mas ele já tinha passado pela porta.
     Não entendi nada. Fiquei super confusa. Eu deveria o dizer isso? Que eu me sentia confusa? Porque fora com o que eu acabara de concordar.
     Ele voltou e voltou acompanhado do meu pai, do Ian e da mãe dele.
     Entendi menos ainda.
     - Norman, o que isso? - sussurrei, quando ele se aproximou.
     - Vamos começar já do jeito certo. - ele não ia fazer o que eu achava que ia, não é? - Senhor Forbes...
     - É Robert, filho. - papai o corrigiu.
     - Desculpa, mas para essa ocasião preciso ser formal, - ele comentou e pigarreou para voltar ao tom anterior. - Senhor Forbes e mini senhor Forbes, - Ian só ria. - Eu preciso dizer algo.
     Todos ficaram apreensivos. Até eu fiquei apesar de suspeitar das intenções dele.
     Lynda sorria. Será que ela já estava sabendo de algo?
     - Eu estou intrinsecamente apaixonado pela senhorita Olivia Forbes. - papai fez uma cara de espanto que não cabia nele. - Eu nem sei como descrever o quanto gosto e me importo com ela, mas saibam que é bastante.
     Papai se sentou numa cadeira que havia ali próxima.
     - Eu gostaria de pedir permissão para a namorar.
     O queixo de papai estava lá embaixo. Ele literalmente não fechava a boca.
     Ian batia palmas e pulava, mais do que animado e Lynda tinha uma cara que expressava tanto orgulho que nem precisava dizer nada.
     Se passaram alguns segundos e nada de papai reagir. Comecei a considerar chamar a doutora Bloom:
     - Pai?
     - Oi?
     - E aí? - eu fiz um gesto abrangendo a situação.
     - E aí,  o quê? - ele se fez de tonto mesmo.
     - Deixa de ser besta, Robert. - Lynda disse, o desconsiderando completamente e foi engraçado. - Responde logo e quando tudo isso passear, eu faço um almoço de comemoração para os nossos meninos. - ela sorriu para mim e eu retribui timidamente.
     - Comemorar o quê, gente? - Lynda revirou os olhos com a cena e Ian tomou uma iniciativa.
     Meu pequeno foi até Norman, tentando fazer uma cara de bravo (e falhando muito) e apertou sua mão:
     - Como eu citei anteriormente, você tem minha bênção. Mas seja bonzinho. - Norman assentiu, segurando a vonatde de rir:
     - Pode deixar, mini senhor Forbes. Obrigado. - Ian assentiu e olhou para papai:
     - Vai logo, pai.
     - Até você?
     - O Norman é gente fina. Ele faz sanduíches muito bons.
     - Vendido. - papai comentou. - Tá, eu autorizo.
    Norman quase pulou. Mas ele se conteve a tempo.
     - Juízo vocês dois. - papai apontou para nós.
     - Muito obrigado, senhor Forbes. - Norman apertou sua mão.
     - Chega desse negócio de senhor. - papai foi andando do quarto e Lynda deu um abraço em Norman:
     - Até que fim. - ela comentou carinhosamente e também saiu do quarto, levando Ian.
     - Então é isso. - ele disse, me encarando com um sorriso crescente.
     - Somos oficialmente um casal. - eu disse, ainda assimilando a ideia.
    
   
   
  

   
    

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