Norman não pôde me acompanhar até em casa, pois a mãe dele havia pedido sua ajuda no mercado. Porém, ele combinara comigo de ir na minha casa para me ver.
Não achei aquilo de todo o mal. Na verdade achei mais interessante ele ficar um pouco comigo em casa do que só me acompanhar até lá.
Tracei meu caminho até a escola de Ian.
Como eu estava com saudades de fazer aquilo. O buscar na escola. Simplesmente como mais um dia normal. Como mais um dia qualquer.
Assim que eu indetifiquei a sua cabeça castanha saindo, notei que havia alguém vindo com ele. Não fiquei surpresa ao descobrir quem era.
Era Maya.
Acenei para e logo ele veio correndo.
Notei que antes de se adiantar na minha direção, Ian agarrou a mão da menina e saiu a puxando junto de si dentre a multidão.
- Oi, Liv! - ele me deu um grande abraço e eu senti que aquela era a melhor sensação do meu dia.
- Oi, ursinho. - fechei meus olhos enquanto eu sentia o seu doce cheiro.
- Liv, essa é a Maya. Ela é a minha melhor amiga. Maya, essa é a minha irmã, a Olivia.
- Acho que já nos conhecemos. - eu disse, mas mesmo assim estendi a mão para ela.
- Você é a garota que me ajudou aquele dia! - Maya sorriu, super simpática e ela tinha um sorriso que era simplesmente lindo.
- Alguém te incomodou mais depois daquilo?
- Não. Aqueles garotos não estão mais na escola. - eu assenti. - O Ian ama você! Ele até me faz querer ter uma irmã de tão legal que você é!
Ela se parecia muito com Ian. De verdade. Crianças eram sempre tão espontâneas e curiosas? Eu não sabia, mas eu entendia porque Ian gostava dela; ele havia criado identificação.
- Muito obrigada. - eu sorri. - Ele é um ótimo irmão mais novo. - fiz cafuné na sua cabeça.
- Liv, a Maya mora perto da gente.
- Sério?
- Umas três ruas antes da de vocês. - ela explicou.
- Quer ir caminhando com a gente? - eu ofereci.
- Eu adoraria, mas o meu pai está chegando. - ela apontou um carro prata se aproximando.
- Deixa para a próxima. - ela acenou e saiu correndo.
- Ela não é legal? - Ian me perguntou com aquele famoso brilhinho nos olhos. Ele parecia um próprio personagem de anime.
- Muito mesmo. - começamos a tomar o caminho de casa.
- Como você está hoje, Liv?
Um vento bateu na minha cara e pensei na ironia daquilo.
Pensei em dizer que estava bem. Mas aquilo claramente era uma mentira. E eu não podia mais mentir. Tinha que começar a ser sincera. Mesmo que aquilo não fosse tão fácil:
- Estou cansada, Ian. Foi um dia longo. - ele assentiu. - E você? Como está?
- Bem. - ele sorriu. - Você quer que eu faça algo para se sentir melhor?
- Acho que só preciso de um banho e deitar um pouco.
Ian pegou na minha mão no meio do caminho e continuou caminhando ao meu lado:
- Sabe que se precisar de mim, estou aqui, né?
Eu sorri, porque eu não resistia a tanta doçura explicita:
- Sei. Sei sim.Eu estava sentada na cama trocando mensagens com Tonya quando ele entrou.
Soltei o celular na hora e corri para o abraçar.
Ele me pegou num impulso desenfreado e agradeci a Deus por ele ter me agarrado com tanta intensidade.
Assim que ele me soltou, olhou em meus olhos e me beijou.
Esse beijo foi diferente dos demais. Foi um beijo calmo, sentido. Como se ele já soubesse da tempestade que estava prestes a chover bem ali emcima do meu tapete:
- Oi! - ele sorriu ao fim do beijo.
- Oi. - eu também sorri.
- Como você está? - eu me sentei na cama e meu sorriso foi ficando murcho.
- Tonya me passou mensagem mais ou menos sobre o que aconteceu.
- Eu bati na Clarisse. - respirei fundo, já me conformando. - Tipo muito.
- O que ela disse para você? - Norman também se sentou na cama, perto de mim.
- Muita besteira. - suspirei. - Mas teve uma hora que eu simplesmente perdi o controle.
- Por quê?
- Ela começou a falar de você. E foi quando eu comecei a me irritar mais. - ele só ficou em silêncio, me esperando continuar. - Daí ela falou algo como... - houve um pouco de confusão enquanto eu tentava me lembrar. - o quão fácil era conseguir o que se quer se fazendo de vítima.
"Norman, foi como se eu não tivesse controle, eu só parti para cima dela e quando vi, Tonya estava me tirando de lá".
Ele me abraçou assim que terminei de falar e aconchegou seu rosto na curvatura do meu pescoço.
Consegui sentir seu fôlego quente e contido na minha pele.
Por algum motivo, aquela sensação foi aliviadora.
- Foi horrível, Norman. Foi como se...
- Se você estivesse prestes a matá-la de tanta raiva. - ele completou, voltando a olhar nos meus olhos. Eu só assenti. - Sei exatamente como está se sentindo, mas quero que entenda uma coisa: a sua história é diferente da minha. Você não ia a matar.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Não faço a mínima ideia, mas eu sei. - um sorriso de canto de boca que foi a coisa mais reconfortante do dia. - Sei que você pararia antes de chegar a esse ponto. Além do que, por mais que Clarisse te irrite, você não a odeia. Ela só te pegou num momento muito errado.
Abaixei a cabeça, pensando sobre o que ele havia dito:
- As vezes acho que tem algo de muito errado comigo. - comentei com um sorriso triste. - Qualquer pessoa odiaria Clarisse.
- Não há nada de errado, amor. - ele passou uma mecha de cabelo por detrás da minha orelha. - Isso se chama compaixão. Você sabe que não vale a pena odiar e que na verdade, ela precisa de ajuda. - meus olhos encontraram os dele. - Eu diria que agindo assim você está um passo mais próxima de Jesus. - não houve como não sorrir.
Eu deitei com a cabeça no colo dele e ele me fez cafuné por um tempo.
Era tão tranquilizante ter Norman por ali. Era como se ele pegasse todo o caos intrincando e esquisito e o desmanchasse em lindas folhas de outono. Aquelas alaranjadas que ficam secas depois de um tempo que caem das árvores.
As vezes eu tinha a impressão que mesmo que ele ficasse parado, bem ali na minha frente, ele me passaria a exata mesma sensação.
Norman era um poço de temperança.
Me virei de barriga para cima e encarei seu rosto, que de qualquer perspectiva era lindo:
- Deus colocou você na minha vida no momento certo, Norman. - eu acarinhei seu rosto com a ponta dos dedos.
- Eu já agradeci a Ele milhões de vezes por isso. - eu sorri e ele me deu um selinho contido.
- Acho que vou fazer isso também. - ele assentiu e em seguida se levantou me estendendo a mão.
- Vamos jantar?
Peguei na sua mão e nós saímos do quarto.
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EAT ME
AcakComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...