54 - Como Eu Falava Dela

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Robert

     Ele estava na sessão de limpeza. Graças a Deus, era a última da lista. Robert detestava fazer aquilo. Ainda mais sozinho. Ele tinha uma impressão que passou a odiar fazer aquilo desde a morte de Ruby, porque ela fazia parecer bem divertido, enquanto corria com o carrinho pelos corredores do supermercado.
     Sua esposa era uma verdadeira criança no corpo de adulto. Tudo tinha um ar tão jovial quando ela estava por perto que talvez aquele fosse um ponto crucial sobre a sua ausência. Tudo parecia tão sem graça e extremamente velho sem ela aqui.
     - Olha pai, é a mae do Norman! - Ian apontou para o final do corredor.
     - É verdade. - Robert colocou o papel higiénico no carrinho e eles foram até lá de encontro à mulher. - Boa tarde, Lynda. Tudo bem?
     - Oi, Robert! - ela abriu um grande sorriso e em seguida afagou os cabelos de Ian. - E aí, garotão lindo! Tudo bem?
     - Tudo ótimo!
     - Como vão as coisas, Robert? - ela se voltou ao homem.
     - Estão bem melhores desde que Olivia saiu do hospital.
     - Graças a Deus. Norman tem me atualizado.
     - O seu garoto é ótimo. - comentou.
     - Sim, ele é. - ela pegou um item e jogou no carrinho. - Está indo para o caixa?
     - Sim e você?
     - Também. Vamos lá. - eles começaram a se mover para lá. - Vocês querem tomar um sorvete aqui na lanchonete do mercado? É a nossa tradição do dia sas compras. - Lynda comentou.
     - Eba! - Ian se animou.
     - Claro. Mas cadê o Norman?
     - Ele ia ajudar o irmão de Tonya com alguma coisa. Daí falei para ele que eu faria as compras sozinha. Sem problema.
     - Meus parabéns. Eu detesto fazer isso. Acho que se o Ian não me acompanhasse sempre, eu nem veria. - a mulher apenas sorriu e começou a colocar seus produtos no caixa.
     - Eu não vejo muito problema. - ela deu de ombros. - Depois de tanto tempo não tendo paz para fazer absolutamente nada sozinha, você acaba gostando dessas experiências. - justificou.
     - Faz sentido.
     - Mas não o julgo nenhum pouco. - ela terminou de colocar seus itens no caixa. - Acho que se eu tivesse passado pelo que passou, eu também detestaria. - ela pegou rápido a dica.
     - Pois é. - ele se adiantou. -  E vocês? Como estão?
     - Estamos bem. É aquilo, se seus garotos estão bem, então você não tem do que reclamar. - ela olhou para Ian e ele sorriu, daquele jeito fofo de sempre.
     - É verdade, Lynda.
     - Você vai querer sorvete do que, bonitão? - ela perguntou ao garoto.
     - Se for picolé, quero de uva. - avisou.
     - Você pode tanto pedir picolé quanto pegar o sorvete de bolas. - o rosto dele se impressionou.
     - Pai, posso pegar o de bolas? - ele encarou Robert que sempre parecia ter uma carranca muito seria.
     - Pode, filho. É claro.
     Então eles pegaram as compras e partiram em direção à entrada do mercado, onde havia a lanchonete.
     Se sentaram numa mesa e logo a garçonete veio lhes atender:
     - Pois não?
     - Eu vou querer um sorvete de duas bolas. Uma de milho verde e a outra de creme. - pediu Robert.
     - Eu quero uma bola de chocolate e a outra de morango.
     - E para mim uma bola de limão, uma de chocolate e a outra de flocos. - concluiu, Lynda.
     - Eu não sabia que tinha a opção de três bolas. - protestou o garoto.
     - Você pode pedir quantas você quiser. Mas não se preocupa. Eu divido a minha com você. - ela contou como num segredo, vendo o garoto se animar instataneamente.
     - Olivia adorava sorvete de cereja. Era o preferido dela. - Robert comentou, como uma boa lembrança.
     - Nossa, que sabor diferente. - comentou a mulher. - Nunca vi ninguém gostar desse.
     - Era por conta da minha esposa. Ela a ensinou a gostar. - ele disse, tocando a aliança de ouro branco que nunca tirava do dedo.
     - Então você deveria levar para ela. - aconselhou.
     - Eu não sei. - disse um tanto retraído. - Talvez fosse desconfortável para ela. Não sei como ela reagiria.
     - Acho que a essa altura, "desconfortável" é o pior que pode ocorrer.  - os sorvetes chegaram. - E além disso, isso a remeteria a lembrar da mãe; seria uma motivação forte para a fazer provar.
     O homem apenas assentiu e naquele momento, ele pareceu tão abatido, que Lynda pôde ver o cansaço mental em seus olhos.
     - Você estava falando sobre o seu menino, o Norman.
     - Sim.
     - Ele é realmente um bom garoto. - continuou. - E principalemnte, um bom garoto para Olivia.
     "Ela gosta realmente dele".
     - E ele dela, Robert. Posso afirmar.
     - No início fiquei preocupado, sabe? - revelou. - Que ele não soubesse direito o que sentisse e fizesse confusão. E Olivia estava tão... Frágil que eu senti medo por ela...
     - Isso é natural. Afinal, ela já foi magoada anteriormente e com o cenário atual, eu refletiria o mesmo comportamento. - ele se sentiu muito bem com a compaixão da mulher. Ele não entendia como ela podia ser tão compreensiva.
     - Mas aí, eu conversei com Olivia ontem e... Meu Deus do céu! Como ela gosta desse menino! - Lynda sorriu, genuinamente deslumbrada. - Olivia falou sobre ele de um jeito que... É exatamente igual como quando eu falar sobre Ruby, a mãe dela. - ele provou mais um pouco de sorvete. - E ele olha para ela de um jeito que eu nem sei explicar.
     - Eu acho que o que um sente pelo outro está muito além de uma paixãozinha. - opinou, Lynda. - Norman já se interessou por outras garotas, mas nenhuma fez o coraçãozinho dele bater do jeito que a sua filha faz.
    - Acho que eles vão longe.
    - Tenho certeza disso. - ela assegurou.
    - Eu acho muito fofo os dois juntos. - Ian se pronunciou sobre o assunto.
    - Você que é fofo. - Lynda passou a mão no rosto do menino. - Quer sorvete?
     Robert estava satisfeito no final das contas. Seu menino estava crescendo com boas influências ao seu redor; era esperto e muito saudoso. E sua menina, parecia estar progredindo na recuperação; ele orava toda noite por ela; Norman o disse que ajudava.
     Ian parecia feliz. Olivia parecia bem, esse era o suficiente para ele.
     E se um dia Olivia e Norman pudessem experimentar no mínimo uma fagulha do que ele tinha com sua esposa, então ele também tinha certeza, de que eles seriam prósperos e felizes.
  
     
    
    
    
   
    

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