61 - Sufocando em Suco Gástrico

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Nunca pensei que ir ao cinema podia ser uma experiência tão engraçada.
Tonya e Joshua adoravam pagar micos.
Apesar da cena de Clarisse com a escova de dentes ter ficado afixada à minha cabeça como um claro lembrete, eu consegui me distrair um pouco e me divertir junto com eles.
Ninguém percebeu nada e o clima se manteve estável. O que fora ótimo.
- Te vejo amanhã? - Tonya perguntou com o olhar sapeca de sempre.
- Você vai me ajudar com os meninos, não vai? - Ian e Maya fariam um trabalho em casa amanhã.
- Os pirralhos, você quer dizer. - ela olhou para o horizonte, enquanto tomava um vento na janela do carro de Sebastian. - Vou pensar; isso exige muito da minha energia física.
Eu ri um pouco com a babaquice dela.
- Tchau, Ollie. - ela se despediu.
- Tchau, pessoal. - Joshua apenas acenou com a mão e arrancou com o carro.
Norman me levou até a porta, como o excelente namorado que era.
Eu sorri para ele quando paramos na varanda e ele investiu em um beijo saboroso, no qual me deleitei e me deixei afogar.
A sensação de de afogar em Norman era sempre tão boa. Nunca deixava de ser atordoantemente bom.
Quando o beijo acabou, os olhos de Norman sorriram, doces e sensíveis aos meus.
Eu refleti seu gesto e apoiei a cabeça em sua mão que fazia carinho na minha bochecha:
- Amor, o que que houve, ein? Você não está bem. Aconteceu alguma coisa?
Então, lembra a parte do 'ninguém percebeu nada'? Norman havia percebido. Ele era sensitivo como eu nunca vira ninguém ser.
- Você não quer entra um pouco?
- Seu pai não vai ficar bravo?
- Do tempo que faz que você não vem aqui, ele e Ian vão ficar é contentes. - ele sorriu de novo, externando o sentimento bom de dentro.
Assim que atravessámos a porta, eu gritei:
- Pai? Ian? Olhem quem está aqui. - não demorou nem um minuto para eu ouvir passos no andar de cima e Ian aparecer voando pelas escadas.
O menino grudou em Norman como se não o visse há anos. Ian parecia ter maia saudades dele do que eu.
- E aí, amigão? - Norman gargalhou com a reação dele. - É tão bom se sentir querido.
- Como você está, Norman?
- Ótimo e você?
- Estou bem. Mas com fome. - era impossível não dar risada.
- Ué, o papai não fez janta? - questionei.
- Fez, mas eu queria o sanduíche do Norman. - entendi tudo. Ele era um baita de um espertinho.
- Eu posso fazer, Forbes? - ele me olhou com olhos pidões.
- Pode. - eu acabei de falar e vi papai descendo as escadas, secando o cabelo.
- Oi, pai.
- Olá. Olá, meninos. - papai me deu um beijo no topo da cabeça e apertou a mão de Norman.
- O senhor também vai querer um sanduíche? - Norman perguntou e eu vi os olhos de papai curiosos.

Depois do sucesso do sanduiche de Norman - e quando eu digo sucesso, eu quero dizer que Norman foi praticamente obrigado a fazer além do primeiro, mais três sanduíches para Ian e para papai - nós estavamos no meu quarto.
Eu estava deitada com a cabeça no colo dele e ele estava me fazendo carinho.
Já era tarde e nós tínhamos aula amanhã. Eu não sabia como papai deixara aquilo acontecer, mas eu suspeitava secretamente que ele subornara meu pai com um sanaduiche extra. Ou isso, ou papai pegara no sono árduo dele.
Eu estava encarando a pessoa linda que Norman era e me preocupando com o fato de ele voltar tarde para a casa, mas estava tão bom ter ele ali que eu decidi ser egoísta e desfrutar daquilo.
- O que esrava incomodando você mais cedo? - ele me trouxe algo que eu queria continuar ignorando pelo menos mais um pouco.
- Eu vi algo e daí meu cérebro encaixou as peçinhas e... - eu suspirei.
- O que você viu, amor?
- Primeiro, eu ouvi. Era alguém vomitando. - ele assentiu, demonstrando que estava me acompanhando. - Depois, a pessoa saiu da cabine - meus olhos travaram nos dele: era Clarisse. - ele ia falar algo, mas eu cortei seu ar com o meu, antes disso. - Ela estava com uma escova de dentes.
Norman abriu e fechou a boca. Exatamente como eu costumava fazer.
- Ela estava forçando... - eu só assenti conforme as palavras dele iam saindo. - Meu Deus.
Pensei se o que eu estava sentindo sobre ter descoberto aquilo equivalia ao sentimento de quando eles descobriram de mim. No fim das contas, concluí que não, porque eles não viram nada chocante que os defasassem tanto.
- E como você se sente sobre isso?
- Me sinto triste. - eu disse sinceramente. - Mais ainda porque ela não entendeu o meu desespero.
- O que ela fez?
- Ela me insultou. Mas isso não me incomodou nenhum pouco, só me fez sentir... Compaixão? - nem eu sabia.
Ele assentiu, como se entendesse tudo:
- Você viu o que ela tanto quer esconder de todo mundo. É o tendão de aquiles dela, Ollie. - eu que assenti dessa vez. - E o que você quer fazer sobre isso?
- Ela não pode continuar assim. Ela está doente. Como eu. - a última parte saiu bem baixinha, porque eu não me orgulhava nenhum pouco daquilo.
- Mas ela sabe que está?
- Não, mas eu também não sabia. Não queria. - eu dei um sorriso trôpego, enquanto o encarava. - Eu quero a ajudar, Norman.
Ele passou a mão pelos cabelos e me encarou depois de um tempo:
- Eu também acho que ela precisa de ajuda. Em vários aspectos. - ele esbugalhou os olhos. - Mas você acha que é certo você se envolver?
- Você fala por conta do meu estado? - por mais que eu soubesse que aquilo só demonstrava preocupação, eu entrei na defensiva.
- Não. Eu digo porque Clarisse é meio tóxica e ela pode acabar machucando você. Não seria mais interessante envolver Tatiana?
- Tatiana vai ser envolvida. Mas prefiro que ela ande até lá com as próprias pernas, porque acho que assim, ela vai se sentir melhor. - ele assentiu.
- Eu não quero você se envolvendo demais nisso. Não force. E se precisar de mim...
- Você vai estar aqui, como sempre esteve. Porque você é o melhor amor do mundo. - eu enlacei seus ombros com meus braços. - Obrigada. - beijei sua bochecha e ele sorriu.




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