Quando eu senti que estava com o controle de alguma coisa, eu fui abrindo meus olhos devagar, até me deparar com um lugar que eu não conhecia.
Estava começando a me assustar com aquilo, até que um rosto conhecido entrou no meu campo de visão:
- Graças a Deus! - aquilo foi com tanto impacto que eu fiquei confusa. O que estava acontecendo? - Como você se sente?
- Bem? - fui me sentando aos poucos, tentando coletar algum detalhe no ambiente que me explicasse o que havia acontecido. - Onde estamos, Norman?
- Na enfermaria do shopping. - eu fiz uma careta, estranhando. - Nós estávamos na fila e aí você só desmaiou.
- Você acordou! - uma moça com o cabelo vermelho e roupa branca entrou no quarto.
- Quanto tempo fiquei desmaiada? - eu olhei para Norman.
- Pouco mais de um minuto. - mas quem respondeu foi a aparente enfermeira, vindo na minha direção com um aparelho de pressão. - Vou precisar checar sua pressão.
Eu só deixei a cena ir se passando, como se eu não pudesse alterar nada ali.
A enfermeira checou minha pressão enquanto Norman me olhava do outro lado do quarto com uma cara de preocupação intensa.
Durante o tempo que nos conhecíamos, eu nunca tinha o visto fazer aquela cara. E eu nem entendia porque ele estava tão sobressaltado. Era só um desmaio. Eu estava bem. Às vezes a pressão podia cair:
- Sua pressão está bem baixa. - ela comentou quando termimou a aferição.
- Ela é assim mesmo.
- Vamos ver seu peso.
- Por quê? - contestei.
- Preciso preencher os dados da ficha para garantir que está tudo certo. Não posso te liberar assim.
- Tudo bem. - eu me levantei, enquanto Norman me acompanhava com os olhos.
Ele estava me acompanhando com medo de eu cair de novo; pelo menos era o que parecia, porém a cena toda era muito constrangedora.
Dei graças a Deus por ele se mater longe da balança e quando eu subi, não olhei pra ela.
- Nossa - a enfermeira falou e meu olhar foi capturado por ela.
Na hora que ela me olhou, eu senti um receio enorme. Por algum motivo incompreensível achei que ela fosse zombar de mim pelo meu peso, por mais que aquilo fosse ridículo. Ela era uma profissional, tinha que ter ética, não era?
- Você está bem abaixo do seu peso.
- Ah, claro. - desci da balança com um tom irritadiço. - Já terminou?
- Já, mas eu gostaria de fazer algumas outras perguntas...
- Desculpe, mas eu não tenho tempo pra isso. - peguei minhas coisas que estavam em uma cadeira ao lado da cama. - Vamos Norman.
- Mas Olivia... - ele tentou, mas eu não o respondi. Eu só passei pela porta e continuei andando até me distanciar ao máximo daquele lugar. Daquela maldita balança.
Enquanto eu andava, meus passos ressoavam dentro da minha cabeça, ou será que eram as batidas do meu coração?
- Olivia! - ele me alcançou e percebi que pelo seu tom ofegante, ele havia dado uma corridinha. - O que foi aquilo?
- Aquilo o quê?
- Do nada você ficou irritada com alguma coisa.
- Eu não estou irritada, Norman. - eu continuei andando, mas ele simplesmente se colocou na minha frente.
- Olivia, para. - ele pousou as mãos em meus ombros. - Você visivelmente está com um problema, então me fala o que é. Eu quero ajudar.
Os olhos dele soaram sobre os meus e de repente todo aquele cinza estava me afogando. Eles estavam superprotetores, porém eu geralmente sabia nadar muito bem.
- Eu não tenho problema nenhum. - tirei as mãos dele dos meus ombros e continuei andando.
Agradeci a Deus por ele não ter vindo atrás de mim dessa vez.
Eu não queria.
Não queria estar com o Norman, nem com ninguém naquele momento. Eu só queria chegar em casa logo.
Eu havia tomado um banho e ido para a cama. Eu avisara Ian que eu não estava me sentindo bem e que eu dormiria um pouco, para que não me incomodasse.
Levantei da cama e parei diante do espelho apenas de sutiã e calcinha.
Era por aquilo. Era por aquilo que ela tinha zombado de mim. Porque eu era gorda. E horrível.
Antes que eu pudesse perceber, lágrimas corriam pelas minhas bochechas.
Eu odiava o que eu via à minha frente e por mais que eu tentasse, eu sentia que eu não conseguia melhorar. Era como se eu não pudesse mudar.
Eu me esforçava tanto. Mas tanto, e eu não conseguia. Eu só não conseguia.
Me deixei cair no chão, enquanto as lágrimas pareciam queimar a minha pele como ácido.
Desejei desesperadamente que a minha mãe estivesse ali. Ela saberia o que fazer, o que dizer, como me ajudar a melhorar, porque a mamãe, ela sempre conseguia fazer as coisas melhorarem.
O que estava saindo de mim agora, não eram só lágrimas, mas também soluços desesperados, mais parecidos com engasgos.
Eu ainda sentia tanta falta dela. Quando aquilo se tornaria suportável?
Levantei e comecei a andar de um lado para o outro.
Estava inflamado e não parecia caber dentro de mim, toda aquela saudade.
Parei de frente ao espelho de novo. Eu odiava o que eu via.
Antes que eu pudesse pensar melhor, acertei o espelho em cheio com um soco.
O espelho que não era tão resistente, se espatifou em cima da minha mão, me proporcionando um belo corte.
Gritei de susto, dor e frustração. Pode ter tido algo mais, mas tudo estava tão condensado que eu não pude saber.
- Liv? - ouvi batidas na porta e a voz de Ian logo em seguida.
Assim que ouvi a voz dele, tomei consciência e tapei minha boca com a mão ensaguentada.
Respirei fundo antes de falar alguma coisa:
- Oi, meu amor?
- Ta tudo bem?
- Sim. Era só uma barata. - respondi.
- Você está chorando?
- Não. - eu estava me esforçando para suportar a dor. - Eu só estou querendo ficar gripada.
- Ah, tudo bem. Qualquer coisa me chama. - senti a voz dele mais tranquila.
- Obrigada, meu amor. - assim que ouvi os passos dele de distanciando, eu respirei aliviada e corri até o banheiro para tentar dar um jeito naquilo.
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EAT ME
RandomComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...