Norman
Ele estava diante da sala. Estava pronto a bater e a apresentar todas as suas eventuais suposições e receios.
Sua mão estava até erguida e fechada, pronta. Entretanto, Norman baixou a mão, deu meia-volta e foi embora. Não podia fazer aquilo, não sem o consentimento dela.
Talvez ele pudesse fazer aquilo de forma mais sutil e preparar leves perguntas na forma hipotética. Não, não. Ele sabia que aquilo geraria suspeitas na psicóloga.
Ele confirmara ontem na casa de Tonya, era o mesmo padrão do que o da última vez. Olivia pegara pequenas quantidades de comida e mal a comera de fato; ela só espalhara tudo pelo prato e quando se via, parecia que se tinha remexido muito. Mas ele contou quantas vezes ela de fato levou o garfo a boca. Três. Apenas três vezes.
Fora ele, ninguém notara. Todos estavam tão entretidos na conversa. Até a própria Olivia parecia entretida.
Ele queria falar com Tatiana sobre. Entender como era o comportamento de uma pessoa com distúrbios alimentares para checar se aquele era o caso. Se lia muita coisa pela internet e ele não sabia a veracidade daquelas informações, então quem melhor do que uma psicóloga para se certificar?
Mas ao mesmo tempo que queria falar com ela, não se sentia devidamente confortável. Aquilo era realmente um motivo para levar uma suposição tão séria a alguém? E se ela estivesse bem? E se Olivia na verdade, não tivesse distúrbio algum? E se ela só estivesse em luto como relatara?
Ela era sua amiga. Confiava nele. E ele sentia muito medo de quebrar isso. Porque ele não queria ficar só nesse estágio
Estava num impasse cruel, mas ele sabia como podia resolver aquilo. Oraria a Deus pra Ele o dar uma direção, porque sozinho estsva bem difícil de decidir algo.
- Olá - ele se virou para uma voz feminina. - Bom dia, Norman. - era aquela garota, com quem Tonya havia brigado.
- Olá, bom dia.
- Tudo bem com você? - ela começou a caminhar do seu lado.
- Tudo sim. - ele assentiu. - Qual é o seu nome mesmo? - por mais que ele se esforçasse, não conseguia lembrar.
- Sério que você não se lembra? - ela não pareceu ter gostado muito dele não se ter recordado. - É Clarisse.
- Ah, sim. - ele não tinha muito assunto. E nem queria, sinceramente. - Você precisa de algo?
- Preciso sim. - ela deu um sorriso que até era bonito, mas era carregado demais para parecer genuíno. - Eu gostaria de saber se você tem algum programa para depois da aula.
- Na verdade tenho. Preciso resolver algumas coisas. - parecia uma desculpa muito vaga, mas ele tinha o intuito de passar na casa de Olivia.
- Eu estava pensando que talvez a gente pudesse sair. Tomar um milk shake...
- Desculpe, mas não posso. - ele saiu andando, resolvendo que aquela era a melhor opção. - Até mais.
Ele tentara a ver na saída, mas não obteve sucesso; ao invés dela, ele viu Tonya:
- Oi, Tonya. Bom dia.
- E aí, Normie. Tudo bom? - ela comia um salgadinho e extamente quando terminou a frase, o ofereceu a ele.
- Tudo bem graças a Deus. Escuta, você viu a Forbes?
- Ela não veio hoje, ficou cuidando do Ian. Ele está meio doentinho.
- Ah, entendi. - ele assentiu. - Tonya, posso te fazer uma pergunta? - de alguma forma, ele sentiu um nível de segurança de fazer aquilo.
- É claro.
- Você tem notado algo estranho nela? Na Forbes?
- Em que sentido?
- Não sei. Qualquer coisa. - Tonya levou o indicador ao queixo e titubeou.
- Acho que não. - ele se contentaria com aquilo. Não queria aprofundar muito e despertar a curiosidade da menina. - Mas por que essa pergunta?
- Ela parece diferente. - foi tudo que se permitiu dizer.
A garota à sua frente respirou fundo. Como se considerasse algo:
- Olhe, Norman eu não devia, mas vou te contar. - mais um suspiro. - Olivia me contou sobre vocês. - um espasmo de surpresa correu no rosto dele. - E ela também me contou o porquê de não aceitar. Eu sinceramente não entendi nada.
Aquilo não era exatamente o que ele queria, mas por algum motivo o tocou.
Ela havia conversado com Tonya sobre eles.
- Nem eu entendi. - ela deu um sorrisinho que tinha mais um ar melancólico do que tudo.
Norman se sentou nas escadas que levavam a entrada do colégio e Tonya o acompanhou:
- Você teria alguma suposição?
- Talvez ela esteja mal ainda. Pela mãe dela, sabe? - a garota deu de ombros. - Eu não consigo nem me imaginar perdendo a minha mãe e ela teve que passar por isso.
- Ela passa por isso e ainda cuida do pai e do irmão. - Tonya assentiu, concordando com ele.
- Acho que ela não quer machucar você. E por mais que eu ache que ela já faz e faria melhor ainda a você, esse é o jeito dela de tentar protegê-lo. - ele também achava aquilo. Não podia descrever de maneira melhor.
Entretanto aquele não parecia o único motivo. Olivia havia comentado algo como não ser boa o suficiente. Como isso poderia ter relação com o luto?
- Obrigada por compartilhar isso comigo. - ele sorriu daquele jeito tão comum.
- Sem problemas. Só não conte à ela. - a garota foi se levantando. - Tem vezes que precisamos fazer coisas que a pessoa não vai gostar; mas é para um bem maior.
Ele saboreou as palavras dela porque elas se pareciam muito com a resposta de uma oração que ele faria eventualmente.
Deus havia se antecipado sobre os sinais ou ele havia enlouquecido completamente? Ele não sabia. Achava que era cedo demais para assumir qualquer coisa.
- É, acho que sim. - ele também se levantou.
- Mas se vale de algum consolo: eu realmente espero que vocês fiquem juntos. - ela disse quando ele já estava a uma certa distância. - E não é só porque vocês formariam um casal fofinho. - ela sorriu. Um sorriso fechado, porém muito elegante. - É porque vocês de alguma forma se complementam.
Norman também sorriu.
Se ele não estava esperançoso até então, aquilo o transformou em um poço de esperanças e altas convicções.
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EAT ME
RandomComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...