CAPÍTULO 5

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LUCAS

Olhei novamente o relógio no meu pulso, o ponteiro parecia descontrolado. A cada minuto observado, a impressão é que horas haviam passado. Estava impaciente, mas eu tinha que manter a firmeza da minha decisão.

- O senhor não quer que eu te sirva? - Perguntou Inês, talvez pela milésima vez.

Ela estava parada na porta, com a sobrancelha arqueada e um olhar furioso. Ela me protegia como uma verdadeira leoa.

- Inês, vai descansar. Eu sei o que eu estou fazendo. - Observei, também pela milésima vez. - Você pode não concordar com os meus atos, mas os resultados serão os melhores para a família.

Inês bufou, não conseguindo controlar o próprio humor: - Essa menina está brincando com o senhor e eu não gosto disso. Onde já se viu? Deixar um homem trabalhador passando fome até esse horário.

Sorri com a sua observação.

- Eu ouvi o fuxico que você disse no ouvido da Carminda quando entramos na sede. - Disse bem baixinho, fazendo a senhora de quase cinquenta anos ficar com "as orelhas em pé".

- Desculpa? - Ela pediu, colocando as mãos na boca em forma dramática. - Seria tão bom ter uma senhora Varez aqui.

- Rebecca não é uma Varez. - Afirmei com firmeza. - Ela não se casou com o meu irmão e nunca se casaria, mesmo se ele tivesse vivo. Ela não tem o perfil da nossa família.

Com essa colocação, Inês concordou imediatamente.

- A Ametista fica tão "morta" sem vocês aqui. Eu sinto falta de ter a sua mãe cuidando da sede, do seu pai cuidando do jardim enquanto você fica igual tatu enterrado no lado oeste, junto com o ouro. - Inês puxou uma cadeira e sentou do meu lado. - Sinto mais falta ainda do menino Luan, aquela alegria que só ele sabia transmitir. Acho que essa casa nunca verá mais a felicidade.

Inês trabalha para a nossa família desde mocinha. Foi uma espécie de babá para mim e Luan na nossa infância. Acho que a perda do meu irmão, era comparada a perder um filho para ela.

Enxugando os olhos, ela me olhou e disse antes de sair: - Talvez, o menino que ela carrega da barriga pode ser a esperança de última alegria.

Era exatamente isso que a minha mãe pensava. Eu confirmei com a cabeça, enquanto ela me deixou sozinho na sala de jantar. Batuquei os dedos na mesa de madeira enquanto continuava esperando. A comida estava toda na mesa e o cheiro fazia o meu estômago querer pular do meu corpo. Ainda assim eu tinha que manter a firmeza das minhas palavras.

Comecei a medir se eu tinha sido muito duro com a menina, talvez eu a assustei. Em minha defesa, o médico disse que ela tendo esse vício, tentaria levar a substância para a Fazenda, eu tinha que evitar a qualquer custo ela fazer algo que pudesse prejudicar a gestação. Olhei para o relógio mais uma vez e calculei que em menos de quarenta minutos o Dr João chegaria para a primeira consulta. Bufei, nervoso. Eu não poderia visitar o garimpo depois do pôr do sol, era muito perigoso o caminho. Então o meu trabalho seria atrasado um dia, por culpa dela. Eu tentei ser racional e imaginar ela com medo de me encontrar depois que eu tinha descoberto a droga, mas nada disso justificava. Ela precisava se alimentar e eu continuaria ali, sendo torturado pela galinhada que a Carminda fez, enquanto a fome me deixava zonzo.

O meu celular tocou, eu não estava com um bom humor, mas atendi quando vi que era a minha mãe.

"Filho, como vocês estão? Rebecca se alimentou?"

Precisava ponderar o que diria para a minha mãe. Ela passou por tanta coisa nos últimos dias. Então, o que eu pudesse evitar de preocupação, assim eu faria.

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