1. Curando Feridas ✔️

CAPÍTULO 33

REBECCA

Não estou sendo fiel em nossa conversa, continuo escondendo os meus pensamentos, como uma forma de guerrear contra aquilo que me alcançou. Não tinha forças para fugir, sair do seu abraço, mas também não consegui dar aquele passo. Meus pés estavam fincados ao chão, incapazes de respeitar um simples comando.

Havia tanto a lhe dizer, mas como expressar em palavras aquilo que nem mesmo o meu coração conseguia entender?

"Você é a minha razão". Será que isso é suficiente para você? Será que você entenderia a complexidade desse sentimento? "Lucas, eu não posso dizer que te amo, pois não sou capaz de amar a mim mesma".

A luta entre o passado e o presente que foi travada naquela manhã, estava ganhando fins desastrosos. Eu não exercia mais controle do meu próprio destino. É como se eu estivesse presa a uma fina corda, cujos nós desatassem um de cada vez, me lançando ao mais profundo abismo. Conseguia sentir o chão desaparecendo dos meus pés, o ar me consumindo, o equilíbrio cedendo. Mas você estava lá, sempre esteve, não é mesmo? Você continuava ali, pronto para me amparar.

Continuei nesse loop de inercia, até acordar sentindo os seus braços distanciarem. Você estava exposto, entregue em suas próprias palavras. Não te julgava por querer me deixar, mas aquilo começou a doer. Você ainda me olhava, esperando qualquer reação que pudesse justificar uma aproximação ou o eterno afastamento. Mas eu ainda era incapaz de escolher, entre o passado e o presente. Queria te dizer isso, explicar o que eu sentia, mas nem eu era capaz de entender.

Suas palavras foram como uma canção para a minha alma. Sua voz rouca, respiração pesada, corpo quente, sussurrando no meu ouvido o meu nome e logo após disso, explanando o mais complexo sentimento. Como se este fosse algo tão simples de descrever.

A declaração de amor que eu nunca li em nenhum conto, estaria gravada no meu coração, mesmo que toda uma vida passasse. Conseguia repetir cada palavra, como se fosse uma música decorada.

"... você é o meu pensamento e o meu desejo. Você é o amor proibido, o carinho escondido, a paixão não correspondida. Você é o meu mundo fantasiado, o destino não alcançado, a história ainda não escrita. O que eu sinto por você vai além de qualquer sentido. Você lidera o meu coração, me fazendo perder na solidão. Nunca senti e nunca sentirei nada parecido. Você não é o amor escolhido, mas sim o esperado, aquele que eu pensei que nunca teria".

Repetiria sua declaração, eternizando os seus sentimentos, em cada canto se preciso fosse. Mas estava na hora de decidir, se era capaz de escolher entre escrever a nossa história ou deixar você partir.

Parecia óbvio qual caminho me consumiria a felicidade, mas o medo de ferir a única pessoa que era capaz de me amar, me fazia relutar. Eu não queria fazer o seu coração sangrar, não queria te decepcionar, e é por esse motivo que eu ainda não podia andar até os seus braços. Me senti fraca em minha própria decisão, abracei o meu próprio corpo, apenas para ter certeza daquilo que eu descobri. Longe do seu abraço eu sentia um vazio dentro de mim.

"Lucas, não posso dizer que te amo, não sei o que eu sinto por você. Mas posso te garantir que a minha segurança está nas noites de tempestade que você deita ao meu lado. Nos dias ruins, onde a depressão me invade e você me leva no colo até aquela pequena colina e conta histórias sobre o passado, fazendo eu voltar à realidade. Lucas, não sei se correspondo o que você sente, contudo, não quero viver um dia longe de você, será que isso é suficiente?".

Quando você desistiu de me esperar, fechou os olhos pesadamente e balançou a cabeça negando os próprios pensamentos, foi quando eu comecei a dizer sobre essa luta que se tornou a minha mente. Foi uma forma de te convencer a continuar ali e não partir.