Obs: ontem o capítulo 20 não enviou notificação. Então antes de iniciar esse cap, saiba que o 20 está postado.
REBECCA
A movimentação da casa estava estranha naquele dia, quase aguçava curiosidade. A dona Rosa muito inquieta, se movimentava no corredor de um lado para o outro, falando no celular, gritando em alguns momentos. Pude perceber que ela defendia o Lucas, dizia coisas sobre ele ser comprometido com o trabalho e que ele era a pessoa ideal para ser o Senhor Varez. Em outra ligação ela disse que ele herdou de sangue e que um tal de conselho não poderia lutar contra isso.
Não era só a dona Rosa que estava estranha. O Lucas não apareceu nem para me entregar o remédio da tarde. No seu lugar veio a Inês, que assim que pediu para entrar no meu quarto, já foi logo fechando a porta e arregalando os olhos.
- Menina, se ficar fazendo cara de assustada toda a vez que eu conversar com o senhor Varez, ele vai perceber. - Ela entregou o comprimido na minha mão.
- Fiquei nervosa. Eu não queria contar nada para ninguém e estou com medo que a família saiba. - Desabafei, bebendo o comprimido e empurrando com um gole de água.
- Essa história destruiria com eles. Não conte para mais ninguém, mesmo depois que você for embora.
Ela estava certa e eu entendia isso. Era algo que eu aceitei guardar para mim, quase como uma penitência por meus atos falhos. Continuei no quarto, olhando para a janela, incapaz de sair daquele cômodo e ter o desprazer de encontrar com a Thaís. Ela era uma mulher que julgava apenas com um olhar e isso me deixava insegura. Decidi ler mais um pouco da história da Diana, como uma forma do tempo passar mais rápido e eu não ficar parada. Em todos os momentos sem a leitura ou a companhia de alguém para conversar, eu acabava me perdendo nas memórias da época que o Luan era vivo. Hoje estava completando dois meses que ele morreu e até poderia ser motivo de um enorme gatilho, mas eu não queria pensar nele para não motivar alguma ação inconsequente.
... Toda a minha família questionava a minha lealdade, principalmente após descobrirem que eu me apaixonei por um inimigo. Nasci com o peso de uma família de nome, onde as terras que vivíamos seria a herança entregue ao meu marido por minha fidelidade como sua esposa. Mesmo questionando perante o Conselho o meu papel como única herdeira sanguínea direta, não consegui êxito em administrar o Garimpo Varez. Meu avô Afonso indicou um pretendente à altura. Um legítimo português que chegou em Mato Grosso à poucos meses, era um homem exemplar com a rigidez das suas ações heroicas militares. Contudo, eu não necessitava conhecê-lo para saber que eu faria todo o imaginável e inimaginável para não concretizar tal matrimônio.
Em uma dessas investidas, quando a família estava dispersa devido a mais uma cerimônia entediante, onde apenas os homens conduziam as conversas, e as esposas estavam trajadas apropriadamente e falando sobre a criação dos herdeiros Varez, consegui escapar para a parte mais densa da floresta de nossas terras.
Se me fosse permitido, passaria toda uma vida fugindo. Minha mãe dizia que a mãe do meu pai não fugiu e foi graças a isso que temos todo esse poder hoje. Uma parte de mim amava sentar em roda com os meus primos e ouvir a história de amor dos nossos avós, mas essa mesma parte queria a todo custo a sua própria liberdade.
Foi imaginando uma vida como um pássaro livre, que eu não percebi a distância que percorri, até ceder em uma terra em declínio, cuja extensão era marcada pela escuridão da mata. Acredito que eu gritei, sem consciência do que poderia me ocorrer, mas havia outro grito acima do meu, uma voz distinta da minha.
Caí por cima do seu corpo no fim daquele barranco. Senti cada pedaço do meu corpo tremer com o pânico, assim que ouvi você dizendo algo na minha direção, que não era compreensível na minha língua.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...