CAPÍTULO 44

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REBECCA

Diferente dos demais livros naquela enorme estante, o nosso se destacava por ter uma capa totalmente desenhada e engraçada. Durante três dias eu desenhei as nossas iniciais grafitadas, recortei e colei folhas coloridas no caderno, espalhando adesivos e figuras chamativas. Sim, era o maior carnaval, mas era exatamente como eu imaginava um livro sobre nós: R&L.

A noite parecia ser eterna, era como se a lua lutasse contra o sol para não deixar o céu, e ela estava vencendo essa batalha, deixando os minutos maquiarem as horas.

Depois que a dona Rosa decidiu ir dormir, eu fui até a biblioteca. Abri a porta com cuidado, para não chamar atenção e entrei. Levando o nosso livro comigo. Alguns dias atrás eu decidi fazer uma capa para ele. Juntei os materiais que comprei na capital e pedi emprestado para a Maya alguns lápis de cor. A ideia parecia absurda, por diversas vezes eu pensei em desistir, mas isso estava me fazendo tão bem que eu simplesmente continuei.

Quanto mais eu escrevia, mais parecia correto o que eu estava fazendo. Conforme o tempo passava e as letras ganhavam vida naquelas folhas, mais eu tinha certeza que a nossa história precisava ser eternizada. Eu não escondi o meu passado, não fantasiei o futuro, eu fui sincera com cada letra que desenhei no papel e isso era a melhor parte sobre nós.

Finalmente a lua se cansou de batalhar e decidiu deixar o céu sob a proteção do sol, consegui ver a estrela quente nascendo, radiante para um novo dia. Inspirada com a perfeição daquela paisagem, eu fiz um juramento: eu descobriria a verdade sobre a história da Francisca e onde estava escondida a pedra ametista, trazendo-a de volta para a família

Eu sei que parece besteira, mas os Varez vivem essa certeza na vida deles. Eles realmente acreditam que depois que a ametista saiu da família, eles são amaldiçoados a não ter mais o amor. O mais estranho é como isso faz sentido. Depois da história da Francisca, os demais casais passaram por tempestades intensas que os separaram. Até mesmo os pais do Lucas são vitimas dessa "maldição".

Quase trinta anos depois de um casamento feliz e realizado, houve o acidente. Depois disso o senhor Varez nunca mais reconheceu a esposa. Eu não consigo imaginar como é viver diariamente com a pessoa que se ama e ela não saber quem você é, não lembrar da história que vocês tiveram.

Guardei o livro ainda não terminado na gaveta da enorme mesa do escritório e decidi seguir o cheiro de café que entrou pela fresta da porta. Acredito que eu não fiz nenhum barulho, pois quando me aproximei da cozinha, dona Rosa e o Ezequiel conversaram de uma forma estranha e não pararam com a minha chegada, pareciam nem me notar.

- ... não me peça isso Ezequiel, sabe que eu não posso fazer.

Eles estavam em pé, parados perto da pia da cozinha, enquanto o Ezequiel coava o café. Eu continuei parada no corredor, sem saber se eu entrava no cômodo ou fazia algum barulho para me denunciar.

- Eu vou pedir sim Rosália, e pedirei enquanto eu viver: fique comigo.

Caramba, apertei as mãos na boca tão subitamente que até eu me assustei. Com os olhos arregalados, decidi por bem não mover nenhum músculo e bisbilhotar onde essa conversa chegaria.

Então era por isso que o Ezequiel fazia tudo o que a Inês pedia, a bonita sabia que ele era apaixonado pela patroa. Tentei não rir da situação e afastei a imagem da fúria que o Lucas ficaria se soubesse disso.

- Eu não me sinto bem quando você fala assim. Eu amo o meu marido, eu não posso deixá-lo quando ele mais precisa de mim. Você precisa entender Ezequiel, o que aconteceu entre nós precisa ficar guardado a sete chaves e nunca mais se repetir.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora