CAPÍTULO 59

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LUCAS

Mais uma vez me vi naquela situação, olhando o livro na cômoda do meu quarto. Mas dessa vez eu tive coragem o suficiente para me aproximar, cheguei até deslizar o dedo na capa colorida com as iniciais R&L. Recolhi a mão e abri a porta mais uma vez, nem sinal da Rebecca. Ela havia esquecido o livro no meu quarto, enquanto se preparava para a surpresa que eu tinha prometido. Antes ela tivesse levado esse livro consigo, eu não estaria nessa angústia.

Passei a mão nos cabelos, nervoso, ansioso. Esperei a vida inteira por esse momento, julguei que ele nunca aconteceria. Ouvi dezenas de histórias de casais Varez, onde viviam o amor em suas diferentes formas e intensidades. E mesmo tentando ser racional, o meu inconsciente acreditava veementemente que após a pedra ametista ter sido roubada, a nossa família estava fadada ao fracasso no amor.

Chega a ser perturbador as diferentes histórias descritas após a perda da ametista. Não muito longe da minha realidade, consigo mencionar os meus pais. Que viveram um amor puro e constante, até um acidente lhe retirar a memória de todo esse amor. Senti um nó crescer na minha garganta. Eu precisava ser racional, não existia uma maldição ou algo místico nisso. Eu conseguia lidar com as coincidências que aconteceram após a pedra ter sido retirada da biblioteca.

Mas uma parte de mim, uma grande parte, aquela que ainda amava a história da minha família, ainda acreditava nessa punição.

Balancei a cabeça diversas vezes, como uma forma patética de dispensar todos os pensamentos ruins que poderia afastar a Rebecca de mim. A coragem ganhou força, quando finalmente eu abri o livro em uma folha aleatória.

A ansiedade no meu peito se desfez, bem como o sorriso no meu rosto. Eu fechei o livro rapidamente, e apertei os olhos, tentando a todo custo esquecer que a Rebecca estava escrevendo um livro sobre a história dela e do meu irmão, e não sobre a nossa. Na folha sorteada, o nome dele era destacado com uma caligrafia desenhada: Luan, meu primeiro amor...

Não consegui ler as demais palavras que formava aquela história de amor. Mas prometi que nada mais ficaria entre nós, eu precisava ser maduro e encarar a realidade, a Rebecca sempre terá uma história com o Luan, e essa história ela carrega no ventre.

- Pode ler! - Ouvi a sua voz, bem próxima. Mal notei a sua presença.

Rebecca estava com os cabelos negros molhados, o corpo exprimido em um vestido longo amarelo. Eu precisava comprar mais roupas para ela. Roupas leves para uma gestante.

- Não, obrigado. - Não sabia o que argumentar, não queria entristecê-la, mas também não conseguia lidar com palavras de amor direcionadas ao meu irmão.

Santa ilusão achar que aquele era o nosso livro, a nossa história.

- Lucas, você não quer ler? - Ela perguntou, segurando o livro colorido nas mãos e oferecendo.

- Rebecca, eu não posso... esqueça isso, vamos tomar o desjejum e eu te levarei até a sua surpresa. - Afirmei, torcendo para a tristeza no seu rosto desaparecer.

Nem por um momento eu imaginei que ela escreveria a história do meu irmão. Eu não tinha a menor intensão de ter acesso a esse conteúdo. Infelizmente, sei que parte disso é a minha culpa. Prometi que escreveríamos o nosso livro juntos e assinaríamos no altar, mas logo em seguida eu deixei a tempestade nos alcançar e não confiei nas suas palavras.

- Bom, tudo bem então. Eu ainda não terminei, mas acredito que ele ficará na biblioteca com os demais, se você um dia quiser ler.

Não havia nada que eu pudesse ou quisesse responder. Esperei ela guardar o livro no seu quarto e caminhamos até a sala de jantar, em absoluto silêncio.

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