LUCAS
- Qual o motivo da surpresa? - Indaguei, ajudando Thaís a desfazer a pequena mala e colocando as suas peças de roupa em um espaço no meu guarda-roupa.
- Se eu falar que senti saudades não será motivo suficiente, certo? - Ela lançou um olhar e zipou a mala.
- Nunca vi você fazer algo tão bruscamente e não sabia que você estava em Cuiabá. - Rebati
A mulher alta de pele bronzeada e cabelo loiro era muito parecida comigo em suas atitudes. Ela amava ter controle de cada situação e não gostava de surpresas, defendia uma grande empresa de agronegócio e precisava passar dias em São Paulo, a sede do seu escritório. Raras vezes conseguíamos passar um fim de semana juntos. Não havia nenhum compromisso entre nós, mas esse jogo de encontros apenas para uma satisfação sexual ocorria a mais de quatro anos.
Thaís fechou a janela e a cortina e separou uma camisola e roupa íntima na cama, provavelmente deixando bem claro as suas intenções. Andou pelo quarto, como se procurasse algo. Até o momento que ela parou de frente a planilha que criei para os medicamentos da Rebecca e ficou analisando por um tempo.
- Você está muito empenhado nessa missão que a sua mãe lhe obrigou. - Disse rispidamente tentando abrir a gaveta chaveada.
- Preciso confessar que isso soa como um elogio. Contudo eu não fui obrigado a nada.
Eu conhecia a Thaís tempo mais do que suficiente para saber que ela estava a ponto de explodir. A advogada não gostava de ser contrariada e sendo filha única de um importante político, sabia como conseguir tudo o que desejava.
- Só acho estranho toda essa situação. Uma coisa é você precisar cuidar dessa menina até o nascimento do seu sobrinho, pois foi isso que você disse que faria. Outra coisa muito diferente é ela estar no seu quarto enquanto você toma banho e no dia seguinte você decidir brincar de manicure com ela.
Língua afiada e um olhar penetrante. Ela desabafou em questão de segundos o motivo da sua 'surpresa'. Sabe aquela brincadeira de ficar olhando nos olhos da pessoa e o primeiro a desviar perde? Pois então, Thaís nunca perdia nessa brincadeira. Ela me encarava, como se procurasse alguma verdade oculta e que eu responderia com o olhar.
Era cansativo voltar na mesma história de sempre, tentar convencê-la que eu estava fazendo o correto nessa situação. Assim que eu soube que Rebecca estava gerando um filho do meu irmão, eu liguei para Thaís, avisei de toda a situação e a coloquei ciente que passaria os próximos meses cuidando da menina. Ela sabia que a Rebecca é usuária e passa pelo período de abstinência, ela sabe da gravidez de risco e que se tudo der certo e a criança sobreviver será criada pela minha mãe. Eu nunca escondi nada da Thaís e mesmo assim ela cobrava algo que eu não estava disposto a concordar.
- Não vou mais pedir para você desistir dessa situação que você criou... - Ela se aproximou e tocou no meu rosto. - Só quero que você não se envolva tanto. Sabe que está em um momento delicado com o falecimento do Luan...
- E é exatamente por isso que eu preciso ajudar a Rebecca. Ela não pode perder essa criança. - Rebati, segurando as suas mãos e afastando do meu rosto.
- Ajuda o básico, aquilo que é normal. - Ela amenizou a voz, nitidamente controlando o próprio impulso. - Dar remédio, controlar o temperamento agressivo ou louco que ela pode ter na abstinência, não deixar ela se machucar ou ferir o bebê, zelar pelo bem estar dela e etc. São atitudes normais que você pode ter para com ela.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...