CAPÍTULO 13

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REBECCA

Ametista era uma mulher forte e determinada que mesmo na sua época não deixou de seguir o seu coração. Acredito que o seu maior erro era priorizar a família e isso custou a distância do seu grande amor. Afonso não era de família nobre, não possuía bens e era um serviçal. Li muito sobre ele na literatura escrita por sua amada e era descrito que o homem era um aventureiro nato.

Afonso era apenas um menino quando decidiu deixar a sua família para trás em Portugal e embarcar rumo à novas terras descobertas no ocidente. Acredito que o nosso amado país tinha sido "descoberto" a um pouco mais de duzentos anos quando o moço embarcou nessa aventura. Trabalhou como carregador em São Paulo e serviçal na casa de uma conhecida família.

A família, cujo pai era um representante real, possuía lindas filhas criadas à regras rígidas da recém criada sociedade brasileira. Sem deixar a cultura portuguesa de lado, o pai preparava a família para uma viagem sem precedentes. A mãe, no primeiro momento, foi contra. Não chegava deixar a sua pátria e cruzar o oceano rumo a um país hostil? Agora o marido decidira piorar a situação. Sendo um exemplo de esposa a ser seguido para a época que viviam, ela deixou os próprios gostos e pensamentos de lado e obedeceu o marido.

Uma filha na mocidade, quase pronta para um casamento e mais quatro filhas em idade infantil, passando luas e mais luas em uma embarcação sem nenhum conforto e indo ao encontro do desconhecido estado do Mato Grosso, onde a fama de uma terra com muitas riquezas, mas que escondia doenças por mosquitos e índios não "domesticados" era a receita perfeita para o caos.

Afonso estava lá, mas não era notado. Como um empregado seria notado pela mais formosa mulher que já viu na vida? Durante aqueles meses estendidos, vagando pelos rios cuja periculosidade transparecia a falta de confiança até dos mais exímios navegadores, Afonso servia aquela família da maneira como era ordenado, sem nunca deixar de sonhar com aquela mulher capaz de fazer os seus dias e as suas noites serem transformadas em um sonho.

Um dia, próximo da chegada ao estado recém desbravado, Afonso conseguiu ouvir o seu nome. Não havia nenhum outro nome que encaixasse tão perfeitamente na preciosidade que aquela mulher era na sua vida. Ametista. Era assim que a sua mãe a chamava quando estavam prontas para o jantar. Naquela noite, a literatura conta que Afonso dormiu sonhando com a pedra rara e arroxeada, a sua linda Ametista era a única responsável pela sua vida de aventureiro fazer algum sentido.

Assim que a capitania fincou o ferro batido na terra avermelhada nas margens do rio, Afonso foi distanciado da sua preciosidade. Ele lutou para continuar servindo a família, mas não havia o que pudesse ser feito, foi encaminhado a uma vila recém construída e ali ele permaneceu, sem ter nenhuma notícia da sua Ametista.

O seu sonho tornou-se realidade quando a jovem passou a viver naquela mesma casa que ele servia. Afonso, que acabou de vencer à malária, não sabia se tratar de uma alucinação da febre recém amenizada ou se de fato estava vendo a preciosidade passeando no jardim. Não havia nenhuma confusão quando ele se aproximou e notou aquela pele clara, com traços finos e maças do rosto rosadas. Aquele cabelo negro preso, com fios teimando em deixar as presilhas e espalharem aos seus ombros. Ametista sempre usava roupas com algum toque de roxo e por onde passava, não havia quem não a seguisse com o olhar.

Pedindo, implorando, ele conseguiu pegar as caixas que a moça havia encomendado da capitania de mercadorias. Ele levou ao seu quarto e depois permaneceu próximo à porta, esperando alguma oportunidade. Afonso não estava próximo a sua classe social, mas nem isso seria barreira suficiente para ele não a tê-la. Ouvindo as suas reclamações, o homem decidiu arriscar e entrar no cômodo, tempo o suficiente para quase ser atingido por cores e telas.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora