CAPÍTULO 12

497 114 25
                                    

REBECCA

Abri os olhos sentindo alguém repousar o braço em cima de mim, atravessando o meu corpo e me prendendo na cama. Virei o rosto para olhá-lo com dificuldade, pouca luz teimava entrar pelas cortinas fechadas, ele estava de bruços e com o rosto virado para a minha direção. Dois travesseiros separavam os nossos corpos, mas estávamos próximos o suficiente para eu sentir cada onda de calor invadindo o meu corpo. Lucas estava tão sereno, com a respiração tão leve, que eu não pude acordá-lo, sentia uma enorme gratidão por ele ter me acalmado na noite anterior e uma vontade quase incontrolável de beijar o seu rosto como uma forma de agradecimento. Me controlei (com dificuldade) o suficiente para levantar o seu braço com muito cuidado e escapar pela lateral da cama. Ainda dormindo eu pude ouvi-lo reclamar da abrupta movimentação, fiquei paralisada ao lado da cama, esperando ele dizer algo. Mas ele se entregou ao sono novamente.

Não queria ficar muito tempo no quarto para não acordá-lo. Então eu fui ao banheiro e tentei fazer menos barulho possível. Lavei o rosto e escovei os dentes, deixando o banho para uma hora mais apropriada. O livro não estava no quarto e eu só percebi isso depois de varrer o quarto com os olhos. Imaginando que ele estaria na biblioteca, vulgo escritório do Lucas, abri a porta com delicadeza e fechei, quase correndo no momento seguinte. Eu estava nas últimas páginas do livro e ainda não conseguia entender como eu dormi lendo-o. Sei que grávidas dormem mais, mas não justificava eu ter deixado a Ametista em apuros.

O escritório estava com a porta aberta e com um cheiro muito forte de bebida alcoólica. Entrei observando a mesa principal molhada, com papeis encharcados, folhas espalhadas pelo chão e uma garrafa de whisky quebrada. Provavelmente Lucas pensou apenas em me tirar da situação de pânico e não se lembrou de fechar a janela. Eu não conseguia controlar o desespero que me cercava quando uma simples chuva começava. Somado a isso, a chuva da noite anterior foi a mais aterrorizante que eu passei. Sei que o trauma do acidente deu início a esse medo, mas isso estava ganhando uma proporção que eu não sabia onde chegaria e isso me preocupava.

O livro estava em uma mesinha de vidro ao lado do sofá. Assim que o peguei ouvi alguém empurrando a porta do cômodo.

- Senhora Rebecca, como está? - Disse Inês, me olhando com desconfiança. Ela carregava alguns itens de limpeza e um saco de lixo.

- Estou muito bem. - Respondi olhando ao redor.

- A senhora vai ler aqui no escritório? - Inês colocou os produtos na mesa principal e começou a juntar as folhas do chão.

- Acho que vou tomar um café da manhã antes de iniciar a leitura. - Disse o óbvio.

- Ótimo. Eu preciso limpar esse escritório rapidinho, antes que o senhor Lucas volte do garimpo.

A senhora baixinha de sorriso fácil começou a limpar os móveis com rapidez. Ela juntou a garrafa do chão e pegou uma outra bebida que não estava quebrada, abriu uma portinha do armário e colocou ela ali, em segurança. Notei que havia pelo menos umas cinco garrafas diferentes.

Resolvi deixá-la sozinha e não dizer que o Lucas estava ainda dormindo e na minha cama. Isso soava estranho até nos meus pensamentos, imagina externar tal frase? Não havia ninguém na sala de jantar, mas a mesa já estava posta com um verdadeiro banquete de café da manhã. Eu não sabia o horário, mas as enormes janelas do grande cômodo mostrava que o sol estava nascendo. Sentei em uma cadeira que possibilitasse essa incrível vista. Deixei o livro na ponta da mesa e servi um pouco de suco. Peguei uma fatia de pão e passei margarina. O vento frio entrava no cômodo e a cena era moldurada por árvores distantes, o sol teimando em nascer entre elas, com uma cor alaranjada, pássaros migrando e um cheiro da terra molhada.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora