CAPÍTULO 62

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LUCAS

Sentia todos os sintomas da ansiedade tomar cada pedaço do meu corpo. Mãos trêmulas, olhos vidrados, boca seca, uma dor no estômago, até mesmo tontura. Mas me mantive firme, pelo menos até conseguir uma brecha na aglomeração de pessoas ao redor das listas de aprovados no vestibular. A minha maior aflição era não saber se eu tinha feito uma redação boa o suficiente para ajudar com a nota da prova objetiva. Conversei muito com a minha professora após a prova, mas a insegurança me dominava.

Durante as semanas que seguiram até o dia do vestibular, precisei deixar de lado tudo o que eu era, para ter o foco necessário. A minha sorte, é que o momento estava me favorecendo. Rebecca estava feliz, segura, com a gestação tranquila e cercada de cuidados da sua mãe e até da Inês que lhe fazia companhia diária. Eu não tinha preocupação com ela. Apenas saudades.

O peso de ser um líder Varez estava sendo tirado como se fosse aquela maldita mochila com pedras que o Marcos me fez carregar na fazenda. Sentia, como se pudesse ser real, uma pedra após a outra sendo retirada e o fardo ficando cada vez mais leve.

Mas naquele dia em específico, no dia do resultado do vestibular, eu estava nervoso. Ansioso ao ponto de não conseguir tomar café da manhã, de não conseguir dormir de noite e de cada palavra que saia da minha boca estava tremula e sem nenhuma lógica.

A movimentação no campus da universidade estava tão descontrolada, que não consegui uma vaga para parar o carro. Deixei no mercado e fiz uma longa caminhada até a primeira entrada da UFMT. Naquela primeira hora do dia, ainda não tinha nenhuma gritaria da aprovação ou lágrimas da reprovação. Pois os resultados ainda não estavam colados na parede.

Sentei no chão do bloco de medicina e fechei os olhos enquanto tentava controlar a minha respiração até o momento certo. Alguns colegas do cursinho me viram ali, tentaram conversar comigo, mas eu não lembro nem o que eu respondi. Muitos candidatos estavam com os seus pais, namorados e amigos. Mas eu estava sozinho. Não quis convidar ninguém, pois se o meu fracasso fosse muito grande, eu queria guardar apenas para mim e tentar novamente.

Caramba... vários servidores saíram ao mesmo tempo do auditório e começaram a pregar as listas na parede. Levantei do chão e escorei em um pilar, tentando manter o peso nas pernas com firmeza.

Começou.

Os gritos, lágrimas, pulos, tristeza, felicidade, derrota, vitória... aquele misto de sentimentos que me fazia querer correr dali. Vi candidatos tão novinhos sendo aprovados, enquanto outros eram amparados pelos pais que diziam que em outra oportunidade eles conseguiriam, que seriam vitoriosos.

Esperei um tempo. Pois se eu tentasse sair de perto daquele pilar que estava sustentando o bloco e também o meu corpo, na certa eu cairia. Então quando eu tive mais firmeza nas pernas e os meus pés me obedeceram na caminhada até aquela parede, eu pude encontrar um lugarzinho no meio da multidão.

Passei o dedo em cima de cada nome da lista de aprovados, até achar... bem ali, na última vaga, apenas com um pontinho de diferença: Lucas Varez.

Não houve tempo para eu verificar as trinta vezes que o meu cérebro necessitava, senti alguns colegas do cursinho me puxar para o canto e começar a jogar tinta azul no meu rosto, manchando toda a minha roupa.

- Eu sabia, Lucas. Eu sabia da sua capacidade. Garoto, você vai longe. - Minha professora me puxou para um abraço, sujando de tinta o seu jaleco. Eu não sabia que ela estava ali até aquele momento. - Eu quero ter a honra. - Ela molhou o dedo com uma tinta verde. - Abaixa menino, olha a minha altura.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora