LUCAS
- Não acho necessário essa terapia. A Rebecca precisa mais do que eu, então faz o favor de atendê-la. - Tentei não soar como grosseria, mas não havia motivo para o psicólogo usar o tempo da sessão da menina comigo.
- Senhor Varez, é no momento que a pessoa acha menos necessário ter ajuda, que deve-se procurá-la com urgência. - O sabichão me olhava como se tentasse ler os meus pensamentos.
Eu não precisava de nenhuma ajuda. Queria que a Rebecca fizesse essa sessão. Desde o dia que ela resolveu se alcoolizar, não sentou com esse psicólogo para falar sobre isso ou qualquer outra coisa que eles falassem durante mais de uma hora juntos.
Estávamos na parte oeste da fazenda, um pouco afastados, caminhando na trilha com o psicólogo que forçava essa terapia. Lembrava das palavras da Rebecca, dizendo que se eu não conversasse com esse cara por uma hora, ela não aceitaria mais ter acompanhamento com o psicólogo. A menina tinha aprendido, bem rapidinho, a fazer chantagem e até mesmo a minha mãe foi a sua vítima.
Noite passada, quando eu tive aquele mal súbito, ouvia de longe a Thaís atribuir toda a culpa na Rebecca. Eu queria dizer que ela não fez nada, pelo menos não fez nada comigo. É claro que eu estava decepcionado com a pergunta sobre o aborto, mas não era esse o motivo.
Eu não sei dizer qual era o motivo, foi algo que simplesmente aconteceu. O psicólogo, que parecia ter todas as respostas do mundo, foi dizendo no telefone para a minha mãe que eu estava tendo uma crise de pânico. A pior parte é que todos acreditavam nele e eu não conseguia explicar absolutamente nada.
Era como se eu estivesse fora da minha vida, vendo de longe aquela cena e não tendo nenhum controle do meu corpo, que continuava tremendo sem nenhum motivo. Tentava raciocinar dizendo mentalmente que eu era o homem responsável por aquela família, que eu não podia dar o luxo de chorar como uma criança. Fiquei envergonhado, não era só a minha mãe, Thaís e Rebecca naquele corredor, Inês e Carminda também estavam, tentando me acalmar a sua própria maneira.
"Ele disse que sairia para tomar um ar. Sogra, ele se encontrou com essa garota no corredor, ela deve ter falado algo que o deixou assim". - Thaís argumentava.
"Está louca? Ele não ficou assim, ele está assim. Está assim desde a morte do Luan, será que vocês, a ilustre família, não conseguem notar?" - Rebatia Rebecca.
"Está dizendo que eu não cuido do meu filho?"
"Dona Rosa, eu estou dizendo que o Lucas não está tendo a chance de sofrer pela morte do irmão, ele está guardando todo o luto dentro dele. Não é só a senhora que não cuida dele, eu também não cuido, nem essa mulher aí, nem os outros parentes. A verdade é que ninguém cuida dele e todos querem os cuidados dele".
Enterrei o meu rosto nas minhas mãos. Eu queria desaparecer daquela casa, ou simplesmente fingir que aquilo não tinha acontecido. Provavelmente eu pediria isso para a minha mãe e para a Thaís e elas aceitariam esquecer, mas a Rebecca nunca deixaria aquela história passar batido. Por isso ela pediu para a minha mãe ligar e conversar, aquela hora da noite, com o psicólogo dela e pedir uma sessão para o primeiro horário de manhã.
O momento que a Rebecca fez a chantagem na minha mãe, foi quando ela decidiu que cuidaria de mim aquela noite e literalmente me empurrou para dentro do seu quarto mesmo com a Thaís questionando.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...