CAPÍTULO 45

432 98 20
                                    

REBECCA

- Pai - Maya entrou na cozinha e se jogou nos braços do pai, acordei do meu transe no mesmo instante, vendo a falta que aquela figura fazia na vida da filha.

- Maya, como está grande! Não faz nem duas semanas que nos vimos e você já cresceu. - O homem estava sorridente e abraçava a filha com carinho. - A cada dia você fica mais parecida com a sua mãe, olha como o seu cabelo está lindo.

O comentário fez a menina esconder o rosto no braço do pai. Vi que o seu corpinho pequeno começava a balançar em pequenos soluços.

- Desculpa minha menina, não queria te fazer chorar. Pensei em passar o dia com você, talvez até montar à cavalo. O que acha? - O homem parecia acuado e a sua voz estava trêmula.

- Eu quero parecer a mamãe, só tô chorando porque sinto saudades.

Ela mal falava sobre esse assunto, geralmente desconversava. Mas eu sabia que ela sentia muita falta do pai. O pouco que eu sabia sobre eles era que a mãe faleceu em um acidente e que durante alguns anos ele cuidou sozinho da menina, mas com o passar do tempo ficou cada vez mais difícil. A decisão de mandar a Maya morar com as tias, foi motivada em decorrência da menina ter se tornado uma mocinha e o pai não saber como ajudá-la com as novas demandas.

Certo dia a Carminda disse que o irmão levava a Maya para o serviço de mecânico, mas que uma oficina não era o local apropriado para uma menina passar o dia inteiro. Algo aconteceu, eu não sei exatamente o quê, mas depois desse dia o pai entrou em contato com a irmã e pediu para a Maya morar na fazenda.

Maya subiu no colo do pai e ele a abraçou forte, fechando os olhos enquanto sentia o cheiro da filha.

- Pai, essa é a Becca, minha amiga. - Eu me ajeitei na cadeira e limpei a boca de bolo antes de cumprimentá-lo.

O homem alto estendeu a mão e apertou a minha enquanto dizia o nome, eu ainda estava aérea, mas Maya nos apresentava com muito entusiasmo. Balbuciei uma saudação e agradecimento por ter levado o livro.

- Se você descobrir algo peça para a Carminda me avisar, eu sempre quis saber sobre a verdade por de trás dessa história. - Justino pediu.

- E por que eu não posso avisar? - Perguntou Inês, cruzando os braços em sinal de protesto.

- A Carminda possui mais neurônios. - Ele justificou, fazendo a irmã correr atrás dele na cozinha apertada.

- Pelo amor de Deus, vocês não são mais crianças. Xispa da minha cozinha, preciso cozinhar feijão. - Carminda expulsou, enquanto Maya saiu divertida atrás do pai e da tia que corria pelo jardim. - Inês já não faz nada o dia inteiro, não ajuda, não cozinha, não limpa, passa a manhã toda atrás da minha saia falando sobre o namorado e "ixpiando" a vida dos outros. Dai para completar resolve brincar com o nosso caçulinha, eita muié difícil de lidar.

Marcos, o psicólogo, escondeu uma risada olhando na direção da janela, eu abaixei a cabeça pelo mesmo motivo. Carminda estava nervosa e provavelmente nos mandaria embora da cozinha também.

- Menina, se precisar de algo mande me chamar, eu vou para o garimpo. - Anunciou Ezequiel. - O senhor Varez se encontrará comigo dentro de 1 hora.

Eu já estava levantando da cadeira quando senti as minhas pernas cederem, voltei a sentar para não cair.

- Não sabia que o senhor Lucas já estaria de volta! - Afirmou Marcos, enchendo uma enorme xícara de café.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora