CAPÍTULO 52

391 85 35
                                    


LUCAS

Eu esperava por uma terapia de alto nível, onde o psicólogo descreveria abordagens próprias para cada situação da minha vida e como reestruturar os meus próprios pensamentos. Mas claramente era uma fantasia imaginar que o Marcos pudesse entregar algo normal.

No início até conseguimos desenvolver uma conversa quase casual sobre o meu desabafo. Ele me perguntou detalhes da minha relação com os meus pais, com a Rebecca e como era com o Luan. As primeiras perguntas eu consegui responder rapidamente, sem pestanejar.

O psicólogo já sabia sobre o acidente do meu pai e a desestruturação da nossa família após isso. Conhecia o meu envolvimento com a Rebecca, como iniciou e como terminou. E eu atualizei dos últimos detalhes, aqueles mais simples (ironia), como as drogas que eu encontrei na mochila dela, eu ter abandonado ela na fazenda no momento que ela mais precisava de mim, o pedido de casamento cujo arrependimento veio logo em seguida...

- Qual foi o motivo que você se arrependeu?

- Bom, eu... - Me ajeitei na cadeira e balancei as pernas, talvez ganhando tempo. - Eu traí o meu irmão, quer um motivo melhor que esse? - Respondi envergonhado.

Marcos não disse nada sobre isso, foi quase como se ele não tivesse obtido nenhuma resposta. Ele balançava a cabeça, como se concordasse com os seus próprios pensamentos. Depois de contar cada detalhe que aconteceu nos últimos dias, o psicólogo tocou um ponto muito dolorido e que eu não estava disposto a dialogar.

- Varez, agora me fale sobre o seu irmão.

- Doutor, eu não quero falar sobre isso. Vamos continuar a conversa sobre a Rebecca ou sobre a minha mãe, posso até falar sobre o pré contrato que eu assinei para o meu primo ser o novo senhor, mas esse assunto...

- É exatamente esse assunto que vai trazer a paz que você tanto procura.

Eu conseguia compreender o seu ponto de vista, mas não podia aceitar. Eu vi uma sessão superficial que ele teve com a Rebecca, a única que eu pude testemunhar. Onde ele perguntava sobre alguns momentos que ela viveu com o Luan e ela respondia como se fosse a conversa mais natural do mundo. Eu não estava pronto para isso e acho que eu nunca estaria.

Ele estava preocupado, isso era claro. Chegou a escrever algo no bloquinho, ou talvez ele só desenhou um sol sorrindo enquanto esperava eu ter a iniciativa de falar sobre o meu irmão, mas isso não estava acontecendo. Por fim ele levantou do divã, foi até a janela, fechou a cortina, voltou a sentar e olhou o relógio no pulso e em um salto ficou em pé novamente.

- Já deu nosso tempo, foi muito produtivo, agora temos que sair em dois minutos ou eu terei que pagar mais uma hora da sala.

Levantei da poltrona sem saber como questionar a nossa sessão de terapia que em partes foi um resumo dos últimos dias e a outra parte foi um silêncio absoluto. Ele puxou o paletó que estava na cadeira, vestiu, pegou a maleta e abriu a porta, dando passagem para eu ir na frente.

- Doutor, sabe que eu posso pagar pela sala, certo? - Tentei falar baixo e com uma calma que não existia mais em mim.

- Provavelmente até o prédio inteiro, mas eu não acho que a nossa sessão vai funcionar aqui.

Eu concordava com ele, me sentia preso e ao mesmo tempo exposto nesse consultório. Como se a minha vida fosse um mar de tragédias que eu mergulhava constantemente, cometendo os piores erros e equívocos. As nossas sessões passadas foram realizadas por telefone, conversávamos em horários apropriados e ele chegou ir duas vezes no meu escritório. Era mais confortável estar em um território que eu conseguia controlar.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora