CAPÍTULO 6

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REBECCA

Eu não estava acostumada a ser o centro das atenções e cuidados. Tanto o Lucas, quanto os funcionários da fazenda e até o próprio médico, mediam as palavras para falarem comigo. Notei que eles "pisavam em ovos" quando tinham que se aproximar de mim. Eu não merecia e não queria tantos cuidados. Mesmo sabendo que ele fazia apenas para o bem da família, ou seja, para o sobrinho nascer com saúde, era de espantar tudo o que ele fez por mim em tão pouco tempo.

Uma greve de fome até que eu aceitasse comer; uma promessa de surpresa a cada refeição que eu fizesse; e cuidar de cada detalhe que eu precisasse durante os próximos meses. Sinceramente, não acreditei nas suas palavras no princípio e acredito que ninguém na minha situação acreditaria. Mas uma coisa que eu aprendi com o Lucas é que ele continuava firme na sua decisão, até as últimas consequências.

Tomei um banho logo após a consulta. Fiquei espantada de como a Dona Rosa preparou o quarto médico com tudo o que o doutor precisava. Fiz exame ginecológico e o médico colheu o meu sangue e colocou em um isopor pequeno. Eu fiquei quieta para não atrapalhar o seu trabalho. Ele pediu que eu o informasse de qualquer dor e eu disse sobre a dor de cabeça, os enjoos, a dor no corpo e a sede descontrolada. Doutor João abriu um sorriso tranquilizador e disse que já tinha se adiantado e levado os medicamentos até a fazenda, que deixaria todos eles com o Lucas e ele seria o responsável pelos horários.

Fiquei intrigada com a situação. Eu já mandava no meu próprio corpo, era maior de idade, pelo menos ao ponto de conseguir tomar os remédios seguindo recomendação médica. Foram necessários alguns minutos até eu perceber que eles tinham medo de eu atentar contra a minha própria vida. Tomar vários medicamentos ou amassar eles e começar a cheirar como pó? Era mesmo o fundo do poço.

Tentei ignorar isso e qualquer outra coisa ao meu redor. Vesti a primeira roupa que eu vi jogada na cama e decidi arrumá-las no armário de madeira que ficava ao lado da porta do banheiro. Ele era muito grande para as poucas peças que eu tinha levado, então em poucos minutos já tinha colocado tudo no lugar que eu achei apropriado. Abri a janela para encarar o início do pôr do sol. Sentei na poltrona bem de frente para a vista e coloquei os pés no parapeito. A janela tinha tela de proteção para mosquitos (ou apenas obstáculo para eu não pular a qualquer surto).

Doutor João informou que a minha gravidez era muito delicada e explicou que a abstinência nesse caso é ainda pior. Ele disse que se eu não estivesse grávida, eu tomaria medicamentos controlados e com o tempo a dose diminuiria até o meu organismo conseguir viver sem. Mas era tão perigoso esse tipo de tratamento, para o feto, que eu precisava pular toda a parte e já ficar sem nenhuma substância.

Tentei não pensar nisso. Distrair a mente vendo aquela pintura que a natureza nos presenteou. Mas já estava roendo as unhas, descontroladamente, deixando cada ponta de dedo na carne viva. Foi quando ouvi alguém batendo na porta. Carminda trouxe um lanche da tarde, um chá e um livro. Fiquei intrigada com a capa estranha e com a repentina surpresa. Ela informou que o patrão mandou entregar. Voltei a sentar na poltrona e comecei a beber o chá enquanto analisava a capa daquele livro. Não tive fome para comer o sanduíche, mas o chá eu finalizei rapidamente.

A capa do livro era uma espécie de couro tingido de roxo. Havia uma pesada fivela na cor de ouro (ou realmente era ouro) segurando as páginas amareladas. Não contive a curiosidade, abri o livro e li a primeira página.

Relato de um amor - 1730

Afonso Varez & Ametista Varez

As páginas carregavam uma história, uma história de amor. Estiquei as pernas e coloquei o pesado livro no meu colo, me deliciando com a curiosidade daquela narração. Eram palavras difíceis, que perderam o uso com o passar do tempo. Mas eu conseguia compreender todo o amor que aquele casal viveu e tentei traduz nas seguintes palavras:

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora