REBECCA
Acordei de um sonho bom, para me deparar com uma realidade ainda melhor. Lucas estava ali, bem na minha frente, lendo um livro diferente, enquanto a sua mão direita descansava em cima da minha barriga. Ele não notou que eu acordei, continuou sem tirar os olhos da leitura matinal.
Noite passada não conversamos, e não era porque não tinha assunto. Muito pelo contrário, eu tinha tantas perguntas para fazer, tanta desculpa para pedir, tantos pensamentos confusos. Mas concordamos silenciosamente em apenas aproveitar aquela noite. Não nos despedimos de ninguém, apenas subimos as escadas e entramos na sede. Provavelmente os meus pais ficaram na festa, se duvidar o meu pai ainda estava lá, dançando com o nascer do sol.
Eu acompanhei os seus passos, com as nossas mãos entrelaçadas e corpos grudados. Lucas abriu a porta do seu quarto e entramos no cômodo escuro. Poucas vezes eu tinha estado aqui, geralmente era para pedir algum medicamento que ele guardava na gaveta da cômoda, ou para acusá-lo de alguma coisa que eu julgava que ele tinha feito.
Senti uma enorme nostalgia, lembrando do dia que ele segurou a minha mão pela primeira vez, aqui mesmo nesse quarto, e disse que compraria unhas postiças. Eu achei tão estranho a sua atitude, mas com o tempo eu vi que ele é essa pessoa. Ele precisa cuidar de todos ao seu redor, é preocupado, altruísta e diversas vezes inseguro. E é essa mistura de perfeição e imperfeição que eu tanto amo.
Nessa noite eu descobri que havia uma banheira no quarto dele, que agora estava cheia de água morna e espuma com cheiro de flores. Pensei muito se valeria a pena eu brigar com ele por não ter informado antes que havia uma banheira tão próxima do meu alcance, mas decidi permanecer em silêncio e só aproveitar o momento.
Foi relaxante o banho. Havia tanto cuidado, tanta delicadeza, que toda a dor que eu senti naquele dia, estava desaparecendo. Ele sabia que eu não estava bem. Marcos tinha informado sobre o meu estado. Eu não sei como não imaginei que ele voltaria a qualquer momento se algo acontecesse comigo. Se eu tivesse raciocinado isso antes, teria pedido para o psicólogo inventar alguma desculpa só para ele voltar.
Contudo, todas essas ideias imaturas foram esquecidas a medida que a nossa conversa se aproximava. Uma parte de mim tinha consciência que se ele encontrou a minha mãe na minha antiga casa, muito provavelmente falou com a Paula ou o fornecedor. E se ele conversou com aquele casal por apenas alguns minutos, já teria noção do que eu tinha escondido dele.
Foi mais fácil me culpar. Não só para a família do Luan, eu também me senti melhor me culpando por tudo. Era como uma forma de aliviar a dor da perda, me responsabilizando por todo mal que aconteceu. Isso é certo? Provavelmente não. Eu não aconselharia ninguém fazer o que eu fiz. Mas como atingir uma família já fragilizada pelo luto? Eles não me conheciam, não tinham nenhum sentimento por mim, foi mais fácil e simples me calar. Eu contei apenas para a Inês, ela também julgou que o melhor era não aumentar ainda mais a dor daquela família.
Demorei dormir. Revirava na cama, mesmo com o Lucas ali, me abraçando a noite inteira. Ele estava cansado, era visível a sua exaustão. Mas os pensamentos não queriam deixar a minha mente livre. Fiquei vagando pela história que eu construí ao lado do Luan e como eu e o Lucas teríamos essa conversa. Isso me preocupava. Por fim o cansaço venceu e a minha mente precisou ceder.
Lucas estava sentado na beirada da cama, ainda inerte do meu despertar. O sol começou a invadir a cortina pesada da janela e a visão ficou ainda mais perfeita. Ele estava sem camisa, apenas com uma calça de pijama, o cabelo molhado, a barba por fazer e os olhos esverdeados encarando a leitura.
A bebê começou a se mexer, dando chutes visíveis para deixar claro que ela tinha acordado.
- Princesinha, como você está grande e esperta.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...