CAPÍTULO 46

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REBECCA

Como traduzir o que foi conhecer o João Varez? Posso afirmar que ele retirou toda a paz que eu senti nas últimas horas. Ele era a junção perfeita da aparência do Lucas, com a personalidade ácida e rebelde do Luan.

Marcos puxou a cadeira e me ajudou a sentar, fiquei em silêncio enquanto eles se cumprimentavam e iniciavam uma conversa casual sobre o tempo. João estava sentado na ponta da mesa, bebendo cerveja e almoçando despreocupadamente. O psicólogo, assim como eu, parecia pouco a vontade com aquela situação, não o conhecíamos e tínhamos que ficar ali, almoçando com aquele homem que todos ao redor falava horrores.

- Ela não fala? - João apontou na minha direção, Marcos me encarou, talvez esperando eu falar algo ou não.

- Falo quando tem algo para falar, nesse momento não tenho nada para dizer. - Rebati.

O homem estava muito satisfeito, abriu um sorriso largo e levantou o copo com a bebida gelada na minha direção em uma espécie de brinde.

- Fico feliz de ter companhia para almoçar, não sabia que haviam amigos do Luan na casa. Mas sejam bem vindos e fiquem o tempo que quiserem. Amigos do Luan também são meus amigos.

Ele parecia ser o dono do local, coisa que não era. Ele estava ocupando o lugar do Lucas naquela mesa, levando bebida alcóolica para a fazenda, coisa que o Lucas havia proibido, e tinha um olhar arrogante como se tudo lhe pertencesse.

- Obrigado pela hospitalidade. O senhor planeja morar aqui?

Olhei para o psicólogo, querendo saber onde aquela conversa chegaria.

- Não, definitivamente não. Só virei quando necessário. A minha esposa também está gestante e quer morar na capital, ela não suporta a vida no campo e eu admito que a arquitetura dessa casa milenar me causa arrepios. Estou com um projeto de demolir tudo e começar do zero, assim que as finanças se equilibrarem novamente.

Eu não estava mais com fome, mal mexi na comida, mas o seu comentário me atingiu de tal forma, que eu segurei o garfo com força.

- A casa é linda, eu gosto daqui. O senhor Varez também gosta, acho que é uma questão de amar aquilo que a família construiu por anos e não se desfazer de uma forma tão cruel. Conheço um pouco da história da sua família e sei que esse lugar foi construído com amor.

- Eu entendo moça, mas eu realmente não gosto daqui e não quero trazer o meu herdeiro nos fins de semana para ficar em um local tão velho como esse. E se você está falando do senhor Varez sendo o Luan, tenho certeza que ele compartilhava da mesma ideologia que a minha. Só o estranho do Lucas que ainda ama essa mausoléu.

Não havia cabimento alguém querer destruir o presente que o Afonso deu para a Ametista. O pilar construído por gerações se formava através dessas paredes, quantas histórias essa casa já testemunhou? Eu não queria que isso acontecesse. Se antes eu estava com receio de procurar o Lucas, agora era uma questão de necessidade.

- O Luan? - Como uma súbita ideia veio a reflexão do que aquele homem acabara de me dizer.

O homem levantou da mesa e gritou em direção da cozinha para a Inês trazer mais cerveja, ele nos ofereceu, mas o Marcos recusou por nós dois. A paz que eu senti naquela manhã já estava longe de mim, a vontade de começar a gritar na direção daquele homem fazia o meu corpo inteiro tremer em resposta. Mas me contive quando o psicólogo segurou no meu braço e pediu calma.

João Varez abriu a garrafa de cerveja que a Inês trouxe e serviu um copo para a mulher, ela já estava rindo na direção do novo patrão. Revirei os olhos, isso era bem a cara da Inês, ela sempre se rendia a todo mundo. Falava mal, desconfiava, fazia algumas intrigas e depois conversava como melhores amigos. A cena cômica me fez ficar mais calma.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora