CAPÍTULO 57

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LUCAS

Quando eu era criança, talvez por volta dos onze anos, o meu avô contava a história dos seus pais. É inegável que cada Varez tem a sua história preferida, geralmente é aquela que o seu nome está escrito, mas para o meu avô, nem mesmo a história dele com a minha avó superava o conto dos seus pais.

Lembro de sentar no chão de terra batida, bem pertinho do meu avô, quando ele reunia todos os presentes da festa e começava a contar histórias da nossa família. Luan era apenas um bebê, geralmente estava dormindo nesse momento, mas como todos os Varez, ele também tinha que participar.

Eu não imaginava o quanto sentia falta desse momento até eu chegar na Fazenda Ametista naquela noite de confraternização. Não tinha conhecimento da festa até sair da estrada e virar no arco de entrada e não conseguir dirigir pela trilha. Haviam tantos carros estacionados que trancaram a passagem principal. Estacionei a camionete em uma vaga que achei e ajudei a dona Cida descer.

- Seu Lucas, nem nos arrumemo. - Disse a senhora, passando a mão nos cabelos para ajeitar.

- Deixa de muage Cida, não tem nada melho que uma festa pra alegra. - Jairo estava animado, deixando bem claro o quanto gostava daquela situação.

- Desculpa, também fui pego de surpresa. Não sabia que estava tendo uma festa. - Afirmei constrangido.

- Magina menino, só me ajuda a anda aqui no barro, porque se depende do Jairo eu fico aqui prantada como um cajueiro. E marido eu já falo que se eu pega o marido dentro das latinha de cerveja me passando essa vergonha, eu lhe mato.

O senhor baixinho estava bem a nossa frente, realmente a animação para a festa fez a sua perna ruim ficar boa de uma hora para outra e ele quase correu em direção da música alta. A dona Cida segurou no meu braço e eu caminhei lentamente. A mulher era forte, tinha uma força descomunal, perante tudo o que ela passou nos últimos dias. Mas eu sabia que naquele momento, ela estava cansada.

O dia foi exaustivo para mim, imagina para uma senhora que horas atrás estava definhando de fome e delirando de preocupação. A cidade que os pais da Rebecca moram é perto da capital e assim que o seu Jairo chegou em casa, após a esposa ir buscá-lo no trabalho para contar a novidade, decidimos ir até a fazenda no mesmo instante. Eu sabia que a Rebecca não estava bem, precisava vê-la, mesmo que fosse de longe. Seus pais estavam esperançosos em encontrar a filha. Passaram a viagem perguntando sobre como ela estava, o que ela gostava de fazer na fazenda, se ela ajudava com os afazeres da casa, se ela me tratava bem...

Diversas vezes eu segurei uma risada. Eu não conseguia ver a Rebecca dessa forma, como se ela devesse a hospitalidade realizando tarefas domésticas. Longe disso. Se dependesse de mim, ela realizaria todos os sonhos que um dia alcançaram o seu coração e não viveria a sombra de um homem. Mas eu não queria argumentar contra os seus pais, pelo menos não naquele momento. Eles estavam preocupados, cansados e aflitos.

Eu não entendia o motivo da Rebecca não ter pedido para eu entrar em contato com eles durante todos esses meses que ela estava na fazenda. Contudo, se eu a conheço como acho que conheço, provavelmente ela estava insegura de contar sobre a gravidez e com medo de tê-los decepcionado.

Como eu não tinha todas as respostas nas minhas mãos, resolvi ficar quieto diante das mais variadas perguntas que o seu Jairo disparava do banco de trás durante toda a viagem. Mas os pais da Rebecca tinha a mesma curiosidade e faro da filha, então a dona Cida logo chegou à conclusão que a filha estava grávida.

Eu permaneci em silêncio mais uma vez. Entretanto, seu Jairo não estava disposto a deixar esse assunto morrer. Percebi que ele ficou nervoso no banco de trás, diante da conjectura da esposa.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora