1. Curando Feridas ✔️

CAPÍTULO 25

REBECCA

Como saber se aquela etapa da sua vida está chegando ao fim ou se pode estar apenas começando? Os meus dias estavam contatos ao lado dele, menos de 4 meses para ser mais exata, como lidar com o fim? A insegurança e o medo de viver sozinha novamente, fazia a minha mente querer correr o mais distante daqueles pensamentos.

Não podia fugir do fim, pois o fim para mim era o começo para essa criança que crescia aqui dentro. A única ponta de sentimento que eu tinha pelo bebê, era saber que ele seria bem criado e que o Lucas sempre estaria ao seu lado. Não queria que nada acontecesse com essa criança, pois ele foi fruto do amor que tive pelo Luan.

Eu olhava para o Lucas, ele estava sorrindo, cantando alguma música cuja letra eu não conhecia, mas fazia todo o sentindo na sua voz. Ele realmente cantava bem e sabia disso, então a sua expressão de satisfação com a minha descoberta era impagável. Sua postura não era mais tão rígida e séria, ele estava descontraído. Quando os nossos olhares se cruzavam, ele não virava o rosto como antes, agora ele encarava e sorria. Seu cabelo não era mais tão arrumadinho, até tinha fios rebeldes caindo em seu rosto. O seus olhos continuavam perfeitos, como uma joia rara. Ele era lindo, em todos os sentidos.

Eu vivia em uma constante luta entre o passado e o presente, mas sem nenhuma perspectiva de futuro.

O passado era dolorido, as lembranças me machucavam e eu acredito que nunca conseguirei esquecer. Eu era alguém diferente no passado, uma pessoa que conseguia ter sonhos e planos. Ao lado do Luan, planejamos toda uma vida juntos. Eu não temia as consequências, pois não havia nenhuma possibilidade de separação. Apoiávamos as nossas escolhas, por mais que elas parecessem erradas aos olhos de outras pessoas. Eu sabia o quanto ele estava dependente daquilo, e por diversas vezes tentamos parar. Mas é mais fácil falar do que fazer, é mais fácil apontar do que viver naquela situação. Não nos julgue, não éramos maus e agora eu sou boa. Longe disso. Ninguém é mau por ser drogado, ninguém é bom por ser limpo. Não coloque isso em uma balança da vida, pois é irreal esse julgamento.

O presente era marcante, intenso, até seguro. Eu não tinha medo do improvável, pelo menos quando o Lucas estava do meu lado. Mas em poucos momentos que passamos afastados, eu entrava em desespero. Não era só a sua aparência que chamava atenção, mas o seu modo de lidar com a vida. Eu não o via como um empresário rude e prepotente, longe disso. Lucas era gentil, carinhoso, educado, conseguia manter uma boa conversa com qualquer pessoa. Sem se importar com a classe social ou com qualquer diferença. Ele defendia a família, e isso em partes era a sua ruína. Mas quando eu o vi naquela crise, consegui ter ainda mais afeto, pois ele era real. Tinha medos, inseguranças, transtornos, ele estava passando pelo luto como eu e precisava de ajuda. Ele não fugia das consequências, ele encarava cada uma delas de peito aberto, por vezes até aceitava resultados que não foi ele o culpado.

Se eu pudesse escolher entre voltar ao passado ou viver para sempre o presente, escolheria sem nenhuma dúvida: nunca ter tido um passado e congelar o tempo no presente. Se isso fosse possível, garanto que eu seria a mulher mais feliz desse mundo. Mas como isso é uma fantasia, decidi viver intensamente cada momento que ainda temos juntos.

Chegamos em Cuiabá com um trânsito intenso, Lucas disse que a casa dos seus pais ficava na entrada da cidade. Quando chegamos a sua mãe estava esperando na varanda, sentada, fazendo algum bordado.

- Rebecca, eu preciso ir ao escritório, mas volto às 14 horas para te levar à consulta. - Ele colocou a minha mala no corredor, pedindo para alguém que trabalhava lá guardar no quarto de visitas.

- Eu posso ir junto? - Perguntei rapidamente, não queria ficar naquela casa sozinha, ou melhor, com a mãe dele, que não parecia ser tão minha "amiga" como antes.