CAPÍTULO 34

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LUCAS

Quando foi o momento que eu me apaixonei? Não conseguia lembrar de um dia específico, mas sim de pedaços de conversas, de olhares trocados ao acaso, de risadas como uma pura canção.

O amor não deve ser o responsável pela culpa, o amor deve combater qualquer barreira, então qual era o motivo da minha insegurança?

Durante a madrugada, acordei após um intenso sonho com o meu irmão. Eu era condenado por tê-lo traído e as palavras proferidas doeram mais do que qualquer ato físico. Nesse sonho, ele não morria nos meus braços como todos os outros, não era um acidente ou alguma imprudência da sua parte. No sonho o único responsável por sua morte era eu, apunhalando-o de forma covarde enquanto ele estava desprevenido. Tentei esquecer o seu grito, esquecer o sangue nas minhas mãos, mas essa cena não era algo para ser esquecido. A culpa começou a me consumir, poucas horas depois que eu a pedi em casamento.

Talvez toda essa culpa foi responsável por eu ter aceitado de prontidão que Rebecca esperasse no carro na manhã seguinte. Eu não esconderia os meus sentimentos e bem menos a minha decisão, mas queria protegê-la dos ataques que a minha mãe provavelmente faria.

Rebecca esperou no carro, eu só pegaria a sua mochila e me despediria da minha mãe. Mas assim que entrei na sala, Thaís me esperava.

- Lucas, que bom que voltou. Estava preocupada. A sua secretária ligou agora pouco e disse que o presente da Rebecca não ficou pronto a tempo e que mandará mais tarde para a Fazenda. - Sua voz estava calma.

- Obrigado, vamos aguardar.

Pedi para a minha assistente comprar um vestido de festa para a Rebecca. Não especifiquei detalhes, só disse que a única coisa que eu não abriria mão era da cor do vestido, que deveria ser roxo, como uma ametista.

- Bom dia, filho. - Minha mãe chegou na sala e me deu um beijo no rosto, ela também estava calma e isso era um bom sinal. - Não querem ficar para o almoço? Ou pelo menos tomar café da manhã agora?

- Decidimos pegar a estrada logo cedo. Rebecca tem pressa para chegar na fazenda, quer presentear a Maya com um livro e está ansiosa por isso. - Em partes era verdade, a outra parte era o desespero por ficarmos a sós novamente.

- E sobre a reunião do conselho? Você tomou alguma decisão?

- Sim, mãe. Foi bom a senhora perguntar sobre isso e a Thaís estar presente. - Eu olhei fixamente para a advogada, que estava com o olhar petrificado na minha direção. - Thaís, eu nunca quis te magoar e sei o quanto você é uma mulher incrível, encontrará o amor assim como eu encontrei. Não devemos casar por uma imposição, não é correto nem para mim e nem para você. Eu decidi anunciar na Assembleia do conselho dessa noite que eu me casarei com a Rebecca e juntos teremos um filho.

Não esperava uma reação de genuína felicidade, mas também não imaginava que aquela sala se tornaria um quarto do pânico. Thaís começou a chorar e eu nunca a vi tão desesperada. Não sabia o que dizer, como acalmá-la.

- Você está satisfeito com isso, Lucas? - Minha mãe revidou. - Você está destruindo a nossa família. Os conselheiros contarão a todos que a criança não é a sua filha e haverá uma votação, o seu primo será o Senhor Varez.

Dona Rosa afagava os ombros da Thaís, que continuava chorando.

- Eu não estou destruindo nada, só estou fazendo valer a minha vontade.

- Você está enfeitiçado por essa menina. Não percebe isso? - A minha mãe começou a inflar de ira. - Ela destruiu a vida do seu irmão, não se contentou enquanto não o viu morto.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora