LUCAS
- Eu gosto muito de uma história em específico, que aconteceu com um tio mais distante, mas que é inspiradora. - Disse para Rebecca, atraindo a sua atenção.
Não queria pensar sobre a nossa relação, sobre o que estávamos sentindo, sobre o erro que provavelmente eu estava cometendo. Naquele início de tarde, vendo o por do sol, eu só queria viver aquele momento. Como uma experiência que você não quer que chegue ao fim.
Rebecca sorriu e esticou o seu corpo. Estávamos sentados em uma manta, no campo aberto, com terra vermelha sujando os nossos pés, enquanto sentíamos a natureza adentrando a nossa alma. Digo e repito, quantas vezes forem necessárias... aquele estava sendo o melhor dia da minha vida.
- Tendo como base a biblioteca gigante que vocês tem na sede, na certa eu terei que ter umas duas ou três vidas para ler tudo. - Ela disse rindo.
- Você terá muito tempo para isso, e a contar do ritmo que você está com as leituras, acabará antes da bebê entrar na faculdade.
Ela riu, alisando a barriga com carinho. - Conte a história então Senhor Varez, quero que a bebê tenha mais relatos da sua história.
Puxei Rebecca para perto de mim, ela deitou a cabeça no meu colo, enquanto eu deslizava os dedos nos seus cabelos negros. Ela fechou os olhos por um instante, pensei que ela relaxaria, mas logo ela apertou os olhos com raiva e disse: - Lucas, começa logo a história. Não aguento de curiosidade e ansiedade. Quer que a menina nasça agora é?
Seu drama, quer dizer... seu charme... fez eu rir enquanto me deliciava com aquele momento.
- Tudo bem Senhora Varez, a história se passa na década de 70. - Ela alargou o sorriso, não sei dizer se era pela história que acabou de começar, ou se era por ter ouvido pela primeira vez que ela era uma Senhora Varez.
Na década de 70 houve um grande momento de paz na minha família. A economia estava estabilizada e o Senhor Varez na época, conseguia controlar os negócios com maestria. Infelizmente, em poucos anos veríamos um verdadeiro caos acontecer.
Diferente de outros nomes da família, o que chegava a ser quase um escândalo, nasceu um menino Varez com nome de Kassiano. Sua mãe não era do nosso sangue e influenciou no nome do único filho de tal maneira, que disse que se esse não fosse o nome, levaria o menino para longe das terras da família. É claro que era apenas uma ameaça vazia, já que ela nutria um amor muito grande por seu marido. No mesmo dia desse nascimento, apenas meia hora de distância da casa dessa família, nascia Hermélia, cujo nome significava mensageira. O engraçado é que a mãe dela era uma legítima Varez, casada com um carteiro, por isso o nome.
Kassiano e Hermélia cresceram juntos, como primos de terceiro ou quarto grau. Bom, para a nossa família, parente é parente, não importa a distância na árvore genealógica. Os pequenos faziam tudo juntos, estudavam na escola da cidade local, passeavam no parque, corriam para o rio, se aventuravam pendurando em árvores frutíferas. O mundo naquele momento, era um pouco diferente e todo o mau que estava acontecendo, não atingia as crianças Varez.
Em junho de 1970 o Brasil foi tricampeão mundial, e o relato da Hermélia conta que o país estava em festa, mesmo a transmissão sendo preta e branca. Foi exatamente nesse dia, que algo mudou entre Kassiano e Hermélia.
Dois meses antes, Hermélia, adentrando a vida adulta, participou de uma manifestação política na capital. Ninguém sabia até onde esse movimento chegaria, mas ali a menina se estabeleceu em abril e maio. Ela escrevia cartas para Kassiano, seu melhor amigo, criados como irmãos, relatando o que estava vivenciando. Mas o jovem tinha medo do que isso geraria, e sempre aconselhava a amiga a retornar para a cidade em segurança.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...