REBECCA
Lucas aceitou cada pedido que eu fiz, sem nem ao menos questionar. Não houve nenhum diálogo após o meu último pedido, ele apenas levantou da cadeira e voltou para a casa. Não houve um abraço, um carinho ou um beijo de despedida. Da mesma forma que começou, apenas com um olhar, terminou.
Contudo, eu menti. E tinha completa noção disso. Afirmei que não fazíamos bem um ao outro, mas não era completamente verdade. Ele me fez bem, eu que não fiz. No passado eu o feri de diversas formas: me machucando, não tendo controle das minhas ações tempestuosas e vivendo naquele mundo de vícios ao lado do Luan, ocasionando a sua morte prematura. Nesse mesmo passado, o Lucas me fez bem. Ele completou cada lacuna que faltava na minha vida, transmitindo carinho e segurança que eu nunca tive antes.
Antes do fim do dia, foi através da janela do meu quarto que eu vi ele partir. Carregou uma pequena mala até o carro, olhou na direção da casa e entrou na camionete. Não sei se ele me enxergou, mas nessa altura não faria nenhuma diferença. Ele deixou para trás a dona Rosa, quem eu tentava a todo custo evitar, mas nem sempre era possível. Naquela mesma noite, ela me procurou, fui incapaz de negar a conversa, embora estava muito descontente com isso.
- Rebecca, gostaria de ter um minutinho de conversa com você, já que você não deu o prazer da sua companhia no jantar. - Dona Rosa entrou no meu quarto e sentou na poltrona perto da janela, ela estava irredutível e não perguntou se eu também queria aquela conversa.
- Estou um pouco enjoada. - Menti, sem saber realmente o que eu poderia dizer.
- Pensei que já tinham acabados os enjoos, você já está de cinco meses! - Ela afirmou, me deixando confusa, sem saber se era uma constatação que de alguma forma as grávidas parassem de vomitar mais ou menos nesse mês ou se o Lucas havia contato para ela isso.
- Às vezes eu sinto um pouco de enjoo. - Rebati, firme na minha mentira.
Dona Rosa continuou me olhando, eu ajeitei a minha postura na cama e arrumei a manta cobrindo a minha barriga.
- Vamos fazer um esforço para comer menina, pelo bem dessa criança, já que agora você não terá a enfermeira te acompanhando o dia inteiro.
- Daqui a pouco eu vou na cozinha e pego algo para comer. - Respondi, ela pareceu satisfeita.
Por um breve momento, um sorriso se formou nos seus lábios finos. Ela passou a mão nos cabelos, da mesma forma que o Lucas fazia quando queria dizer algo mas não sabia como. No momento seguinte, ela pareceu decidida. Cruzou as pernas e juntou as mãos, sem tirar os olhos dos meus.
- Rebecca, eu sei que você viu o noivado do Lucas e quero conversar francamente com você sobre isso.
A curiosidade bateu como uma onda gigante em cima de mim, mordi o lábio, tentando controlar a ansiedade. O que será que ela tinha para dizer sobre isso? Será que foi um plano dela com a Thaís? O Lucas não parecia muito feliz naquele momento...
- O que eu falar agora, não fará muito sentido. Mas quando a sua filha nascer, você vai compreender totalmente.
Dona Rosa recebeu toda a minha atenção, enquanto ela falava, a sua voz se tornava cada vez mais trêmula e a emoção tomou conta dos seus olhos, transparecendo todo o sentimento daquela conversa:
- Um tempinho atrás tivemos uma conversa e eu falei sobre a diferença entre os meus dois filhos. Sabe Rebecca, essas diferenças sempre foram muito acentuadas e pioraram no decorrer dos anos. Sei que cada um tem a sua personalidade, mas no caso deles... é como se eles fossem opostos.
Eu concordei com a sua colocação, realmente eles pareciam o sol e a lua.
- O engraçado é que a única coisa que eles tiveram em comum foi se apaixonar por você.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...