CAPÍTULO 65

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LUCAS

- A maior curiosidade da minha vida era saber todos os podres que cerca a nossa família, mas a minha imaginação não conseguia alcançar tanta merda. - João Varez disse rindo, jogando a cabeça para trás na poltrona, sem conseguir controlar as suas reações.

Estávamos no escritório, apenas nós dois, no momento mais íntimo da cerimônia, onde o antigo senhor Varez passaria os segredos da família para o seu sucessor. A reação do João era até esperada para a sua personalidade, bem diferente de como eu agi quando tive acesso a todas essas informações.

Quando eu assumi a liderança da nossa família, não tive um senhor Varez para repassar tais conhecimentos. Eu precisei reunir o conselho e conversar com eles sobre tais "segredos". Meu pai estava inconsciente no hospital, sem nenhuma esperança de recuperar a vida antiga. O conselho se reuniu, em caráter excepcional e repassou o tipo de informação que apenas os três conselheiros e o senhor Varez poderia ter.

Preciso ser sincero, senti muita repulsa em saber do que a minha família foi capaz de fazer pelo poder, pelo ouro, pelo dinheiro. Contrariando os contos mais românticos e fantasiosos já escritos, não passávamos de crápulas tentando nos sobressair aos demais. Eu fazia parte desse núcleo, nasci com esse sangue, que carregava tanta culpa. Não tinha o que ser feito, pelo menos não naquele primeiro momento. Não sentiria falta de ter o peso da responsabilidade Varez nas minhas costas. E agora, quase destituído do meu poder, poderia tentar remediar tantos erros do passado.

- Não é motivo para rir. Fizemos atrocidades no passado... - Iniciei o meu discurso, servindo um copo de água gelada e colocando o jarro de vidro de volta à mesa central de madeira.

- Eu não fiz nada, nem você. - João sobressaiu a minha fala, arqueando as sobrancelhas e congelando um sorriso.

- Carregamos o sangue Varez, somos responsáveis pelos erros do passado assim como aqueles que os cometeram. Como um senhor Varez, peço que você faça os julgamentos corretos a respeito de um equilíbrio na família. - Rebati.

- O que você quer dizer com isso, Lucas? - O sorriso cínico desapareceu do rosto do meu primo, uma ruga de preocupação na testa tomou forma.

- Eu já deixei bem claro a minha posição, quero viver a minha vida e não ser mais o líder dessa família. A partir do dia de hoje, eu só tenho compromisso com os meus pais, a Rebecca e a nossa filha. Porém, quero tentar remediar os erros do passado com a sua ajuda.

- Ah Lucas, por Deus. - João levantou, serviu mais uma dose de whisky e virou o copo. - Como você acha que eu vou contar para a tia Tereza que a Sabrina é a filha biológica do tio Cláudio com uma prostituta e que ela criou a menina até hoje sem saber dessa merda toda? Como eu vou entregar todo o dinheiro para a construção das casas da vila que o Edgar explodiu em uma brincadeira de adolescente na década de setenta? Ou avisar para a tia Amarilda que o seu primogênito, filho do seu primeiro casamento, era realmente inocente e quem cometeu o crime foi o caçula Varez? Porra, o irmão morreu na prisão e ele não fez nada de errado. Nossa família protege o seu sangue, vamos continuar com essa missão. Simples assim!

Eu não me importava com a sua ordem mesquinha. Levantei e fui até a janela, olhando a movimentação dos nossos familiares adentrando a sede. Tentei ser cortês e fingir que o meu primo tinha alguma escolha, mas não havia mais tempo para enrolação.

- Você não está entendendo João Varez. - Disse com a voz baixa. Meu pai me ensinou que quando precisamos mostrar a nossa força, devemos fazer através das palavras bem ditas e não de uma gritaria que resultaria em violência sem sentido. - Como o meu último ato, exijo que as minhas ordens sejam atendidas. Do contrário, nosso contrato não terá nenhum valor e eu continuarei sendo o senhor Varez, legítimo, de sangue sucessor.

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