CAPÍTULO 26

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LUCAS

Estava inquieto, batendo o pé no chão em uma ansiedade incontrolável. Levantei na sala de espera pelo menos três vezes, bebendo água com lentidão em uma delas, e nas duas seguintes para buscar o café que ficava ao lado da secretária. O consultório era pequeno, quase claustrofóbico. Mas havia um jardim de inverno que chamava a atenção de todos na clínica. Apenas flores em tons de cor de rosa, de diversas espécies, e uma caída d'água em pedras. Era relaxante olhar aquela vista e eu resolvi mudar de lugar, sentar mais próximo.

Rebecca me acompanhou, sem nem questionar o motivo. Enquanto eu estava nervoso, ansioso e temeroso, a menina estava calma e serena.

- Para quando é o bebê? - Perguntou uma mulher do meu lado, ela alisava a barriga (mal dava para notar que estava grávida), não havia nenhum "calombo" redondo como tinha na da Rebecca.

- Acreditamos que será em meados de novembro. - Respondi por educação, já que Rebecca não estava situada na conversa.

- Bem pertinho já. O nosso descobrimos na semana passada. - Ela continuou sorrindo em nossa direção, parecia que ela queria alguma resposta para uma pergunta não feita.

- Parabéns. - Era a palavra exata, ela sorriu ainda mais e o homem ao seu lado também agradeceu.

Poucos minutos depois a Rebecca foi chamada. Eu não sabia se eu a acompanhava ou era melhor continuar na sala de espera. Na realidade, até hoje eu não tinha visto nenhum exame. Não parecia certo invadir a sua privacidade dessa forma, por isso continuei sentado, até sentir ela me puxar da cadeira e praticamente me arrastar para dentro do consultório.

- O papai está com medo? - Perguntou a médica que tinha uma simpatia contagiante.

Não a corrigimos. Eu não disse nada porque era complicado explicar toda a situação para alguém que só veríamos uma vez ou duas na vida. A Rebecca não disse nada pois ainda estava mergulhando naquela piscina de suco de maracujá que ela nadava desde a leitura do livro hoje mais cedo.

- A mamãe pode ir no banheiro e tirar toda a roupa, fica apenas com essa camisola. O papai pode sentar nessa cadeira que tem uma visão perfeita para a tela. Logo, logo verá o seu bebezinho aí.

Fiz o que a médica ordenou e tentei ficar quieto enquanto esperava a Rebecca voltar do banheiro. A porta abriu e ela saiu desajeitada, tentando segurar a camisola mal amarrada. Eu ajudei ela deitar na maca e cobri as suas pernas com um lençol disponível.

- O doutor João me atualizou sobre a situação do filho de vocês e como foi a sua gestação até hoje. Eu sei sobre cada detalhe, inclusive sobre a dependência química. Você ainda está usando algum entorpecente ou bebida alcoólica?

Rebecca negou imediatamente.

- Ótimo. Então vamos ouvir o coraçãozinho desse bebê.

A médica pediu para Rebecca levantar a camisola e deixou a sua barriga exposta. Por baixo de tanta roupa, eu não percebi o crescimento acelerado. A barriguinha estava pontuda e com o formato de gestante, não era apenas um pequeno "calombinho" como antes.

Após passar o gel, a doutora iniciou o exame que parecia durar uma eternidade. O aparelho caminhava na barriga da Rebecca, indo e vindo, parando em algum ponto, medindo alguma coisa e em seguida voltava a deslizar novamente.

- Calma papai, sei que está ansioso. Vou colocar som para você ouvir o coração enquanto eu continuo o exame.

Foi nesse momento que aconteceu, o som improvável, uma batida rítmica alta. Não houve e nunca haveria um som como esse, que fazia o meu coração tentar acompanhar a mesma batida.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora