CAPÍTULO 60

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REBECCA

Sentei na beirada da cama, enquanto ouvia os gritos de protesto da Thaís no meu banheiro. João Varez segurava ela embaixo da água gelada, enquanto tentava esfregar o barro grudado nas suas pernas.

- Eu não sou obrigado a passar por isso! - Ele relutava, deixando bem claro a sua insatisfação. - Fica quieta Thaís, vamos terminar logo. Eu tenho compromisso, não preciso ficar aqui dando banho em uma maluca!

Pelo visto o seu julgamento não foi bem aceito pela advogada, logo após a sua fala infeliz, vi o homem sair do banheiro molhado e resmungando.

- Rebecca, se vira! - João Varez passou a mão no rosto, tentando secar. - Eu tentei ajudar, mas ela não colabora.

Continuei sentada na cama. Estava com os pés inchados, estiquei as pernas no ar enquanto tentava explicar na minha imagem o motivo que eu não podia ajudar a dar banho na Thaís.

- Droga! - João bateu o pé no chão, como se iniciasse uma birra infantil, mas decidiu voltar ao banheiro. - Eu vou tentar pela última vez Thaís, para de me molhar, traste!

A gritaria no banheiro continuou. Queria prestar atenção naquela briga, mas o meu coração estava apertado, sentia dificuldade em respirar, olhei para o teto enquanto tentava controlar as minhas memórias. O Lucas não gostou do nosso livro. Nem se quer quis ler a nossa história. Não era uma mágoa superficial, não era uma chateação sem motivo. Era uma dor forte, algo que provavelmente marcaria a minha vida.

- Está ouvindo Rebecca? A Thaís está limpa, deixei ela deitada no box. - João secava os braços com uma toalha azulada. - Está tudo bem? Sente dor? - Questionou, me olhando sério.

- Estou bem. - Menti, enquanto tentava voltar à realidade. - Tira ela do banheiro e traga ela para a cama. A Inês está trazendo as roupas dela. O doutor João vai examinar, já deve estar chegando. - Levantei da cama e puxei a coberta, dando espaço para ele colocar a Thaís.

- O que aconteceu? Você está pálida, sem nenhuma cor, mais branca que essa parede. Se você contar, eu busco a Thaís e coloco aí, como você quer. Mas se não contar, ela vai passar o dia abraçada com o rejunte do banheiro.

- Você é muito curioso. - Rebati. Era uma parte dele muito parecida com o Luan. - Você acha que precisamos escrever toda a verdade naqueles livros de família? Digo, você acredita que todas as histórias escritas ocorreram exatamente como é exposto?

Escrevi toda a verdade sobre a minha história com o Lucas. Expliquei os meus erros, o meu relacionamento com o Luan, a morte dele, o vício, a descoberta da gravidez, a nossa vinda para a fazenda... o momento que nos apaixonamos. Mas os livros Varez eram relatos eternos, eu não queria que a minha filha ficasse exposta dessa forma. A família acreditava que a minha filha é do Lucas, e eu queria que essa história permanecesse. Se um dia ela quisesse expor, será direito dela e não meu. Estava decidida a apagar parte da história e reescrever uma mentira, apenas para proteger a minha menina, e para ela eu contaria toda a verdade.

João deu uma risada alta.

- Desculpa Rebecca, acho que você realmente gosta dessa loucura da família Varez. Mas não vai acreditando em tudo o que lê. Ou você acha mesmo que a minha mãe escreveu que era amante do meu pai por mais de cinco anos e que engravidou de mim apenas para forçar ele se casar com ela?

Abri a boca com a surpresa.

- A vida não é um conto de fadas perfeito. Mas é muito boa, temos que aproveitar o máximo. Esse era o lema do meu primo Luan. Ah, como eu sinto falta desse moleque.

Encarei o chão e apertei os olhos. Tudo o que eu não queria nesse momento era lembrar do Luan. João Varez cumpriu o que disse, trouxe a Thaís enrolada em uma toalha e colocou na minha cama.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora