REBECCA
As pessoas julgam o comportamento de um usuário como algo muito simples. Eu digo que nada na vida é tão simples. Para uns, o simples ato de atentar contra a própria vida é repulsivo, para outros é uma forma de solução. Vivemos em um mundo carregado de escolhas e geralmente são elas que ditarão as regras da nossa vida. Infelizmente, nem sempre eu escolhi o melhor caminho.
Como eu já expliquei, a vida não é simples. Não é uma escolha como entrar na porta "a" (que seria uma vida sem vício) ou na porta "b" (regada de cocaína). Foi muito além disso. Mais complexo, mais delicado. Aquele primeiro passo parecia ser inofensivo. Mas foi graças a essa escolha que eu estava aqui, nesse exato momento, antes cuidada e agora abandonada pela única pessoa que me tratou com valor nessa minha vida.
Encostada na porta do escritório, cansada de chutar e socar em vão, tentando derrubar a única barreira entre eu e o livro da Diana, chorava de arrependimento. Havia necessidade, havia urgência, eu precisava alcançá-lo e ler sobre a mulher que desafiou a própria família e embarcou sozinha para o sul do país. Eu queria saber o que aconteceu com ela e principalmente como foi esse retorno à Fazenda Ametista.
Ler aqueles livros era como um remédio de alto controle que o meu corpo ansiava. Eu estava dependente daquela leitura, deixando de lado qualquer outro problema.
Era simples o meu raciocínio: os livros me davam a oportunidade de sonhar e viver uma vida que nunca seria a minha. Dava assas a minha imaginação que aguçava docemente com a fantasia de ter um amor eterno, uma família amorosa, uma vida saudável... mas tudo isso estava distante de mim.
A minha realidade estava nas pernas arroxeadas de tanto chutar a porta do escritório. Das unhas lascadas, com a ponta dos dedos sangrando de tanto bater a mão na maçaneta de ferro antigo. Da dor de cabeça latejando na minha cabeça... do meu rosto vermelho da pura histeria.
O fato real era a dor que eu estava provocando no meu próprio corpo, para tentar tirar a dor da alma que eu sentia. Qual era o motivo disso? O luto pela perda do meu amor? A verdade dita na gritaria que eu nunca teria uma família? Ou o tapa abafado no rosto da única pessoa que cuidou de mim?... "ele ainda me tratava como um ser humano"... mas depois desse dia... o que eu seria para ele?
- Menina, presta atenção em mim. A dona Rosa está chegando, você não pode contar nada disso que me contou para ela, e nem para o senhor Lucas. Entendeu? - Inês ajoelhou no chão, na minha frente, prendeu as mãos dela nas minhas. Os seus olhos em um tom de mel estavam ligeiros, nervosos, eu conseguia enxergar medo.
Balancei a cabeça concordando e tentando acalmar o meu corpo.
Eu despejei a verdade que nem eu acreditava, mas era a verdade. A essência dos fatos que realmente aconteceram no passado, quando a minha vida se resumia em deitar nos braços do Luan e assistir um filme antigo. De consumir o erro e viver na nuvem da alegria proporcionada momentaneamente.
A senhora soltou um suspiro longo e se levantou, me puxando junto de si.
- A Carminda está atualizando a dona Rosa sobre o que aconteceu, já que ela já chegou perguntando do Lucas e infelizmente vimos tudo. - Inês me olhou com receio. - Eu sei que todos cometemos erros, mas nenhum erro seu é maior do que essa história que você me contou sair daqui. Essa família não sobreviveria a tudo isso. E pare de bater nessa porta, você não tem força nenhuma para derrubar essa madeira pesada do cão! Apenas pare, não piore as coisas!
Eu estava com medo dos meus atos. Concordei com tudo que Inês dizia, ela era muito experiente e conhecia essa família melhor do que ninguém. Fui deixada naquela corredor, pois me neguei sair de perto do escritório.
VOCÊ ESTÁ LENDO
1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...