CAPÍTULO 63

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REBECCA

- Maya, você conseguiu? - Falei baixinho, chamando a atenção da menina que tinha os olhos arregalados. Ela balançou a cabeça negando. - Então tenta mais uma vez, ele deixa sempre naquela mesa lá do quarto dele. Vai lá e pega essa chave.

Desde ontem eu e Maya estávamos em uma missão frenética para fazer o nosso plano dar certo. Precisávamos da chave do carro de qualquer pessoa, apenas para conseguir chegar no garimpo. Não havia nenhuma forma de irmos a pé, parece que é muito longe e o caminho e muito acidentado.

Não consegui dormir de noite, estava ansiosa. Não queria falar por muito tempo com o Lucas pelo celular, tive medo de contar o meu plano e ser barrada. Ele nunca entenderia como eu precisava que aquela verdade viesse a tona antes da minha filha nascer. Eu fiz esse compromisso com a descendência da Francisca, a sua história ganharia o desfecho necessário e eu não descansaria até isso acontecer.

A tese de ter algo nos esconderijos no garimpo, onde Francisca e Antônio cresceram brincando, ganhava mais vida a medida que os dias passaram. Conversei muito com a Carminda, o pai da Maya, até mesmo com a dona Rosa. Engraçado que a família Varez desconhecia essa lenda urbana da Francisca ser um fantasminha que assombra a caverna. Apenas os descendentes dela repassaram esse conto. Esse fato deixou escancarado de como a família Varez acreditava que Francisca era uma ladra, que roubou a pedra ametista e foi embora da fazenda, levando todo o amor dos Varez junto com ela.

A verdade precisava ganhar luz.

Ezequiel nos buscou logo cedo, falando que o Lucas mandou mensagem dizendo que já estava chegando. Cheguei a questionar o gerente, dizendo que ele tinha falado que só chegaria para o almoço.

- Ele mandou mensagem tem duas horas, falando que estava saindo da capital. - Ezequiel rebateu, ajudando a minha mãe entrar no carro.

Fiz o caminho da cabana até a fazenda em silêncio, tentando recalcular os planos para estes não serem frustrados. Mas assim que nos aproximamos da sede, percebi que o meu sumiço por alguns minutos mal seria percebido. A casa estava lotada de pessoas. Havia o cerimonial, banda, pessoas tentando deixar a casa pronta para a maior cerimonia da família Varez: a passagem da liderança.

Minha mãe decidiu ficar na cozinha com a Carminda, que nesse dia estava de folga, apenas vendo o buffet finalizar o almoço. Eu menti que ficaria no meu antigo quarto, descansando, mas na verdade eu precisei andar a sede inteira até achar a Maya.

A menina estava conversando com um menino na sala principal. Ele parecia um colega da escola, quando me viu, saiu correndo.

- Eu sei que estou enorme como um monstro, mas não chego a assustar! - Disse sentida, geralmente as crianças gostavam de mim.

Maya deu uma risada envergonhada.

- Não é isso Becca. É que ele disse que queria ser o meu namorado. - Ela respondeu com um sorriso enorme.

Pensei em começar o discurso sobre ela ter apenas doze anos, mas ela sabia como me enrolar. Tomou a iniciativa de dizer que sabia que era apenas uma criança e que não era o momento de ter namoradinho. A menina é muito esperta.

Pouco tempo depois, Lucas chegou. Eu percebi que o carro mais fácil de conseguir a chave era dele, já que ela sempre ficava na cômoda do seu quarto.

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