LUCAS
Subi na caçamba da camionete e empurrei o rádio o mais alto que eu consegui, ainda assim não havia uma resposta da Rebecca. Era a terceira vez que eu tentava entrar em contato, imaginei que havia uma falta de sinal, mas mesmo com a baixa frequência naquele ponto da fazenda, ainda era possível um contato. Comecei a imaginar mil situações na minha cabeça e uma me deixava mais desconfortável que a outra. Tentei ser racional, mas a preocupação começou a atingir o meu trabalho.
- Patrão, como o senhor deseja? - Alguém me perguntou, indicando um ponto da mineração. Eu não sabia do que ele estava falando. Passei a mão nos cabelos, como sempre fazia quando algo estava saindo do meu controle.
- O senhor Varez quer a escavação no ponto 93, nem mais e nem menos. - Explicou Ezequiel, o gerente do garimpo e meu braço direito.
Precisei muito da sua ajuda quando assumi a fazenda e o garimpo após o acidente do meu pai. Tantos anos depois eu ainda precisava dele para cuidar de cada detalhe.
- Temos duas pá carregadeiras paradas, não sabemos qual é o defeito, precisamos do técnico. - Respondeu o operário chefe.
- Chame quem for preciso, eu estarei na sede. Qualquer coisa me procurem lá. - Disse me despedindo, vi de relance que Ezequiel apressou os passos para me alcançar antes que eu entrasse no carro.
- Lucas, você ficou pouco tempo aqui na parte oeste. O garimpo precisa da sua supervisão. - Ele disse desaprovando a minha atitude de ir embora no meio da manhã.
- Sei que passei muitos dias longe, mas você deve compreender o motivo.
- Entendemos muito bem e solidarizamos com a sua dor. Sentimos também a perda do Luan. Mas estamos sobrecarregados. Temos funcionários afastados com dengue.
- Ezequiel, faça o relatório do que vocês precisam e envia à sede até o fim da tarde. Vou analisar e amanhã cedo estarei aqui novamente. - Finalizei o assunto, checando novamente se o rádio estava funcionando.
- Está preocupado com a mulher? - Ele rebateu, ainda segurando a porta do carro.
- Ela parece mais uma criança irresponsável do que uma mulher. Mas respondendo a sua pergunta, eu estou preocupado com o meu sobrinho. A partir do momento que ele nascer, eu nunca mais serei obrigado a olhar para a Rebecca novamente.
- Não é da sua personalidade odiar alguém.
- Ela levou o meu irmão para as drogas e isso ocasionou a sua morte. Não tem como eu não odiá-la. - Entrei no carro e dei partida.
- O senhor tem razão. Mas mesmo assim não é da sua personalidade. - Ezequiel concluiu, ele se afastou da camionete e eu dirigi rumo a sede.
'
Por fora eu estava irritado com a atitude imatura em não responder o rádio; por dentro eu estava agradecido por ter sido apenas uma atitude imatura e não algo mais sério. Entrei no meu quarto, logo após o almoço, risquei a planilha com o remédio que eu havia acabado de entregar para Rebecca e resolvi tomar um banho, antes de iniciar o trabalho no escritório.
Em um momento de devaneio, sentei na beirada da cama, enxuguei o cabelo e comecei a falar sozinho em um ritual de desabafo solitário. Luan me deu muita dor de cabeça, tanto trabalho com as suas atitudes egoístas, mas ele conseguiu atingir o ápice deixando toda essa responsabilidade para eu assumir. Mesmo com tantos problemas na empresa, com a saúde do meu pai, as preocupações que a Rebecca e o seu vício me causava, o medo de a qualquer momento ela sofrer um aborto, a pior parte ainda era não ter o meu irmão aqui comigo.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...