CAPÍTULO 28

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REBECCA

O meu instinto gritava para eu me manter calada, mas cada pedaço do meu corpo queria lutar contra. Estávamos no carro, o caminho parecia familiar, comecei a tentar lembrar se era o mesmo que fizemos mais cedo a caminho do escritório. Após alguns minutos eu percebi que era exatamente para lá que estávamos indo.

- Eu moro aqui. - Lucas respondeu a pergunta silenciosa, estacionando na mesma garagem. Eu não estava pronta para sair dali, continuei paralisada mesmo após ele desligar o carro. - Rebecca, eu preciso que você me ouça...

- O que você pensa que está fazendo? Vai se casar com aquela mulher? Vai entregar a minha filha para ela criar? Não foi esse o combinado que eu fiz com a sua mãe! Por que você está fazendo isso comigo, Lucas? É a forma que você encontrou para se vingar de mim?

A cada frase a minha voz se exaltava mais, talvez a última tornou-se incompreensível. Lucas ficou quieto, o silêncio me deixava ainda mais descontrolada. Coloquei as mãos no rosto e gritei em meio à soluços.

- Rebecca pelo amor de Deus... - Ouvi ele retirar o cinto de segurança e me puxar para perto. Eu queria me distanciar, mas não fiz, não tinha forças para sair do seus braços. - Eu não consigo te ver assim, por favor não chora. Eu vou te explicar tudo.

- Acho que não tem nenhuma explicação, eu ouvi claramente os seus planos. - Tentei secar o rosto, mas a minha camisola estava encharcada com a água da chuva.

- Não são os meus planos. Contudo, são os meus erros. Vamos entrar, tomar um banho quente e colocar uma roupa seca. Deixa eu cuidar de você!

A minha mente não conseguia formular uma conclusão para aquela situação. Eu me sentia traída, exposta e esculachada, mesmo sem saber o real motivo desses sentimentos. Não queria que esse bebê fosse criado com os preceitos que a Thaís transmitia. Comecei a temer o próprio destino dessa menina, que na certa seria obrigada a fazer coisas que não queria, apenas para manter a imagem da família. Não sei se esses pensamentos tem lógica ou se é apenas um medo infundado, mas eu não estava disposta a colocar a felicidade da minha filha em risco.

Aceitei toda a ajuda que o Lucas me ofereceu naquele momento. Ele me tirou do perigo iminente, mas será que protegeria a própria sobrinha do perigo duradouro? Será que haveria alguma forma de fazer um pedido tão pessoal como este que estava se formando no mais íntimo pensamento? Como pedir para o Lucas se afastar da Thaís? Como tentar explicar que eu não me sentia bem ao lado dela e que ele merecia alguém que o amasse e o fizesse feliz e não uma mulher que só queria aproveitar do seu nome?

Um dia eu precisei confiar nele, pois eu só tinha ele do meu lado. Ele cuidou de mim no momento que eu não tinha mais ninguém. Me respeitou e me amparou, me ajudou e me aconselhou. Não havia ninguém no mundo como o Lucas Varez, e eu não poderia permitir que o seu coração fosse despedaçado. Eu precisava alertá-lo de como era a Thaís, talvez ele não enxergasse esse lado mesquinho e insensível, ou apenas ignorasse esse fato. Seja como for, eu precisava ao menos tentar.

Lucas digitou algum código no elevador e depois de um tempinho a porta abriu para um apartamento. Eu nunca tinha visto esse conceito de imóvel na vida, mas esse lugar era muito parecido com ele. Móveis de madeira escura, estofados negros, iluminação rústica, mas aquele toque especial que havia em cada pedaço da sua fazenda, muitas flores traçando um colorido especial e aconchegante.

- Venha comigo.

Segui os seus passos pela casa, ele acendia as luzes para iluminar mais o ambiente e puxou a enorme cortina da sala de estar, revelando uma parede de vidro que moldurava a enorme vista da cidade de Cuiabá. Olhei de longe, incapaz de chegar perto com medo da altura. O céu estava coberto por uma pesada nuvem arroxeada, a chuva ainda estava intensa, mas não havia mais barulhos de trovões. Vários pontinhos de iluminação da cidade clareava a imensidão da penumbra.

Lucas puxou uma porta de correr em uma ponta da sala de estar, revelando um quarto grande e minimalista. A decoração rústica e escura da casa seguia para este cômodo, assim como as plantas e flores coloridas na sacada.

- Vou pegar uma toalha e uma roupa quente. Tome banho nesse banheiro do quarto, tem banheira e sais de banho. Sei que parece irrelevante nesse momento, mas acredito que vai fazer bem para você e o bebê.

O meu corpo estava gelado, sentia os meus braços frios e os dedos dos pés congelando, um banho morno de banheira era como um presente nesse momento. Fiquei esperando ele me entregar o que achou necessário e depois mostrou o banheiro.

- Nessa gaveta tem escova de dentes nova, tem também sabonete fechado e qualquer item de higiene que você precisar.

Lucas abriu a torneira da banheira e sentou na escada de madeira, esperando a água ficar com a temperatura que ele julgou apropriada. O jato de água morna começou a deixar todo o cômodo quentinho. Ele abriu uma caixinha que estava próxima e jogou alguma "coisa", fazendo a água ficar com um aroma de flores.

- Eu vou tomar banho no banheiro de visitas. Não tranque a porta. - O seu recado era claro, mas eu não tentaria nada contra a minha vida, não mais.

Ele fechou a porta e eu pude retirar a camisola de algodão, que estava grudada na minha pele ainda molhada. Desliguei a torneira e entrei com cuidado na banheira. O meu corpo agradecia aquele abraço morno da água perfumada. Por mim eu ficaria ali por dias, até me imaginava morando naquela banheira quentinha.

Passei o sabonete na minha barriga pontuda, fazendo a curva da ondinha que havia nela. Sussurrei em meio ao carinho: "eu acabei com as chances do meu futuro, não vou deixar que ninguém faça isso com o seu". Como se aquela bolinha no meu ventre pudesse compreender o que eu dizia, respondeu mexendo suavemente, ou dando algum "chutinho". Eu já tinha percebido ela mexer antes, mas foi diferente naquele momento.

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Olá meus queridos, tudo bem?

Decidi postar mais esse capítulo hoje, como um carinho especial para vcs que estão acompanhando Curando Feridas com todo amor.

Amanhã teremos mais.

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