CAPÍTULO 15

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LUCAS

- Eu acredito que o seu método não é o mais adequado! - Afirmei, tentando controlar o meu próprio instinto de retirá-lo daquele quarto.

- Senhor Varez, sei que é difícil ver quem se ama nessa situação, mas afirmo que estou fazendo o correto. Sou especialista em dependentes químicos e/ou alcóolicos. - Rebateu o psicólogo, ajeitando o óculo de grau enquanto voltava a sua atenção à Rebecca, que já soluçava em prantos.

Queria dizer algo básico como: eu não a amava, nem por isso eu queria vê-la sofrer. Mas achei essa frase muito infantil. Contive em encostar o meu corpo na parede fria e confiar que aquele homem, que provavelmente tinha a minha idade, sabia o que estava fazendo.

Eu não estava vendo nenhuma melhora no quadro da Rebecca e isso me assustava. Esperava todo o momento qualquer recaída que a mulher teria e que poderia custar a sua vida ou a vida do meu sobrinho. Então eu não conseguia mais dormir. Passava as noites acordado, sentado na poltrona ao lado da sua cama, observando ela dormir, sempre com o corpo inquieto, agitado com algum pesadelo. Eu entendia essa situação, também sonhava muito com a morte do Luan. Então era automático eu me aproximar da cama e tentar acordá-la com calma dizendo que era apenas um sonho. Infelizmente a realidade parecia ser ainda pior do que o pesadelo.

Vivíamos nessa constante luta a mais de três semanas. Minha mãe conseguiu nos visitar algumas vezes e até trouxe o meu pai uma vez. Dona Rosa tentava conversar com Rebecca, dizendo frases positivas, mas que parecia não surtir nenhum efeito na garota. Já o meu pai, estava cada dia mais irritado, a falta de memória somada com uma demência precoce não o permitia viver adequadamente. Tentei acalmar os meus próprios ânimos, passeando com ele no jardim. Contudo, ele não reconhecia o lugar e nem a mim, em poucos minutos começou a falar sobre o seu pai e chorou como um menino.

Depois daquele dia, percebendo o quanto eu estava abalado, minha mãe decidiu que não levaria o meu pai na Fazenda Ametista até a Rebecca dar a luz. Pensei em argumentar contra, mas sabia que ela estava certa, eu realmente não conseguia lidar com nenhuma outra situação no momento.

- Seria bom se você também fizesse. - Disse Marcos, chamando a minha atenção.

- Desculpa, não entendi. - Fui sincero, mal via a cena na minha frente, estava perdido em pensamentos.

O psicólogo estava sentado na poltrona, conversando com a Rebecca e direcionou a sua sessão a mim, ali parado, apenas observando.

- Eu disse que seria bom se você também fizesse terapia. É visível, senhor Varez, a necessidade de se abrir no momento do luto. Não guarde para si todo esse sentimento e essa angústia...

Não estava disposto a ouvi-lo, eu sabia o que precisava fazer naquele momento: cuidar da Rebecca e garantir que o meu sobrinho nasça. Para não prolongar mais aquela conversa, concordei com o que ele dizia, mas que na certa eu não faria. Ele pareceu entender que o assunto morreria ali. Rebecca me olhava, talvez procurando alguma ajuda, quando o psicólogo decidiu voltar a sua atenção a ela.

O seu método era falar sobre o Luan. Eu não entendi isso, pensava que o melhor era falar sobre o futuro, dar alguma perspectiva. Contudo, Marcos pensava e agia diferente. A moça lutou contra nas primeiras sessões, mas eu logo percebi que ela se entregava a conversas soltas sobre o passado ao lado do meu irmão. Quase como se tudo o que ela estivesse passando fosse ocasionado pelo luto. O que não era a verdade.

Queria deixar claro que toda essa situação era o vício falando mais alto. Entretanto o psicólogo não concordava com o meu posicionamento e pedia para eu me manter em silêncio. Rebecca passava a metade da sessão olhando para qualquer ponto no quarto que chamasse mais a sua atenção e a outra metade ela chorava (na parte que ela deveria lembrar de momentos que viveu com Luan). Aquilo parecia uma tortura, mas Marcos dizia que ele estava correto em sua abordagem.

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