CAPÍTULO 7

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LUCAS

- Rebecca abra essa porta, por favor.

Batia insistentemente na porta do quarto preocupado com a situação que tinha acabado de acontecer. Estava muito perdido, mas acreditava que tudo não passava de um delírio provocado pela abstinência. Era a única explicação pela confusão mental de ter me confundido com o meu irmão. Me culpei por não ter tirado a chave da porta antes, era previsível que ela se trancaria e isso era muito ruim para o seu tratamento. Ela precisava conversar, passar o tempo, ficar em contato com as pessoas e não presa em um quarto escuro. Ela também precisava se alimentar, Carminda me informou que ela não mexeu no lanche da tarde, tomou apenas o chá e leu o livro por um longo tempo.

Voltei a sala, desistindo momentaneamente de tentar convencê-la a jantar comigo. Recolhi o livro do chão e alinhei as folhas para não sair da ordem, sentei na poltrona e encarei a pintura da minha família. No primeiro momento foi apenas uma forma de descansar o meu corpo e a minha mente, mas logo em seguida eu fiquei tentando descobrir traços que eu e meu irmão poderíamos ter ao ponto da Rebecca entrar nessa alucinação.

Luan era dez anos mais novo e tinha a personalidade oposta a minha. Contudo eu consegui compreender a Rebecca me olhar daquela forma e me forçar, com as suas mãos, a olhá-la de volta. Nossos olhos eram da mesma cor, uma herança genética dominante. Fiquei perdidos em pensamentos até Inês me chamar para jantar. A acompanhei até a mesa e servi um prato para Rebecca.

- Vou colocar na mesa lateral a porta do seu quarto e avisá-la. Quando ela sentir fome ela poderá comer. - Justifiquei para a pergunta silenciosa no rosto da senhora.

- O senhor é um homem muito bom. - Ela respondeu por fim.

- Não sou bom Inês, só faço isso por minha família.

- Um homem que faz tudo isso pela família é um homem bom. - Rebateu ela.

Fiquei em silêncio enquanto terminava o jantar, até a senhora chamar a minha atenção.

- Lucas, o Juvenal vai me levar amanhã cedo na cidade, para comprar alguns itens para a sede. Precisa de alguma coisa?

- Eu preciso, mas farei uma lista e entrego amanhã cedo.

Terminei a minha refeição e levei o prato de comida, com um paninho cobrindo, até a porta do quarto da Rebecca. Puxei a mesinha que ficava no corredor e coloquei ali o prato. Uma ideia veio a minha mente quando lembrei do livro que havia emprestado para ela. Então eu busquei ele na sala e coloquei embaixo do prato de comida, bati na porta novamente e disse:

- Rebecca, deixei o livro que você estava lendo aqui na mesinha ao lado da porta. Trouxe um prato de comida, por favor tente se alimentar. O meu quarto é esse da frente, quando você sair me avise para eu dar um remédio para sua dor de cabeça.

Falei com a voz calma e esperei por alguma resposta sua, mas não obtive. Então entrei no meu quarto e deixei a porta encostada. Rasguei uma folha de uma agenda velha e anotei uma pequena lista de compra. Coloquei uma pedra como peso de papel e fui tomar um banho. Aquele dia foi tão exaustivo psicologicamente e era apenas o primeiro de vários que passaríamos juntos. Tirei a roupa e joguei no cesto, abri o chuveiro com a ducha fria deixei a água correr. Antes de terminar o banho, ouvi o meu celular tocar.

Ele estava na pia do banheiro, sequei a mão com a toalha disponível e coloquei no viva voz.

- Estou no banho, Thaís. - Alertei dando a entender que ligaria logo em seguida.

"Estou sentindo tanto a sua falta que não me importo de gritar no telefone para ser ouvida" - Disse ela, dando risada logo em seguida.

- Você pode vim me ver quando quiser. - Rebati.

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