CAPÍTULO 39

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REBECCA

Aquela promessa feita na cama, logo após a nossa entrega ao amor, foi completamente em vão. Naquela noite eu não sabia se era real ou um sonho. Mas hoje, as suas palavras estavam reais, pois eu conseguia lembrar de cada vírgula da sua promessa:

Rebecca, eu nunca pensei que sentiria isso por alguém. Não imaginava que eu viveria um amor como os meus antepassados. Case comigo, torne-se a minha esposa. Se você aceitar, escreveremos juntos a nossa história no livro da família, no mesmo dia que nos encontrarmos no altar, eu prometo.

Sua promessa, que naquele instante foi avassaladora, não passou de palavras vazias nos meses que seguiriam. Mas naquele dia eu não sabia, como poderia saber que eu cuidaria do seu coração como se fosse uma joia, mas você esmagaria o meu? Lucas, você não escreveria a nossa história ao meu lado, para ser mais exata, você nem se quer estava disposto a lê-la.

Quando o sol entra pela janela, invadindo o quarto e trazendo um calor confortante, tento alcançar com a mão a sua presença. Ainda de olhos fechados, apalpo o colchão, mas não há nenhum sinal seu. Abro os olhos devagar, me dando conta que não era um pesadelo, aquela era a minha realidade nos últimos dias. Mais uma vez você não estava ali, e eu não sabia onde você estava.

Naquela noite a Inês me confortou, tentou de todas as formas me acalmar e chegou a ligar para o doutor João, pedindo alguma ajuda ou medicamento para me conter. Ela estava inclinada a impedir que eu me ferisse, mas isso nem passava nos meus pensamentos. Eu não queria machucar a minha bebê, de nenhuma forma, então eu gritava, chorava e estava desesperada em todos os sentidos, mas lúcida de não fazer nenhum mal para o meu corpo.

Pensei que era apenas um engano e que você sairia do seu quarto a qualquer instante, que diria que acreditava em minhas palavras e passaríamos aquela noite juntos, tentando esquecer o que passou. Mas você não fez isso, Lucas. Você continuou com a porta trancada e eu fui obrigada a desistir de tentar me explicar. Dormi depois de algumas horas, incapaz de continuar acordada. Foi como um passeio calmo, um sonho tranquilo. Imaginei que quando acordasse aquela noite seria apagada das nossas vidas. Eu nunca imaginei que além desse dia não ser esquecido, ele seria escrito na nossa história.

O dia seguinte foi o pior.

Os demais foram aceitáveis.

A verdade é que quanto mais os dias passavam, mais era normal acordar sem a sua presença.

Despertei muito tarde, esfreguei os olhos e comecei e lembrar da noite passada. Senti um desespero tomar conta do meu corpo, o meu estomago doer, um nó se formando na minha garganta.

- Senhorita Rebecca. - Alguém chamou a minha atenção. Precisei secar o rosto com a manga do pijama para enxerga-la. - Eu sou a enfermeira Joana, estou aqui para cuidar da senhorita como for necessário. Tenho uma experiência de mais de vinte anos com dependentes químicos e trabalhei os últimos dois anos com pacientes depressivos-suicidas. Estou apta a cuidá-la em qualquer situação. Está na hora dos seus medicamentos, em seguida a senhorita tomará banho e vestirá uma roupa confortável. O desjejum será servido no jardim.

A mulher alta e magra, dava comandos na minha direção. Mas eu não conseguia entender as implicações disso. Ela se aproximou, prendeu o cabelo com uma presilha marrom, que combinava com o tom dos fios e puxou a minha coberta.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora