LUCAS
Rebecca estava lá... em cada pensamento e em cada momento. Ela estava presente no amanhecer até o entardecer. Conseguia sentir a sua presença em cada decisão que eu tomava, bem como o cheiro dos seus cabelos no meu travesseiro.
Eu poderia ficar ao seu lado, sentindo a sua respiração, te vendo dormir nos meus braços. Eu poderia fechar os meus olhos e acreditar em suas palavras, como tantas outras vezes eu fiz. Era mais fácil viver no egoísmo das minhas necessidades frente as suas. Mas se assim eu fizesse, estaria sendo conivente com os riscos. Eu poderia me perder nos seus lábios, sentir o desejo do seu corpo, enaltecer a sua beleza e seguir os seus passos. Mas se eu fizesse isso, o seu tratamento estaria ameaçado.
Preenchia as horas do meu dia com o trabalho, tomando para mim todas as responsabilidades novamente. Fiquei a frente do meu posto na família, apenas para te afastar dos meus pensamentos. Durante um tempo isso deu certo, mas quando a noite chegava e o horário comercial finalizava, os seus olhos negros invadiam o meu pensamento. Por diversas vezes fiz o caminho para a fazenda, peguei a estrada durante a noite, durante a madrugada, embaixo de chuva, em um sol de rachar... mas eu retornava antes de chegar nos perímetros da terra.
Precisava me contentar em vê-la nos meus sonhos, mas geralmente ela estava triste, me culpando de tê-la abandonado. Contudo, o meu racional entendia que era o melhor para ela. Todos os dias a enfermeira encaminhava um boletim, descrevendo com detalhes cada minuto do dia da Rebecca. Ela parecia bem, para ser mais sincero, ela estava melhor do que quando eu cuidava dela. Durante essa semana não houve nenhuma crise, ela se alimentou, tomou os medicamentos, aceitou fazer as terapias e os passeios no jardim. Sentia orgulho da sua recuperação e isso só reforçava o quanto eu fracassei com ela no passado e como eu estava certo agora.
Mantinha uma rotina segura, tomando café da manhã com os meus pais e passando o dia inteiro no escritório. Mas essa segurança desabou quando o Conselho solicitou uma reunião de emergência.
- Hoje de noite a Thaís virá aqui, vamos conversar sobre o caso do Alessandro, pois essa pode ser uma das pautas do Conselho. - Afirmei para a minha mãe, enquanto tomávamos o desjejum.
Alessandro era um funcionário do garimpo que sofreu um acidente na escavação. Mesmo prestando socorro e todos os atendimentos necessários, ele estava nos processando. Thaís era a minha advogada e cuidava da parte legal.
- Vamos tentar nos blindar de todos os questionamentos do Conselho. - Informou a minha mãe, entregando o prato com frutas picadas para o meu pai.
Mexi a xícara do café, totalmente inerte aos meus movimentos. Quando resolvi beber, já estava gelado e amargo.
Senti uma angústia apertar o meu peito, com a decisão que eu estava prestes a tomar. Era para o bem dela, eu ainda não podia vê-la. Isso colocaria em risco todo o seu tratamento, apagaria os progressos já feitos. Fechei os olhos, apertei o papel impresso, com o boletim do dia anterior e fiz um pedido para a minha mãe:
- Mãe, pede para e enfermeira levar a Rebecca para a casa do Ezequiel. Diga que ela voltará no domingo de manhã.
Eu não precisei explicar a minha motivação, bem como não informei o motivo que deixei a Rebecca na fazenda e voltei para a capital. Pedi para a minha mãe contratar a enfermeira na mesma noite, no dia seguinte eu a levei até a Ametista. Não queria desabafar sobre os meus sentimentos e bem menos dar mais munição para a minha mãe atacar a Rebecca.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...